Ficha do Proponente
Proponente
- Rodrigo Fagundes Bouillet (CEFET/RJ)
Minicurrículo
- Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER/CEFET-RJ) e bacharel em Comunicação Social (UFF, 2004). Membro do Grupo de Pesquisa Racismo, Discurso e Cinema Negro. Organizador do cineclube Tela Brasilis (MAM-RJ, 2003-10) que deu origem à Associação Cultural de mesmo nome (2007). Coordenador-Geral de Desenvolvimento Sustentável do Audiovisual (SAv/MinC, 2013). Representante titular do segmento Audiovisual no Conselho Estadual de Política Cultural / RJ (2016-17).
Ficha do Trabalho
Título
- Questões estruturais do Cinema Negro brasileiro contemporâneo
Resumo
- O artigo investiga as questões estruturais do Cinema Negro brasileiro contemporâneo. Observa-se a hiper concentração das forças produtivas no grupo branco da população, um espelhamento da formação social do país no setor audiovisual que impede o Cinema Negro de reunir condições materiais para sua produção em larga escala bem como para a massificação de sua circulação e consumo. As lutas por representatividade, representação e redistribuição confrontam este cenário entre tensões e conquistas
Resumo expandido
- Informados pelos estudos de Stuart Hall (2013) e Petrônio Domingues (2007 e 2008) propomos uma investigação das questões estruturais do Cinema Negro brasileiro contemporâneo.
Inicialmente, apresentamos a perspectiva de Stuart Hall (2013) sobre atual momento histórico para o debate sobre a cultura popular negra, segundo o autor, marcado pela ascensão das categorias políticas de etnicidade, cultura popular e cultura de massa, além dos contextos de lutas negras emancipatórias norte-americanas e africanas. Para o pesquisador, estas mudanças atestam um novo momento das militâncias por políticas culturais da diferença em disputas pela hegemonia cultural – caracterizado por negociação, cooptação, enfrentamento e resistência às forças dominantes. Em seguida, trazemos o debate para o âmbito local, com Petrônio Domingues (2007 e 2008) refletindo sobre a reorganização política do movimento negro nacional no fim dos anos 1970 nos mesmos contextos apresentados por Hall. Conforme o historiador, a estratégia culturalista do movimento negro brasileiro nas disputas pela hegemonia cultural sucumbiu à transformação de símbolos e artefatos culturais da negritude em mercadoria.
Logo após, traçamos um panorama de algumas atividades do campo audiovisual protagonizadas por pessoas negras, no qual observamos o progressivo aumento do número de filmes das mais diversas metragens, a fundação de cineclubes, a crescente realização de mostras e festivais, além do reconhecimento artístico conferido pela própria classe cinematográfica brasileira (historicamente composta por pessoas brancas).
A seguir, perscrutamos as questões de concentração de forças produtivas tanto da formação social quanto do audiovisual brasileiros através da abordagem de Raymond Williams (2011) dos meios de comunicação como meios de produção. Observamos como a manutenção deste cenário impede o Cinema Negro de reunir condições para a sua produção em larga escala bem como para a massificação de sua circulação e consumo. Ou seja, um círculo vicioso de produção de exclusão e negação de Direitos Culturais perpetuados pela classe cinematográfica e pelo Estado (ambos hegemonicamente brancos) que obriga o Cinema Negro a operar na adversidade, nos interstícios do sistema, em suas lutas por representatividade, representação e redistribuição, entre tensões e conquistas nas disputas pela hegemonia cultural.
Jean-Claude Bernardet (1995) afirma que a crise dos estudos sobre a história do cinema brasileiro foi escancarada quando a produção de filmes perdeu a subvenção estatal no governo Collor, pois estes se apoiavam na “filosofia que entende o cinema como sendo essencialmente a realização de filmes” (Bernardet, 1995, p. 27).
Da mesma forma, o protesto negro, o entendimento público da hiper concentração das forças socioprodutivas no grupo branco da população brasileira e a ascensão do Cinema Negro (filmes, exibições, prêmios, debates, publicações, produções acadêmicas, políticas públicas) conformam outro esgotamento. Novamente, “a situação atual da produção brasileira deve gerar um novo discurso histórico” (Bernardet, 1995, p. 29), uma nova situação que enseja uma história racializada do cinema brasileiro.
Acreditamos que esta perspectiva favorece (1) a consciência racial das/os agentes do campo cinematográfico nacional; (2) o estabelecimento de novos paradigmas no imaginário das relações étnico-raciais na sociedade brasileira; (3) a positivação dos Direitos Civis e dos Direitos Culturais da população negra; e (4) o aprimoramento sobre políticas públicas universalistas e afirmativas no setor audiovisual.
Bibliografia
- ANCINE. Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016. 2017.
BERNARDET, JC. Historiografia clássica do cinema brasileiro. São Paulo: Annablume: 1995.
CANDIDO, M.R.; MORATELLI, G.; TOSTE, V.; FERES JÚNIOR, J. A Cara Do Cinema Nacional: 2002 – 2012. 2014.
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DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007.
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WILLIAMS, R. Cultura e materialismo. São Paulo, Unesp, 2011.