Ficha do Proponente
Proponente
- Huli de Paula Balász (UFSCar)
Minicurrículo
- Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas – RS (2016) e mestranda em Imagem e Som pelo Programa de Pós-graduação em Imagem e Som – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) onde atualmente é representante discente. Integrou o grupo de pesquisa Cinemídia – Estudos sobre História e Teoria das Mídias Audiovisuais. Tem se dedicado à pesquisa acadêmica acerca da obra fílmica “Espaço Além- Marina Abramovic e o Brasil” onde investiga as relações entre cinema e performance.
Ficha do Trabalho
Título
- Espaço-Além: O filme como um espaço in-between Cinema e Performance
Seminário
- Interseções Cinema e Arte
Resumo
- Este trabalho analisará o documentário brasileiro Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil (The Space in Between – Marina Abramović and Brazil, Marco del Fiol, 2016) pelo viés da intermidialidade, na tentativa de compreender as relações entre cinema e performance. Especificamente será verificada a forma que esta relação intermidiática revela a dimensão subjetiva da personagem, a possível remidiação da performance no cinema e seus possíveis diálogos com o documentário performático.
Resumo expandido
- Tendo em vista o vasto campo de definições de performance, partimos das conceituações de Tania Alice e Richard Schechner, pressupondo como performance o périplo de Abramovic no filme de documentário Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil (Marco del Fiol, 2016).
Recentemente a teoria da intermidialidade ganha força e evidência dentro dos estudos fílmicos. Segundo Dick Higgins (2012) “a palavra ‘intermídia’ aparece nos escritos de Samuel Taylor Coleridge em 1812, exatamente em seu sentido contemporâneo – para definir obras que estão conceitualmente entre mídias que já são conhecidas” (idem, p. 46). Visto que é notório neste documentário o deslocamento da performance para o âmbito cinematográfico, ou o cinema se apropriando da performance, partiremos considerando que no filme de Fiol, Abramovic explora a intermídia entre cinema e performance analogamente ao que Dick Higgins faz ao afirmar em seu texto que, por exemplo, “na música Philip Corner e John Cage exploram a intermídia entre música e filosofia” (idem, p. 46).
Para Higgins, intermídia se trata de um conceito “muito perturbador para uma mentalidade compartimentalizada” (idem, p.45) e este raciocínio dialoga com os apontamentos de Irina Rajewsky, uma vez que a autora adota a ideia de um cruzamento de fronteiras midiáticas inferindo que a intermidialidade “refere-se às relações entre mídias, às interações e interferências de cunho midiático […] ou seja, qualquer fenômeno que – conforme o prefixo inter indica – ocorra num espaço entre uma mídia e outra(s). (RAJEWSKY, 2012, p. 52). Para Rajewsky não há uma mídia “pura” ou “individual” que seja delimitada por fronteiras. Seu trabalho vai no sentido de diluir esses limites problematizando os espaços intersticiais.
A tentativa de classificar o longa-metragem a partir de alguns aspectos da teoria de Rajewsky nos remete diretamente ao conceito de remidiação em Jay Bolter e Richard Grusin (1999) que parece se aplicar com facilidade a este caso. De acordo com os autores a remidiação é uma forma de se utilizar uma mídia antecessora para a criação ou suporte de uma obra, chamando atenção, desta maneira, ao meio em que a mídia se dá. Para eles trata-se de uma prática difundida de diferentes formas na qual a mídia digital tenta remidiar seus predecessores, ocorrendo, então, um deslocamento artístico entre meios.
Podemos citar ainda Walter Moser por sua destreza em nos aproximar melhor do conceito. Para o autor, na remidiação uma das mídias em questão veicula a outra. Moser tenta captar um “amplo conjunto de operações possíveis” no que se refere a remidiar, sendo elas: “reproduzir, re-(a)presentar, reutilizar, reciclar, revisitar, transferir, transcodificar, transpor etc”, (MOSER, 2006, p. 56) convindo também aqui o termo atualizar. Nesta linha de raciocínio poderia-se dizer que por meio da remidiação o filme Espaço Além desloca e atualiza as performances de Abramovic para o meio cinematográfico.
Consequentemente ainda, ao considerar o longa uma remidiação das performances de Abramovic, nos vem à tona a teoria do documentário, que se analisada sob o ponto de vista de Bill Nichols, nos faz pensar se o filme em questão não poderia ser entendido também como um documentário performático. Segundo o autor, este modo de documentário teve início nos anos 1980 e enfatiza os aspectos subjetivos de um discurso classicamente objetivo, visto que “sublinha a complexidade de nosso conhecimento do mundo ao enfatizar suas dimensões subjetivas e afetivas”. (NICHOLS, p.169). Para Nichols, neste modo há uma mistura livre de técnicas de expressão cinematográfica com técnicas de oratória que juntas objetivam tratar de questões intangíveis à ciência e à razão.
Essa mistura, característica de tal tipo de documentário, se faz presente no filme de Fiol ao se evidenciar a representação da percepção e descrição das vivências de Abramovic que ao serem expostas como pontos centrais no longa nos impelem a expandir a compreensão deste espaço da obra.
Bibliografia
- ALICE, Tania. Diluição das fronteiras entre linguagens artísticas: a performance como a (r)evolução dos afetos. 2014.
BOLTER, Jay David; Richard, GRUSIN. “Immediacy, hypermediacy, and remediation”. In Remediation: understanding new media. Cambridge, Massachusetts, London, England: The MIT Press, 1999.
NAGIB, L.; JERSLEV, A. (eds). Impure Cinema: intermedial and intercultural approaches to film. London, New York: I.B. Tauris & Co, 2014.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário.Trad. Mônica Saddy Martins.- 5ª ed.- Campinas, SP. Papirus, 2012.
PETHO, Ágnes (Ed.). The cinema of sensations: Cambridge Scholars Publishing, 2015.
_______Cinema and intermediality: the passion for the in-between. UK: Cambridge Scholars Publishing, 2011.
SCHECHNER, Richard. O que é performance? New York & London: Routledge, 2006.
RAJEWSKY, Irina. A fronteira em discussão. IN DINIZ, T.F.N.: IEIRA, A.S.(orgs.) Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: FALE/UFMG.