Ficha do Proponente
Proponente
- GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (UEG)
Minicurrículo
- Geórgia Cynara é doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Mestre em Comunicação pela UFG (2012), especialista em Cinema e Educação pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás (2010) e graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela UFG (2005), atua nas áreas de Comunicação, Música, Audiovisual e Educação. É jornalista, musicista (violino/bandolim), compositora e docente titular do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Ficha do Trabalho
Título
- Trilhas “na nuvem”: música disponível para licenciamento audiovisual
Resumo
- Investigam-se as características das músicas disponíveis na internet para o uso, via plataformas de licenciamento, em produções audiovisuais. Por meio de entrevistas com compositores de trilhas musicais para audiovisual com experiência em licenciamento, Julian Ludwig (2018) e Maurício Domene (2018), e pesquisa bibliográfica sobre som e música no cinema, buscamos elencar os atributos que fazem uma “música genérica” ser mais atraente aos ouvidos de um supervisor musical e suas implicações.
Resumo expandido
- Por meio de plataformas digitais de licenciamento, peças musicais prontas, inéditas ou não, encontram-se disponíveis online para a escolha do supervisor musical – profissional responsável pela seleção, negociação e reprodução parcial ou total de músicas não compostas originalmente para determinado produto audiovisual.
Para os compositores de música para cinema, TV e outras mídias – que, desde os anos de 1990, desenvolvem um perfil multifacetado para além da formação musical (Souza, 2018), com conhecimento técnico que transita da engenharia acústica à informática (Vicente, 2014) –, esses catálogos virtuais representam uma oportunidade não apenas de comercializar músicas já compostas e não utilizadas (ou parcialmente usadas) em produções audiovisuais anteriores, mas também de compor novas peças tendo como destino essas próprias plataformas.
Este trabalho marca o início da investigação das características estéticas apresentadas pelas músicas disponíveis na internet para o uso, via licenciamento, em produções audiovisuais. Por meio de entrevistas com dois experientes compositores de trilha sonora para cinema e audiovisual atuantes na cidade de São Paulo, Julian Ludwig (2018) e Maurício Domene (2018), buscamos elencar os atributos que fazem uma “música genérica” ser mais atraente à escolha do supervisor musical – qualidades estas, portanto, importantes de serem consideradas no momento da composição para este fim.
Entre as características desejáveis nas músicas compostas para licenciamento elencadas pelos compositores entrevistados estão: a rejeição de melodias marcantes, sobretudo as executadas por instrumentos de afinação mais aguda; a constância do andamento e da tonalidade – facilitando a edição com a imagem –; a oferta da música em stems – subgrupos de instrumentos mixados de forma independente (stems de metais, stems de cordas, percussão, etc), o que facilita a manipulação na mixagem final; inícios e finais bem demarcados (sem fades), entre outras.
As experiências de Ludwig e Domene revelam que a música disponível “na nuvem” é procurada fundamentalmente em casos de produções audiovisuais em que, dado o baixo orçamento, não dispõem de tempo hábil para que o diretor estabeleça um diálogo com um compositor visando a criação de uma trilha musical original. Assim, nossa hipótese é a de que a música genérica disponível “na nuvem” funciona como uma “fast track” (analogamente ao fast food) – prontas para uso, elas preenchem rapidamente espaços “em branco” na trilha sonora, sem, no entanto, um compromisso prévio ou mais profundo com a proposta narrativa audiovisual (“enchem”, mas não “nutrem”). Ao mesmo tempo em que isso gera oportunidades de comercialização e divulgação para os compositores – os quais vêm cultivando, há mais de 30 anos, um perfil empreendedor –, tal prática gera um abismo entre eles e as obras audiovisuais às quais suas trilhas são acopladas – já que, via de regra, os compositores sequer sabem que destino terão suas músicas, uma vez disponíveis nesses catálogos. Corre-se o risco, inclusive, de uma música ser licenciada para mais de um produto audiovisual ao mesmo tempo.
Em uma esfera mais ampla, os primeiros passos desta nova pesquisa busca pensar, por meio das possibilidades trazidas por novos modelos de negócio, as transformações do lugar do compositor musical no cinema a partir das alterações do processo de elaboração e realização da trilha musical – tradicionalmente iniciado pelo convite feito ao compositor pelo produtor e/ou diretor do filme e finalizado com a mixagem da música e sua junção aos demais elementos sonoros na mixagem final (Matos, 2014) –, em que a centralização da responsabilidade pela música original em todas as etapas de sua produção conhecidas até aqui tem como resultado não mais o engajamento vertical em uma narrativa cinematográfica específica, mas a participação em um grande e variado cardápio à disposição das mais diversas produções.
Bibliografia
- CARRASCO, Claudiney Rodrigues. Trilha musical: música e articulação filmica. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
DOMENE, Maurício. Maurício Domene: depoimento [nov. 2018]. São Paulo, 2018.
LUDWIG, Julian. Julian Ludwig: depoimento [out. 2018]. São Paulo, 2018.
MATOS, Eugênio. A arte de compor música para o cinema. Brasília: Senac, 2014.
OLIVEIRA, Marcio P. As Transformações do Mercado Musical e as Plataformas de Crowdfunding e Licenciamento Musical. Revista Sonora, Campinas, v. 6, n. 12, p. 1-16, 2017. Disponível em: https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/sonora/article/download/740/972 . Acesso em: 17 mar 2019.
SOUZA, G. C. C. Para ver e ouvir: a música de André Abujamra no cinema brasileiro. 2018. 268 f. Tese (Doutorado em Meios e Processos Audiovisuais) – USP, São Paulo, 2018.
VICENTE, Eduardo. Da vitrola ao iPod: uma história da indústria fonográfica no Brasil. São Paulo: Alameda, 2014.