Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Bueno Lisboa (Unicamp)
Minicurrículo
- Mestrando em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduado em Comunicação Social: Radialismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Tem como áreas de interesse o Cinema Popular, Teoria dos Gêneros Cinematográficos, Cinema e História. Pesquisa atualmente o cinema popular e político italiano dos anos 1960 e 1970.
Ficha do Trabalho
Título
- O Fenômeno dos Filoni: Os Ciclos do Cinema de Gênero na Itália.
Resumo
- Por mais de vinte anos a Itália foi um dos maiores mercados consumidores e exportadores de cinema de gênero do mundo tendo um modo de produção muito particular, em sua maioria, de coproduções internacionais que exploravam a momentânea popularidade de determinado gênero em ciclos chamados de filone. Este cinema popular italiano forneceria ao seu público, filtros difusos sobre o momento social e político do país, assim como a catarse emocional promovida por estímulos constantes.
Resumo expandido
- Da metade da década de 1950 até o início dos anos 1980 o cinema popular italiano seguia ciclos de produção chamados de filone. Nestes ciclos, um determinado gênero era explorado a exaustão em centenas de películas, como o western (spaghetti western), o épico (peplum) e o thriller de investigação (giallo), por exemplo, até que a estilo cansasse o público e outro filone então entrava em curso, geralmente seguindo um sucesso de bilheteria (Bondanella, 2009). Tendo como foco principal os cinemas populares do interior da Itália, a maioria dos exemplares dos filoni (plural de filone) também era realizada em coprodução, com a Alemanha e Espanha, por exemplo, o que garantia maiores orçamento e mercados exibidores (Frayling, 1998), formando equipes e elenco de várias nacionalidades. O presente trabalho tem como objetivo, portanto, explorar o fenômeno italiano dos filoni relacionando as particularidades da produção em ciclos com a sua elaboração idiossincrática dos gêneros e o seu significado cultural e social durante o período específico.
Schatz (1981), a partir de uma noção de Focillon, considera que os gêneros cinematográficos passariam por etapas dentro de um contexto de evolução genérica: primeiro um período experimental; seguida por uma fase clássica, um ponto de transparência formal na qual a ideologia é comunicada sem interferências; depois por um estágio de refinamento; e por último uma fase barroca, autoconsciente em sua forma e estilo. Por mais que este método de análise tenha sido criticado por Neale (2000), entendendo que os gêneros são elaborados por processos dinâmicos que impossibilitam a formação de etapas definidas, o método de evolução genérica de Schatz é uma ferramenta útil para pensarmos os filoni e seu processo de ciclos concomitantes e/ou consecutivos. Sobre o fenômeno é necessário uma reflexão sobre as distinções do que seria um cinema de fato popular, voltado para classes mais baixas, do cinema de massa, aquele que procura um público socialmente heterogêneo (Spinzolla, 1985), que superficialmente seria o caso dos filoni, um cinema comercial feito em larga escala.
Para Fisher (2014) os filoni exatamente por serem produtos de uma condição industrial, nos dizem mais a respeito de como discursos políticos eram recebidos e elaborados pela população do que filmes políticos autorais, marcados por uma interpretação particular. Para Marlow-Mann (2013) muitos filmes apresentavam textos incoerentes, nos quais a motivação de um personagem muitas vezes entrava em contradição com a aparente motivação ideológica do filme de modo geral. Mas é necessário considerar que o filone tinha como principal objetivo estimular o consumo por repetição como aponta Wagstaff (2013), sendo que mesmo que alguns cineastas italianos tinham uma visão gramsciana de que produtos de ordem popular penetravam nas classes trabalhadoras com mais facilidades e por isso tinha uma potencialidade transformadora maior do que a dita alta cultura, o cinema dos filoni era pensados para atrair o público do mezzogiorno italiano (mais pobre e rural) que ia ao cinema mais como evento social do que pelo filme em si.
Esta particularidade da recepção difusa seria o que Koven (2006) chama de cinema vernacular, sobre a qual a própria estrutura do filme era elaborada, distinguindo de modo claro os momentos de exposição da narrativa daqueles usados para retomar a atenção do espectador mais disperso, usando de estímulos constantes como cenas de nudez, assassinatos violentos e tiroteios. Ainda sobre esta questão Altman (1999) elabora a noção freudiana de economia psíquica para exemplificar a maneira como filmes de gêneros dão prazer ao espectador num processo progressivo de negação de valores culturais, até que a ordem (e a moral) é reestabelecida, exemplificando assim como o cinema de gênero pode funcionar de maneira ritual e ideológica simultaneamente.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: British Film Institute, 1999.
BONDANELLA, Peter. A History of Italian Cinema. Nova York: Continuum International Publishing Group, 2009.
FISHER, Austin. Revelation, conspiracy and the politics of violence in the poliziottesco. Journal of Italian Cinema & Media Studies, Vol.2, N. 2, 167-181, 2014.
FRAYLING, Christopher. Spaghetti Westerns: Cowboys and Europeans from Karl May to Sergio Leone. London: I.B. Tauris, 1998.
KOVEN, Mikel J. La Dolce Morte: Vernacular Cinema and the Italian Giallo Film. Oxford: Scarecrow Press Inc. 2006.
BAYMAN, Louis e RIGOLETTO, Sergio (eds.). Popular Italian Cinema. Nova Iorque: Palgrave Macmillian, 2013.
NEALE, Steve. Genre and Hollywood. London: Sightlines, 2000.
SCHATZ, Thomas. Hollywood Genres: Formulas, Filmmaking, and the Studio System. Nova Iorque: Random House, 1981.
SPINAZZOLA, Vittorio. Cinema e pubblico. Milan: Bompiani, 1985.