Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Michelle Cunha Sales (UFRJ/CEIS20)

Minicurrículo

    Professora Adjunta da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Investigadora Integrada do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, Coordenadora Científica do projeto “Á margem do cinema português: estudos sobre o cinema afrodescendente produzido em Portugal”, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2019, é curadora da Residência artística Afroeuropeans (CEIS20/TAGV/LIPA), realizada em Coimbra, Portugal.

Coautor

    Catarina Andrade (UFPE)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemas pós-coloniais e decoloniais em contextos de crise

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    A partir de uma perspectiva teórica que põe em causa e em discussão os contextos em que surgem um pensamento e uma prática artística pós-colonial em Portugal (ligada à tradição anglo-saxã) e decolonial latina, esta comunicação pretende explorar e discutir de que forma a programação do Festival Janela Internacional de Cinema do Recife e do Afrotela de Lisboa trazem uma filmografia cuja forma e conteúdo é capaz de agenciar novas dinâmicas de produção do cinema e novas relações com a imagem.

Resumo expandido

    Nos últimos anos, temos assistido um novo estágio cultural no Brasil: um período crítico aguçado pelas transformações do campo cultural brasileiro, fortemente marcado pela disputa à inclusão cultural e simbólica do povo negro ou afro-brasileiro, além do protagonismo dos estudos marcados pelo feminismo interseccional e negro, assim como a disputa pela produção narrativa de grupos políticos minoritários. Esse “novo estágio” acompanha as recentes mudanças políticas que culminaram não apenas no Golpe de 2016, como na eleição e vitória de um candidato de extrema-direita no Brasil. Não é demais referir que a cultura tem sido um espaço privilegiado de desmonte e de embate entre os “antigos” produtores culturais e as novas políticas neo-liberais em voga. Queremos ressaltar nesta comunicação que o cinema contemporâneo brasileiro tem aprofundado outras linhas de força, ampliando o debate acerca de novos engajamentos com a imagem e novos modos de relação, percepção e produção de cinema. Ressalto, a partir da segunda década dos anos 2000, um novo estágio das dinâmicas do pensamento e de uma produção cultural decolonial (Maldonado-Torres,2013) que aprofunda (não apenas no Brasil) tensões acerca da memória e do passado colonial e seus desdobramentos socio-culturais e estéticos. É nesse contexto que surge o Janela Internacional de Cinema do Recife, um festival que já conta com onze edições e que tem em suas sessões, painéis, como: o Janela Crítica e o Brasil distópico, sessões que têm vindo a contemplar novas vozes e que têm exibido filmes que propõem aprofundar a reflexão sobre a situação política brasileira atual e sua relação com a cultura, além de questões identitárias capazes de envolver temas como raça e gênero. Essa produção decolonial recente relaciona-se com a vasta tradição latino-americana que remonta ao cinema produzido nos anos sessenta, sobretudo aquele pensado a partir de manifestos como Toward a Third Cinema (1969), embora atualiza em termos de forma e conteúdo novos engajamentos com a imagem que a forma do filme-ensaio sintetiza como modo de produção e percepção de mundo que muitos realizadores brasileiros têm vindo a adotar.
    Em Portugal passa a circular a partir dos anos 2000 o cinema africano, que até então só era exibido regularmente na França, na Alemanha e no Reino Unido. A relação com o negro, com a representação do negro, e com o próprio passado colonialista passa a ser alterado a partir daí. Entretanto, também é na virada para a segunda década dos anos 2000 em Portugal que surge uma produção de filmes realizada por diretores afrodescendentes que impõem novas agendas no que diz respeito à identidade nacional, raça, gênero e sexualidade. Assim como no Brasil, em Portugal surgem novos espaços de exibição e circulação de imagens, como o Afro Tela (Lisboa), espaço de exibição para o cinema africano contemporâneo, dinamizado pelo ator e realizador guineense Welket Bungué. Assim como o Festival de Cinema do Recife, o Afrotela tem sido não apenas janela para o cinema negro português (Sales, 2019) como local de formação de novas redes de trabalho e de produção artística voltada para portugueses afrodescendentes.
    De que forma é possível pensar essas aproximações entre o cinema decolonial que está sendo produzido e exibido no Brasil em espaços como o Janela Internacional de Cinema do Recife e o cinema pós-colonial dos realizadores portugueses afrodescendentes? De que forma ao discutir um imaginário que passa por trânsitos culturais em comum, como a memória colonial, o trauma da escravidão e questões de raça e gênero, os filmes produzidos a partir dessas novas dinâmicas podem tocar-se? De que forma dialogam? E que tipo de pontos de contato podem ter em comum?
    Para tal digressão e análise, esta comunicação irá recair sobre a curadoria e a programação do Janela Internacional de Cinema de Recife de 2018 e a programação do Afro Tela de Lisboa, do mesmo ano.

Bibliografia

    BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial, In Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio-agosto de 201
    MALDONADO-TORRES, Nelson. A topologia do ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, Império e Colonialidade. In: SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul [livro eletrônico]. São Paulo: Cortez, 2013.
    SALES, Michelle. Pós-colonialismo(s) e o cinema brasileiro: a Retomada. Anais de Textos Completos do XXII Encontro SOCINE [recurso eletrônico] / Organização editorial Angela Freire Prysthon… [et al.]. São Paulo: SOCINE, 2018. P. 771- 776