Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Antonio Mousinho (UFPB)
Minicurrículo
- Luiz Antonio Mousinho é Professor Titular do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba. Fez mestrado em Letras na UFPB e doutorado em Teoria e história literária na UNICAMP. Desenvolve pesquisa junto ao CNPq (PQ) sobre cinema e cultura. É autor de Uma escuridão em movimento – relações familiares em Clarice Lispector e A sombra que me move – ensaios sobre ficção e produção de sentido (cinema, literatura, tv). (EDUFPB/ Ideia,1997; 2012)
Ficha do Trabalho
Título
- Robert Stam leitor de Machado de Assis
Resumo
- Pretendemos investigar aspectos da leitura que Robert Stam fez da adaptação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, realizada pelo cineasta André Klotzel. Nos apoiaremos em categorias narratológicas como narrador, focalizador e personagem, levando em conta ainda o conceito de dialogismo. Buscaremos fazer ainda contraponto da adaptação de Dom Casmurro na microssérie Capitu, onde alguns aspectos debatidos por Stam estão, a nosso ver, contemplados.
Resumo expandido
- Pretendemos investigar aspectos da leitura que o teórico do cinema e da cultura Robert Stam fez da adaptação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, realizada pelo cineasta André Klotzel (STAM, 2008). Daremos ênfase à observação das questões de como o autor lê as relações entre ficção e sociedade tensionadas pelo texto-fonte e pela adaptação cinematográfica, ressaltando o que Stam afirma quando diz que o que lhe “interessa é a historicidade das próprias formas, a maneira pela qual as escolhas estilísticas em termos de gênero, voz e ponto de vista ressoam o que a translinguística chama de ‘avaliações sociais’ ”. (STAM, 2008, p.38).
Nos apoiaremos em categorias narratológicas como narrador, focalizador (GENETTE, s/d; JOST; GAUDREAULT, 2009, STAM, 1992) e personagem (CANDIDO, 1992; SALLES GOMES, 1992), e nas discussões sobre ficção e sociedade (CANDIDO, 2000; SHOHAT, STAM, 2006; AUMONT, 1995; MARTIN, 2003), levando em conta ainda o conceito de dialogismo (BAKHTIN, 1981; STAM, 1992) mobilizadas na observação da leitura feita pelo teórico e crítico. Acrescentamos ainda ao corpus, ao final, o contraponto da adaptação de Dom Casmurro para a televisão na microssérie Capitu, dirigida por Luiz Fernando de Carvalho, onde alguns aspectos debatidos por Stam na obra machadiana estão, a nosso ver, contemplados.
Em A literatura através do cinema, Robert Stam aborda um espectro amplo de obras adaptadas para o cinema, dentre elas várias narrativas brasileiras. Observando, por exemplo, A hora da estrela, de Clarice Lispector, situa a novela literária como estando filiada à “tradição reflexiva de Cervantes, Fielding, Sterne e Machado de Assis”, com um narrador que “dá ênfase às escolhas envolvidas na escrita”. No capítulo dedicado a Memórias póstumas de Brás Cubas e sua adaptação por André Klotzel, Robert Stam destaca como avanço nos gestos tradutórios de Klotzel o afastar-se em relação às narrativas cinematográficas tradicionais, que investem no enredo e elidem o caráter de constructo da obra, ressaltando na adaptação vasta presença do personagem-narrador defunto Brás Cubas, posto em cena, com as problematizações metalinguísticas e metaficcionais que constituem o texto-fonte. Ao mesmo tempo o texto de Stam aponta lacunas quanto a tematização sobre questões como a escravidão no Brasil, agudas em Machado, laterais no filme de Klotzel.
Lembrando, com Maria Lúcia Dal Farra, que “a voz original do romance não é propriamente aquela que se desprende da boca do narrador, mas o acorde de vozes propagadas na ampla abóbada acústica do romance”, refletiremos sobre a relação do personagem-narrador-focalizador na obra de Machado e no filme de Klotzel em correlação com outros dados das narrativas literária e cinematográfica, tentando perceber como os mesmos velam, revelam, acentuam ou elidem aspectos relativos às suas contradições de classe. E lembrando como numa narrativa focalizada, com ponto de vista limitado, há um olhar mais amplo construído pela obra que pode ser fortemente discordante da perspectiva do personagem-focalizador.
Como contraponto pontual, tentaremos analisar em que medida outra adaptação da obra machadiana, a microssérie Capitu, adaptada de Dom Casmurro, responderia a algumas provocações colocadas pelo pesquisador ao final de seu texto sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, no que se refere ao esmaecimento de certo olhar sobre o social. O diálogo entre as obras observadas e seus contextos, rastreando as vozes textuais (Stam; Shohat, 2006) que as informam, procurará ressaltar aspectos estéticos das próprias obras, ao mesmo tempo trazendo a oportunidade de problematizar o debate teórico em relação às distinções entre câmera subjetiva e focalização, entre focalização e narrador, sobre ficção e sociedade. Buscaremos, em suma, acompanhar o debate teórico e crítico de Stam, procurando suplementá-lo na abordagem das duas obras.
Bibliografia
- AUMONT, J. et. al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.
CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. S. Paulo: Publifolha, 2000.
DAL FARRA, M. L. O narrador ensimesmado. S. Paulo: Ática, 1978.
GAULDREAULT, A.; JOST, F. A narrativa cinematográfica. Brasília: EDUNB, 2009.
GENETTE, G.Discurso da narrativa. Lisboa: Vega, s/d.
SALES GOMES, P. E. A personagem cinematográfica. In: CANDIDO et. al. A personagem de ficção. S. Paulo: Perspectiva, 1992.p.105-119.
SHOAHAT, E.; STAM, R. Crítica da imagem eurocêntrica. S. Paulo: Cosac Naify, 2006.
STAM, R. A literatura através do cinema. Belo Horizonte:EDUFMG, 2008.
STAM, R.; BURGOYNE, R.; FLITTERMAN-LEWIS, S. The problem of point-of-view; Type of filmic narrator. In: New Vocabularies in Film Semiotics: Structuralism, Post-structuralism and Beyond. London: Routledge, 1992.
STAM, R. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. S.P.: Ática,1992.