Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Eliska Altmann (UFRJ)

Minicurrículo

    Professora associada do Departamento de Sociologia da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS/UFRRJ). Coordena o GRUA – Grupo de Reconhecimento de Universos Artísticos/Audiovisuais: http://www.grua.art.br (CNPq). Organiza a coleção “Cinema em livro: Eduardo Coutinho visto por”, editada pela 7Letras. Tem experiência na área de sociologia da cultura com ênfase em movimentos artísticos, recepção de bens culturais, crítica cinematográfica e América Latina.

Ficha do Trabalho

Título

    Cidade e distopia: filmes brasileiros comparados (anos 1950-60 e 2019)

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    A ideia de distopia é o objeto do trabalho que tem como tarefa identificar imaginários sobre o Rio de Janeiro em análise comparada da recepção de quatro filmes brasileiros realizados nas décadas de 1950 e 1960. Por meio de práticas “crítico-cinematográficas”, que engendram uma leitura sociocrítica, será enfatizada uma lente distópica, própria aos nossos dias, a verificar elos espaço-temporais de uma cidade (e do próprio País) que reprisam certo passado em nova roupagem.

Resumo expandido

    A ideia de distopia é o objeto do trabalho que tem como tarefa identificar imaginários sobre o Rio de Janeiro, enquanto e para além da capital, por meio da crítica cinematográfica. A análise comparada de quatro filmes brasileiros realizados nas décadas de 1950 e 1960 envolve práticas “crítico-cinematográficas” que, com base em uma lente distópica própria aos nossos dias, engendram uma leitura sociocrítica. Esta, por sua vez, pressupõe que elementos sociais se encontram nas (ou dentro das) próprias obras. Contudo, tais elementos serão igualmente verificados como exteriores às mesmas, bem como em sua recepção.
    Assim, se a distopia muitas vezes é tomada como o avesso da utopia, relacionada à falência do humanismo, normalmente associada a um tempo futuro, a um mundo pós-humano-tecnológico, veremos que tal concepção no Brasil e no cinema brasileiro pode ser vista longe de um “por vir”, sendo motor de práticas sociopolíticas a se repetirem sazonalmente. Trata-se, portanto, de um caráter anacrônico a integrar um “futuro passado” atual. Se, como observa Reinhart Koselleck (1993: 333-357), a expectativa experimentada hoje é o futuro tornado presente, este trabalho será atravessado por sentidos de uma experiência expectante. Nesta dimensão, a distopia mostrará sua base não na expectativa futura, mas em sua própria permanência, ou seja, nas estruturas formais da história que são cíclicas, representando o que o historiador alemão denomina por “constantes antropológicas”.
    Noto que a presente pesquisa compreende uma terceira etapa, sob uma nova ótica – distópica –, de duas investigações que têm como tarefa identificar imaginários sobre os processos de capitalidade e descapitalização do Rio de Janeiro. Seu primeiro esboço, apresentado em um congresso na Argentina, em 07 de setembro de 2018, conferiu à comunicação uma importância simbólica nos seguintes aspectos: ela foi discutida na data comemorativa dos 186 anos da independência do Brasil, cinco dias depois do incêndio do Museu Nacional (que destruiu um dos maiores e mais populares acervos históricos e científicos do mundo), e um dia depois de Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da república, sofrer um atentado a faca num evento de campanha. O “capitão” (cujo maior ídolo é um torturador da ditadura militar brasileira, 1964-1985) ganhou as eleições no segundo turno, por meio de voto popular, em 28/10/2018. Tal momento e tais acontecimentos podem parecer amostras do termo “distopia”, a compor o título do trabalho.
    Quanto ao recorte, vale lembrar que a cidade foi capital do Brasil entre 1763 e 1960, deixando de sê-lo e tornando-se Estado da Guanabara, até 1975, na gestão do presidente Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), que deu início à construção do novo Distrito Federal, no primeiro ano de seu mandato.
    Do período aparentemente utópico – anos 1950 e 1960 – serão verificadas críticas aos seguintes filmes da outrora capital e ex-capital: Rio fantasia (1957), de Watson Macedo, e Rio, 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos; Rio, verão & amor (1966) e El Justicero (1967), dos mesmos diretores, consecutivamente. Dos documentos serão ressaltados aspectos distópicos tanto nas obras quanto em suas leituras, bem como nas configurações sociais da época em uma relação temporal com o Brasil de 2019. Assim, considerando que os filmes não são reflexos mecânicos da sociedade, mas modos de experimentação e construção de determinados contextos sociais, a distopia será analisada enquanto 1) anomia; 2) sendo a cidade o seu lócus; e 3) como finalidade civilizatória ou projeto totalitário – no Brasil de ontem e de hoje.

Bibliografia

    ALTMANN, E. O Rio capital imaginado pela crítica cinematográfica: os casos de “Rio fantasia” e “Rio, 40 graus”. Caderno CRH, v. 30, Salvador, 2017, pp.579-596.
    AZEVEDO, A. N. de. “A capitalidade do Rio de Janeiro. Um exercício de reflexão histórica”. En _____ (Ed.) Rio de Janeiro: capital e capitalidade. Rio de Janeiro: Departamento Cultural/ Sr-3 UERJ, 2002.
    CLAEYS, G. (2013). Utopia: a história de uma ideia. São Paulo: Edições SESC SP.
    KOSELLECK, R. Futuro pasado: para una semántica de los tiempos históricos. Barcelona: Paidós, 1993.
    KUMAR, K. Utopia and anti-utopia in modern times. Oxford: Blackwell, 1987.
    MOTTA, M. Rio, cidade-capital. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
    NAGIB, L. A utopia no cinema brasileiro – matrizes, nostalgia, distopias. São Paulo: Cosac Naify, 2006
    NOVAES, A. (Coord). O novo espírito utópico. Série Mutações. São Paulo: Edições SESC, 2016