Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    PAULA ALVES DE ALMEIDA (ENCE/IBGE)

Minicurrículo

    Formada em Cinema pela UFF (Niterói, 2000), Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela ENCE/IBGE (Rio de Janeiro, 2011). Doutoranda em População, Território e Estatísticas Públicas pela ENCE/IBGE. Diretora do Femina – Festival Internacional de Cinema Feminino. Membro do Grupo de Análises de Políticas e Poéticas Audiovisuais – GRAPPA (UERJ) e do Grudo de Reconhecimento de Universos Artísticos/Audiovisuais – GRUA (UFRJ).

Ficha do Trabalho

Título

    Gênero e raça nos longas-metragens brasileiros de 1961 a 2017

Seminário

    Mulheres no cinema e audiovisual

Resumo

    A baixa representatividade de mulheres e negros no cinema é um reflexo e, ao mesmo tempo, reforça as desigualdades de gênero e raciais existentes na sociedade. A partir da elaboração de uma base de dados, da associação de aspectos qualitativos e quantitativos, esta pesquisa aponta para uma distribuição desigual de funções-chave (direção, roteiro, protagonismo, produção, fotografia, etc.) e de recursos públicos por sexo/gênero e cor/raça na produção cinematográfica brasileira de longas-metragens.

Resumo expandido

    Para Daney (1997), em seu início, as projeções de cinema deviam causar uma sensação de pertencimento ao mundo. Os filmes continham atores principais, coadjuvantes e figurantes, contavam histórias de multidões, lutas de classes, povos em guerra. Havia, portanto, muitas pessoas nas salas de cinema assistindo a filmes com muitas pessoas nas telas. Não somente as salas de cinema se esvaziaram, mas os filmes ficaram cada vez menos povoados. Daney (1997) sugere então um estudo das populações dos filmes, fazendo-se necessária uma demografia dos seres filmados.
    Inspirados neste autor, sugerimos chamar as personagens dos filmes de população filmada, e o conjunto de indivíduos que compõem as equipes de população que filma. Descrever a composição das populações filmada e que filma, assim como as relações entre ambas e com a população real, nos permite refletir sobre as posições e ausências de determinados grupos sociais nas representações cinematográficas.
    Sobre a possível associação entre a população que filma e a população filmada, podemos supor diferentes relações, como: 1) a população que filma se parece com a população filmada, quando o cineasta se volta para os grupos sociais aos quais pertence; 2) a população que filma reinterpreta a população filmada, quando o cineasta filma outros grupos sociais; 3) as ausências, quando determinadas populações ficam de fora tanto da população que filma, quanto são excluídas das narrativas cinematográficas. No primeiro caso, quando os cineastas passam a representar a si próprios ou a seus semelhantes, pode-se imaginar que a população filmada se assemelhe à população que filma. A questão é se essas duas populações incorporam a diversidade da população real, e se esta é representada em sua pluralidade pelos filmes. Quando os cineastas se voltam para grupos sociais aos quais não pertencem, os filmes podem privilegiar as perspectivas dos diretores e retratar temáticas e contextos sociais a partir de seus valores e preconceitos. E as ausências ocorrem quando grupos sociais estão sub-representados nos sets e também nas telas. Novamente, vale questionar se partes da população real também não estariam de fora das representações cinematográficas, e se não seriam as mesmas que são excluídas dos cargos de comando no mundo social e político.
    Assim como nos espaços de poder e em outras áreas do mercado de trabalho – nas quais a presença feminina ou negra em cargos de direção e gerência ainda é limitada, – também no cinema a participação da mulher e de negros (bem como de amarelos e indígenas) desempenhando funções-chave (como direção, roteiro, produção, entre outras) ainda está expressivamente abaixo da presença masculina e branca (ALVES, 2011). O cinema foi criado e estruturado no contexto de uma sociedade desigual, androcêntrica e eurocêntrica. Consequentemente, as representações da mulher e de povos não brancos foram elaboradas, essencialmente, a partir da perspectiva masculina e branca.
    Foi elaborada, a partir de diferentes fontes, uma base de dados contendo quase cinco mil longas-metragens brasileiros lançados entre 1961 e 2017. Foi realizada uma atribuição de cor/raça a diretores, roteiristas e protagonistas, e uma categorização de sexo/gênero dessas e de outras funções (fotografia, montagem, produção, arte). A pesquisa aponta para desigualdades de gênero e raciais na distribuição de recursos públicos e de funções nesses filmes, para associações entre os cargos analisados, e para uma distribuição geográfica desigual da produção audiovisual, entre outros resultados.
    Se a direção cinematográfica é predominantemente ocupada por homens brancos, a gerência do imaginário, da representação de gêneros, raças e sexualidades, a disseminação de valores e ideais políticos estão sob domínio de uma perspectiva majoritariamente masculina e branca. Se privilegiamos protagonistas masculinos e brancos no cinema estamos reforçando o papel de protagonismo social e político culturalmente atribuído a homens brancos.

Bibliografia

    AGÊNCIA NACIONAL DO CINEMA – ANCINE. Listagem dos Filmes com os Mecanismos de Incentivo. Disponível em: .
    ALVES, P. O Cinema Brasileiro de 1961 a 2010 pela Perspectiva de Gênero. 2011. Dissertação (Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais) – Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, 2011.
    ALVES, P; ALVES, J; SILVA, D. Mulheres no cinema brasileiro. Revista Caderno Espaço Feminino, v. 24, n. 2, p. 365-394, 2011.
    BALADI, M. Dicionário de cinema brasileiro: filmes de longa-metragem produzidos entre 1909 e 2012. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
    DANEY, Serge. Devant la recrudescence des vols de sacs à main. Lyon: Aléas éditeur, 1997.
    FILME B. Database Brasil 2018. Disponível em: