Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Camila Cattai de Moraes (UAM)

Minicurrículo

    Camila Cattai é atriz (formada pelo Conservatório Dramático Carlos de Campos) e cineasta (formada pela Universidade Anhembi Morumbi). Realizou Iniciação Científica, sob orientação do prof Renato Coelho, pesquisando a produtora Belair Filmes e hoje é mestranda pela Universidade Anhembi Morumbi, sob orientação da Profa Dra Sheila Schvarzman, pesquisando a cineasta russa e soviética Olga Preobrazhenskaya.
    Camila dirigiu dezenas de filmes, dentre eles o curta-metragem Bandida, premiado em festivais.

Ficha do Trabalho

Título

    O silêncio sobre Olga Preobrazhenskaya

Resumo

    O trabalho pretende apresentar Olga Preobrazhenskaya (1881-1971), a primeira cineasta russa, e discutir os motivos de sua exclusão da história canônica do cinema.
    Seus 14 filmes realizados entre 1916 e 1941 são protagonizados por mulheres, personagens fortes e que defendem outras mulheres contra a dominação masculina. Pretendemos discutir os motivos de Olga e seus filmes, mesmo com a força que carregam, não estarem presentes na nossa historiografia clássica do cinema.

Resumo expandido

    A demanda pela recuperação de histórias e obras realizadas por mulheres, principalmente no cinema, cresceu exponencialmente nos últimos anos. Nomes, desconhecidos até então, foram apresentados e fixados nas lacunas deixadas pela história canônica do cinema.
    A historiografia majoritariamente androcêntrica perdeu credibilidade e não admite-se mais a máxima “as mulheres jamais criaram algo importante” ou “a situação da mulher jamais impediu o surgimento de grandes personalidades femininas” (BEAUVOIR, 2016, p. 191).
    A ensurdecedora ausência de Alice Guy nos livros convencionais, alarmaram sobre outros casos de diretoras excluídas da história. Dentro dessas profundas lacunas, nesta vastidão de nomes não citados, encontramos a cineasta Olga Preobrazhenskaya.
    Olga é a primeira cineasta russa. Seu primeiro filme, The Lady Peasant, é de 1916, anterior à Revolução Russa. Diretora de 14 filmes entre 1916 e 1941, Olga é mais uma cineasta eclipsada pela história canônica do cinema.
    Pretendemos aqui entender porque Olga ocupa esse silêncio, apesar da ousadia de sua extensa obra, priorizando seu filme mais famoso: As mulheres de Ryazan (1927).
    Após o grande sucesso de As Mulheres de Ryazan, que rendeu quase cinco vezes o investimento aplicado na obra, Olga Preobrazhenskaya foi “excomungada, estava praticamente condenada a inatividade.” (FORD, 1972).
    A primeira chance de negação de memória à cineasta pela história oficial, e também a que nos parece mais óbvia é: por ser mulher e a primeira autora de filmes russa/soviética, Olga Preobrazhenskaya foi colocada na lacuna da desmemoria. A diluição do trabalho feminino começa a ser reconhecida após correntes de pensamentos como A Teoria do Cinema Feminista e o próprio movimento feminista galgarem certo prestígio.
    Desde então vêm se escrevendo de forma substancial sobre a mulher. Olga não é exceção.
    A História, enquanto gesto público de poder, diluiu essas mulheres até à quase invisibilidade, mesmo na Rússia no início do século XX, onde a população trabalhadora era composta majoritariamente por mulheres e crianças, devido ao esforço da Primeira Grande Guerra. (SCHNEIDER, 2017)
    Porém, sabemos que Olga Preobrazhenskaya não foi declinada apenas por ser mulher.
    Um dos tutores de Olga Preobrazhenskaya foi o cineasta russo W. R. Gardine. Gardine, segundo críticas severas do poeta Vladimir Maiakowski, “perpetuava em seus filmes as más tradições do cinema czarista”. Maiakowski chegou a classificar o filme O poeta e o Czar (1927) de Gardine como “absurdo e ultrajante”. (FORD, 1972). Olga Preobrazhenskaya era considerada como sucessora imediata de Gardine (FORD, 1972) e foi negada enquanto artista pelos grandes mestres soviéticos.
    A terceira razão, concluímos, que pode ter apagado Olga da história do cinema soviético foi a recusa da cineasta em fazer filmes para o Partido Bolchevique, exaltando o Exército Vermelho. Seu cinema com protagonistas femininas e ambiente rural é criticado por teóricos e cineastas “revolucionários” (BAGROV, 2013).
    O chamado Realismo Socialista, após 1929, sob o comando de Stalin, dominou as artes soviéticas, incluindo o cinema, diminuindo a criatividade individual para subordiná-la aos objetivos do partido. Alguns artistas consideraram as restrições impostas como inaceitáveis. Foi o caso de Olga, que nessa época, dedicou-se exclusivamente à atuação de teatro.
    Entendemos, portanto, que o cinema de Olga Preobrazhenskaya é também revolucionário. A cineasta utilizava-se, por exemplo, de não atores, filmava em locações rurais, questionava o poder físico e psicológico da figura masculina sobre a mulher.
    Em As mulheres de Ryazan (1927), há uma heroína feminista: Vasilisa, que afronta seu pai quando o vê investindo fisicamente sobre Anna, sua cunhada. Ela não aceita os ordens vazias da figura patriarcal, foge e trabalha para se sustentar. Vasilisa é a personificação de uma mulher forte.
    Nosso objetivo aqui é discutir as engrenagens que enterraram a obra de Olga Preobrazhenskaya. Até hoje.

Bibliografia

    BAGROV, Peter. Olga Preobrazhenskaya e Ivan Pravov. In : FARINELLI, Gian Luca; BAGH, Peter von. Il Catalogo dela XXVII edizione de Il Cinema Ritrovato. Bologna: Fondazione Cineteca di Bologna, 2013
    BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fato e mitos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016
    FORD, Charles. Femmes cinéastes. Paris: Ed. Donoël Gonthier, 1972.
    HIRATA, Helena (et al.) (orgs.). Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
    PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2017.
    SCHNEIDER, Graziela (org). A revolução das mulheres : Emancipação feminina na Rússia Soviética. São Paulo : Boitempo, 2017.
    TAYLOR, Richard; CHRISTIE, Ian (orgs.). Inside the film factory: New approaches to Russian and Soviet cinema. New York: Routledge, 1991.