Ficha do Proponente
Proponente
- Helder Thiago Cordeiro Maia (FAPESP)
Minicurrículo
- Bolsista Pós-Doutorado FAPESP em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa na USP. Doutorado em Literatura Comparada pela UFF/2018. Mestrado em Literatura Hispano-Americana pela UFF/2014. Graduação em Letras Vernáculas e Espanhol pela UFBA/2011. Intercâmbio na UBA/2011. Pesquisador do NuCuS/UFBA e Red LIESS/Espanha. Editor da Revista Periódicus. Autor dos livros O Devir Darkroom e a Literatura Hispano-americana (2014) e Cine(mão): espaços e subjetividades darkroom (2018).
Ficha do Trabalho
Título
- Cisgeneridade e transgeneridade no espaço físico do cinemão
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- Neste trabalho, a partir de quarenta e quatro textos literários e de vinte e nove estudos antropológicos latino-americanos, analiso as presenças, ausências e hegemonias dos corpos cisgêneros e transgêneros nos cinemas pornográficos. Nesse sentido, estamos interessados em entender como homens cisgêneros, homens transgêneros, mulheres cisgêneras e mulheres transgêneras se relacionam com o espaço físico do cinema pornô.
Resumo expandido
- A partir da análise de quarenta e quatro textos literários e de vinte nove antropológicos, constatamos que a cisgeneridade ou a transgeneridade dos autores desses textos se relacionam diretamente não só com quais corpos são narrados, mas também como esses corpos são narrados. Assim, considerando os textos literários, podemos dizer que 87,5% dos autores são homens cisgêneros e 12,5% são mulheres trans. Não há, portanto, textos literários escritos por mulheres cis ou por homens trans. Analisando os textos antropológicos, e levando em consideração os textos com coautoria, podemos dizer que 94,55% dos pesquisadores são homens cisgêneros e 5,55% são mulheres cisgêneras. Não há pesquisadoras nesse campo que sejam mulheres ou homens trans, o que mostra o quanto esses sujeitos ainda estão alijados da pesquisa acadêmica. Nesse sentido, a hegemônica produção antropológica de homens cis nos ajuda a entender o porquê da maioria desses textos construírem uma narrativa a partir da perspectiva do usuário cis do cinemão. No campo literário, a hegemônica produção cisgênera masculina se não reflete uma multiplicidade de corpos dos narradores e personagens, ao menos constrói uma multiplicidade de posicionalidades do homem cisgênero dentro dos cinemas pornôs. No campo da antropologia, as pesquisadoras cisgêneras também privilegiam, como principal interlocutor, o homem cisgênero que ocupa o espaço como cliente. Parece-nos ainda haver uma relativa colonização dessa fala a partir da perspectiva dos homens cis. No campo literário, não encontramos nenhum texto produzido por autoras cisgêneras e, talvez, por conta disso, nenhum texto consiga produzir uma voz ou uma narrativa própria para as mulheres cis dentro do cinemão. Na antropologia, cabe destacar a total ausência de homens e mulheres trans que produzem pesquisa nessa área. Além disso, os homens trans também não produzem literatura e nem mesmo relatos eróticos, assim como também não são representados na produção antropológica e literária. Se é questionável a afirmação de que esses sujeitos não frequentam os cinemas pornôs, é recorrente entre os mesmos a afirmação de que não só a voz, como também as demandas deles, são inaudíveis à maior parte das pessoas. Recuperando e repensando algumas considerações de Preciado (2018), podemos dizer que os homens trans são como fantasmas que estão marcados por uma total ausência de representação. As mulheres trans e travestis quase sempre aparecem nas narrativas antropológicas de pesquisadores cisgêneros. Essa produção, entretanto, constrói o lugar das mulheres trans sempre a partir da prostituição; não aparecendo, por exemplo, travestis como clientes do espaço. É no campo literário onde encontramos uma maior polifonia e posicionalidade dos corpos trans, especialmente através dos textos de Naty Menstrual (2008, 2009) e Susy Shock (2013). Esses textos rompem com a narrativa antropológica, que circunscreve esses corpos exclusivamente à prostituição, e reescreve a história travesti no cinema pornô também como usuárias. A polifonia de vozes das travestis, portanto, ainda que não seja tão grande quanto a dos textos que narram a experiência do homem cisgênero, apresenta posicionalidades que extrapolam a narrativa única da antropologia.
Bibliografia
- BAGAGLI, Bia Pagliarini. O que é cisgênero. Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019.
KAAS, Hailey. O que são pessoas cis e cissexismo? Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019.
MAIA, Helder Thiago. Cine[mão]: espaços e subjetividades darkroom. Salvador: Devires, 2018.
MENSTRUAL, Naty. Corazón de cine porno. Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019.
_______. Continuadísimo. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2008.
PALHANO, Luciano. Homens trans, da invisibilidade à luta. Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019.
PRECIADO, Paul B. Cartografias “Queer”: O “Flâneur” Perverso, A Lésbica Topofóbica e A Puta Multicartográfica, Ou Como Fazer uma Cartografia “Zorra” com Annie Sprinkle. Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019.
SHOCK, Susy. Relatos en Canecalón. Buenos Aires: Nuevos Tiempos, 2013.