Ficha do Proponente
Proponente
- NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA (UFF)
Minicurrículo
- Possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade de São Paulo (1994) e mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2006). É doutorando do Programa de pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. É assessor técnico da Vice Direção de Patrimônio Cultural e Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde atua nas áreas do Patrimônio Cultural, da Divulgação Científica e da Produção Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- História e Nova História do Cinema Brasileiro: uma análise comparativa
Resumo
- Tendo como recorte temporal o período do chamado Cinema Silencioso (primórdios até o advento do som), esse trabalho propõe-se a realizar uma análise historiográfica comparativa das obras História do Cinema Brasileiro (1987) e Nova História do Cinema Brasileiro (2018). À luz dos respectivos quadros históricos, o intuito é identificar nos capítulos relativos ao período em foco convergências e divergências no que tange aos objetos, métodos e documentação mobilizados pelo trabalho historiográfico.
Resumo expandido
- Em Panorama da Historiografia do Cinema Brasileiro (2007), Arthur Autran busca realizar uma periodização da historiografia do cinema brasileiro, a partir de uma leitura crítica que visa a identificar as mudanças de perspectiva histórica em função dos objetos, recortes e conceitos utilizados, e dos contextos ideológicos envolvidos.
Sua proposta contempla quatro movimentos na historiografia do cinema brasileiro, sendo o marco fundador de cada período, em geral, definido pela publicação de uma obra relevante. A passagem do primeiro período (proto-historiografia) para o segundo (historiografia clássica) se dá com a publicação de Introdução ao Cinema Brasileiro, de Alex Viany, em 1959. A demarcação do período subsequente (historiografia universitária) não ocorre a partir da publicação de uma pesquisa de relevo, mas da consolidação dos estudos de cinema no meio universitário. O quarto e último período (nova historiografia universitária) é inaugurado com a publicação de Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro, de Jean Claude Bernardet, em 1995, obra seminal em sua crítica aos mitos, periodizações e contextos elaborados pela historiografia clássica.
Desenvolvendo algumas ideias originalmente apresentadas por Bernardet, Autran sintetiza em seu texto o que seriam as principais características da historiografia clássica: caráter panorâmico, narratividade, cronologia e teleologia. Também aponta o que seriam as principais problemáticas desse período: as origens do cinema no Brasil, os ciclos regionais, a derrocada artística da produção com o advento do som, as chanchadas e a tomada de uma “consciência cinematográfica” em prol do desenvolvimento da sétima arte no país.
Reverberando questionamentos colocados por Bernardet em seu ensaio de 1995, Autran põe em relevo o quadro ideológico dominante na historiografia clássica: uma concepção de cinema calcada exclusivamente na produção e ditada por uma sintonia de interesses entre historiadores e cineastas em defesa da sobrevivência do cinema nacional diante da concorrência do filme importado.
Dentro do período nomeado por Autran como historiografia universitária, surge em 1987 a publicação História do Cinema Brasileiro, organizada por Fernão Ramos. Essa obra panorâmica, estruturada em 7 módulos que consomem 454 páginas, reúne trabalhos autorais de pesquisadores egressos do meio acadêmico. O caráter cronológico e narrativo em geral se mantém, os ciclos regionais são reiterados assim como o quadro ideológico do período anterior. Em seu prefácio, o organizador destaca que a leitura da obra facultará ao leitor entrar contato com uma “ideia fixa muito pouco racional” que acompanha toda a sua extensão: “a de fazer cinema no Brasil”. E ainda elege o universo do cinema como “o local onde se depositam fortes paixões e onde a elaboração da imagem em movimento aparece como polo de atração intenso, desafiando as mais diversas condições sociais e econômicas.”
Em 2018, essa publicação é reeditada, agora com o título Nova História do Cinema Brasileiro, em dois volumes, com cerca de 1.040 páginas, organizada por Fernão Ramos e Sheila Schvarzman. Os dois volumes reúnem 25 artigos que incluem participantes da primeira edição e uma nova geração de historiadores que mantém, em sua maioria, vínculos com a universidade. O termo “nova” certamente não surge de forma gratuita, mas demarca influências da chamada New Film History, que, sem negligenciar necessariamente o conteúdo dos filmes, passa também a considerar sua circulação e consumo e investigar o universo cinematográfico como locus privilegiado de interações culturais e sociais.
A partir de uma perspectiva histórica, este trabalho propõe-se a empreender uma análise historiográfica comparativa das duas obras citadas, tendo como horizonte temporal o período do chamado Cinema Silencioso. O objetivo é identificar pontos de similitude e diferença no que tange aos objetos, métodos e documentação utilizados nos capítulos que historicizam o período.
Bibliografia
- AUTRAN, A. Panorama da historiografia do cinema brasileiro. Alceu, Rio de Janeiro, PUC, v. 7, n. 14, jan-jun. 2007.
_______. A noção de “ciclo regional” na historiografia do cinema brasileiro. Alceu. Rio de Janeiro: PUC, v.10, n. 20, jan.-jun. 2010
BERNARDET, J. C. Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro. São Paulo: Annablume, 1995.
MALERBA, J. (Org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.
MALTBY, R. New cinema histories. In: BILTEREYST, D.; MALTBY. R.; MEERS, P. (Orgs.). Explorations in New Cinema History: Approaches and Case Studies. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011.
MUSSER, C. Historiographic Method and the Study of Early Cinema. Cinema Journal, vol. 44, n. 1, 2004
RAMOS, F. (Org.). História do Cinema Brasileiro. São Paulo: Círculo do Livro, 1987.
RAMOS, F. P.; SCHVARZMAN, S. (Orgs). Nova História do Cinema Brasileiro. São Paulo: Edições Sesc, 2018, v.1.