Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Augusto Beiler de Siqueira Garcia (UFF)
Minicurrículo
- Mestrando da linha de pesquisa Histórias e Políticas do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e graduado em Comunicação Social – Audiovisual pela Universidade de Brasília. Atuou na área de cinema e educação em parceria com o projeto Inventar com a Diferença (UFF). Atua também como realizador e montador.
Ficha do Trabalho
Título
- Vozerio e a confluência de revoltas
Seminário
- Cinema brasileiro contemporâneo: política, estética, invenção
Resumo
- Em Vozerio (Vladimir Seixas, 2015) há contágios entre os tempos próprios das lutas e aqueles agenciados pelo documentário. A proposta é traçar linhas que ajudem a pensar como o filme faz confluir diferentes lutas ao redor das mobilizações de 2013, no Rio de Janeiro. A montagem do filme não impõe a essas lutas relações de causa e efeito ou de igualdade, mas ao aproximar suas imagens aponta para um campo de resistência que as atravessa.
Resumo expandido
- Em Vozerio (Vladimir Seixas, 2015) o cinema se torna espaço de eco para vozes diversas em meio a lutas urbanas na cidade do Rio de Janeiro. Ao redor das mobilizações de 2013, novos sujeitos políticos fazem sua autocriação entre atos de insurgência e a constante produção de imagens. Há uma indiscernibilidade entre o que seriam imagens encontradas, found footage ativista, e aquelas já produzidas e destinadas para este filme. Não há nesse contexto uma separação clara entre os dois momentos que se contaminam – do midiativismo que disputa as narrativas junto aos acontecimentos e da produção mais distanciada -, porém parece ser na relação do documentário com certas temporalidades que este revela suas possibilidades específicas.
No atravessar entre as dinâmicas e ações próprias da luta e da insurgência e as temporalidades que emergem nos processos de manipulação da imagem pretende-se percorrer um regime temporal que se corporifica nas imagens e gritos de revolta que o filme faz confluir. Colocado num amplo espectro do cinema engajado, recorrendo ao que diz Nicole Brenez (2017), três apostas se colocam para o documentário nessa relação imagem, tempo e luta: um cinema do agora que disputa e almeja a transformação efetiva de injustiças e opressões presentes; aquele que busca, em médio prazo, espalhar uma contrainformação e avivar forças para as lutas que seguem; e por último, um cinema que pretende constituir documentos e arquivos, atuando num espaço de memória das lutas e que visa gerações que vem.
Diante das imagens e sons de Vozerio interessa tatear como estes diferentes caminhos perpassam o filme e suas linhas estético-políticas. A luta indígena na Aldeia Maracanã se aproxima a revolta de moradores de uma favela contra a violência policial que é seguida por performances de rua em uma montagem sempre consciente do papel das câmeras, traçando um novo modo de fazer as lutas durarem na tela. Em seu caminho por atos, performances e embates, também outras câmeras e ilhas de edição de outros agentes atravessam o filme explicitando um espaço coletivo da produção dessas imagens.
Nesse regime que lida com temporalidades múltiplas da resistência uma dimensão supra-coletiva que extravasa territórios e demarcações rígidas faz emergir uma luta ampla em questionamento às formas de vida produzidas pelo capitalismo. Pretende-se, assim, olhar para as maneiras como o documentário engajado pode trazer para uma camada sensível essa vontade de insurgência que de maneira não unificada se manifesta nas ações desses sujeitos coletivos, ou como essa confluência de revoltas de Vozerio toca o que, nas palavras utilizadas pelos escritores anônimos do Comitê Invisível (2015), seria uma conspiração difusa a qual pertencemos.
Portanto, propõe-se pensar aqui como no contato entre as lutas e os processos cinematográficos podem surgir traços de um regime de tempo insurgente, e consequentemente de uma outra sensibilidade rebelde.
Bibliografia
- ANDRADE, Vinícius. Junho no plural. In: VALE, G. C.; ITALIANO, C.; TORRES, J. (Org.). Forumdoc.bh.2016. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2016. p.261-263.
BRENEZ, Nicole. Contra-ataques. In: DIDI-HUBERMAN, Georges (Org.). Levantes. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.
BRENEZ, Nicole; CHODOROV, Pip. Cartografia do found footage. Revista Laika, São Paulo, v. 3, n. 5, jun. 2015.
COMITÊ INVISÍVEL. Aos nossos amigos – Crise e insurreição. São Paulo: n-1 Edições, 2015.
COMOLLI, Jean Louis. Ver e Poder. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.