Ficha do Proponente
Proponente
- Vinicius Augusto Carvalho (ESPM-Rio)
Minicurrículo
- Jornalista graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Gestão da Economia Criativa pela Escola Superior de Propaganda e Marketing com MBA em TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica pela Universidade Federal Fluminense. Trabalhou na TV Globo de 2005 a 2018 com edição e finalização de produtos audiovisuais jornalísticos e de entretenimento. Professor nos cursos de Cinema e Audiovisual, Jornalismo e Design e coordena o Portal de Jornalismo da ESPM-Rio.
Ficha do Trabalho
Título
- Hiato 71: transições (in)visíveis na montagem de “Lawrence da Arábia”
Seminário
- Montagem Audiovisual: reflexões e experiências
Resumo
- O estudo analisa pontuações visíveis (fade ou fusão) e invisíveis (corte) na produção de elipses temporais em “Lawrence da Arábia” (1962). A partir da teoria de Metz, Burch e Martin, foram examinadas as transições da obra, com destaque para a ligação 71, um hiato de tempo concebido por meio de um corte “não planejado”. A investigação revela que a montagem elíptica, no filme estudado, apresenta divergências em relação aos “padrões” formatados para a representação imagética das elipses clássicas.
Resumo expandido
- A montagem cinematográfica estrutura a narrativa. No processo de ordenação dos planos, um filme pode criar o próprio tempo a fim de se adequar a qualquer situação particular. O tempo pode ser comprimido ou expandido, acelerado ou retardado; permanecer no presente ou ir para o passado ou futuro; ou até mesmo ser congelado pelo período que se desejar. O bom uso do tempo pode agregar valor à história e neste cenário, uma característica fundamental é o ritmo, elemento que trabalha o aperfeiçoamento da continuidade com atenção às transições.
Dancyger (2007, p. 413) descreve o ritmo como a “parte dramática de um plano em relação ao outro” e destaca (2007, p. 416) que, em geral, “o ritmo de um filme parece ser uma questão individual e intuitiva”. Ao montador é atribuído este controle que permite apresentar a trama de modo que cada nova situação seja revelada no momento dramaticamente apropriado. Reisz e Millar (1978, p. 245) posicionam o ritmo como um “atributo do tempo” e realçam que, além da escolha do instante oportuno para cada intervenção, a determinação do momento para revelar, omitir ou manter implícito um acontecimento em relação ao resto da sequência é de grande importância. O diretor belga Jacques Feyder escreveu que “o princípio do cinema é sugerir” (MARTIN, 2005 p. 95), e muitos estudiosos e profissionais da sétima arte concordam com a afirmação de que o fazer cinema comporta a arte de realizar elipses – aptidão que é expressa na concepção eficaz de hiatos temporais, vital na atividade do profissional de edição. Sendo assim, haveria uma técnica correta de se justapor segmentos com o intuito de se omitir parte da história? Existe uma transição mais adequada à concepção de uma elipse temporal?
Com um enredo que abrange 20 anos da vida do oficial inglês T. E. Lawrence (1988-1935) durante a campanha contra os turcos na Primeira Guerra Mundial, Lawrence da Arábia (1962) é um filme representativo da montagem elíptica. Premiado internacionalmente, inclusive como Melhor Montagem no Oscar de 1963, o longa contempla a meta de se investigar um exemplar contemporâneo ao arcabouço teórico-metodológico definido. A análise parte da definição de “hiato” apresentada em 1966 por Christian Metz; das relações entre espaço e tempo expostas por Noël Burch em 1968; e da nomenclatura dos processos de transição apontada por Marcel Martin em 1955. Recorre ainda às pesquisas de Salt (2009) sobre a utilização de efeitos de ligação, aos conceitos de Bordwell e Thompson (2010) sobre elipses e examina depoimentos de diretores e montadores.
Ao longo dos anos os cineastas criaram elipses nas suas histórias, destacando-as ao espectador por meio de diferentes estratégias: cortes; fades; fusões; wipes; intertítulos; símbolos visuais; movimentos rápidos de câmera; entre outras. Algumas teorias que abordam a montagem elíptica buscam moldar o uso de determinadas pontuações imagéticas quando cumprindo funções específicas dentro da diegese. Martin (2005, p. 110) indica que o “corte” deve ser empregado em uma transição sem valor, os fades “servem para marcar uma importante mudança de ação ou de lugar”, e a fusão teria a “função de retratar a mudança temporal”. Para Metz (2014, p. 120) os cortes são “hiatos de câmera”, não diegéticos, e as fusões e os fades, estes sim, quando utilizados para unir sequências podem criar “hiato espaço-temporal com permanência de alguma relação transitiva profunda (fusão) e hiato espaço temporal seco (fade)”. Lawrence da Arábia apresenta um total de 12 hiatos “supersignificantes” – conceito de Metz (2014, p. 155) para “momentos pulados que tem influência na evolução dos acontecimentos narrados pelo filme”. Neles, o corte é o elemento mais utilizado, nove vezes, uma destas na famosa transição que justapôs o fogo ardente no palito de fósforo e a vastidão do deserto. A fusão foi aplicada duas vezes e o fade apenas uma, resultado que destoa das “orientações” quanto ao tipo de pontuação a ser usada na edição elíptica significativa.
Bibliografia
- AMIEL, V. Estética da Montagem. Rio de Janeiro: Edições Texto & Grafia, 2011. AUMONT, J. MARIE, M. A Análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004. BORDWELL, D; THOMPSON, K. A Arte do cinema: Uma introdução. São Paulo: Editora da USP, 2013. BURCH, N. Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 2015. DANCYGER, K. Técnicas de edição para cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. GERBASE, C. A elipse como estratégia narrativa nos seriados de TV. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, v. 41, n. 41, p. 37-56, 31 jul. 2014. MARTIN, M. A Linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2005. METZ, C. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2014. PEARLMAN, K. Cutting rhythms: shaping the film edit. Oxford, Reino Unido: Elsevier, 2009. REISZ, K; MILLAR, G. A técnica da montagem cinematográfica. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1978. SALT, B. Film style & technology, history & analysis. Londres: Starword, 2009.