Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro de Alencar Sant’Ana do Nascimento (UFF)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFF e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Cinema da mesma instituição, fui bolsista no Núcleo de Audiovisual e Documentário do CPDOC/FGV, onde filmei e montei diversos documentários, dentre eles “Olhares” (Patricia Machado, Arquivo em Cartaz 2018). Recentemente, participei da II Jornada de Estudos do Documentário, na UFPE, onde fez a apresentação do artigo “Virtualizações e Atualizações em LA 92 e Let It Fall: Los Angeles 1982-1992”.

Ficha do Trabalho

Título

    Articulações cinematográficas da imagem de Rodney King

Resumo

    Através de análises de articulações das imagens do espancamento de Rodney King, em 1991, em dois filmes produzidos em dois momentos históricos diferentes (início da década de 1990 e segunda metade da década de 2010), faremos reflexões a respeito das formas através das quais esses filmes fazem uso dessas imagens dentro de seus discursos. Como elas são relacionadas aos momentos históricos que a eles interessam? O que podemos pensar a partir dessas imagens ao lançar sobre elas um olhar diaspórico?

Resumo expandido

    A apresentação tem como proposta uma reflexão acerca das articulações cinematográficas da imagem do espancamento de Rodney King, em 1991. Partindo da hipótese amplamente aceita de que a filmagem e veiculação do acontecimento teve repercussões tanto na mídia hegemônica quanto em práticas audiovisuais de resistência antirracista dentro (e fora) das comunidades negras norte-americanas, lançaremos um olhar sobre os legados dessas imagens e discussões na produção cinematográfica em dois momentos históricos (início da década de 1990 e segunda metade da década de 2010). Para tal, discutiremos algumas obras e práticas.

    A primeira obra abordada será “Birth Of A Nation 4*29*1992”, de 1993, documentário experimental de baixo orçamento que tem como foco os LA riots, como ficou conhecida a revolta racial ocorrida na cidade de Los Angeles a partir da absolvição dos policiais que cerca de um ano antes haviam sido filmados espancando Rodney King. O diretor Matthew McDaniel insere a imagem em questão em um contexto impossível de ser ignorado: a cultura hip hop, que na década de 90 seguia seu caminho rumo ao mainstream da indústria musical norte-americana, produzindo opiniões e músicas que refletiam e discutiam amplamente a problemática da relação entre estado e população negra. Através do filme, buscamos ver não só o legado da imagem de King nesse contexto cultural efervescente, mas também as formas através das quais se deu essa articulação por McDaniel.

    A segunda obra trazida nessa proposta de apresentação é “LA 92”, de T.J. Martin e Daniel Lindsay. Enquanto os outro documentário era de 1993, “LA 92” é de 2017, portanto 25 anos após os LA riots. A retomada da imagem de Rodney King se aproxima da associação feita por Spike Lee no início de “Malcolm X”, em 1992, mas, ao invés de atualizar discursos, LA 92 atualiza a imagem para um contexto de novas discussões a respeito da violência policial. Esse novo contexto, do qual o movimento #BlackLivesMatter teve e tem um papel fundamental, desencadeou um amplo conjunto de produções audiovisuais, de forma alguma restritas ao cinema. A prática do copwatch, por exemplo, embora surgida há mais de 20 anos, se espalha como uma nova práxis dentro das comunidades negras norte-americanas no pós-2013 (BOCK, 2016).

    Portanto, a proposta na qual a apresentação está inserida, embora tenha a produção cinematográfica como foco principal, a entende como parte de uma matriz social, na qual também estão outras práticas discursivas (o hip hop, os movimentos antirracistas, o black twitter, o copwatch etc.) com as quais os filmes buscam dialogar. Nesse sentido, alguns autores surgem como fundamentais para o tipo de análise a ser feita, como Stuart Hall e Paul Gilroy. Apontamos também o trabalho historiográfico de Phyllis R. Klotman e Janet K. Cutler como importante para a inserção das obras num contexto mais amplo.

    Por fim, retomando Paul Gilroy, pretendemos brevemente sugerir o entendimento dessa pesquisa e dos temas abordados em uma perspectiva diaspórica, lembrando que essa produção audiovisual antirracista trazida não se restringe aos Estados Unidos em muitas de suas características. Deixaremos como sugestão reflexões a respeito de tais práticas em um contexto do Atlântico negro, a fim de possibilitar olhares diaspóricos sobre as realidades americana e brasileira.

Bibliografia

    BOCK, Mary Angela. Film the Police! Cop-Watching and its Embodied Narratives. Journal of Communication 66, p.13-34, 2016.
    GILROY, Paul. O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
    HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Organização de Liv Sovik. Tradução de Adelaine LaGuardia Resende et al. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasilia: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
    KLOTMAN, Phyllis R. CUTLER, Janet K. Struggles for Representation: African American Documentary Film and Video. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press, 1999.
    NICHOLS, Bill. The Trials and Tribulations of Rodney King. IN Blurred Boundaries: questions of meaning in contemporary culture. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press, 1994. (p. 17-42)