Ficha do Proponente
Proponente
- Annádia Leite Brito (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutoranda em Tecnologias da Comunicação e Estéticas no PPGCOM-UFRJ, bolsista CAPES e mestre em Poéticas da Criação e do Pensamento em Artes no PPGARTES-ICA|UFC. Formada pela Escola de Audiovisual da Vila das Artes-PMF, especialista em Audiovisual em Meios Eletrônicos e graduada em Direito, ambos pela UFC, trabalha na realização de obras audiovisuais e enfatiza estudos teóricos e práticos no campo da imagem.
Ficha do Trabalho
Título
- O registro e a invenção em A festa e os cães e Monstro
Seminário
- Interseções Cinema e Arte
Resumo
- Em seguimento à comunicação do ano anterior, passa-se ao caso de mais dois trabalhos cearenses que se situam entre as imagens fixas e em movimento, no espectro do conceito de fotográfico em Bellour (2008): A festa e os cães, de Leonardo Mouramateus, e Monstro, de Breno Baptista. São investigadas suas estruturas formais e diegéticas estabelecendo aproximações e afastamentos com (nostalgia), de Hollis Frampton, A balada da dependência sexual, de Nan Goldin, e seu episódio na série Contatos.
Resumo expandido
- Em seguimento à comunicação do ano anterior, na qual foi analisada a obra Flash Happy Society (2009), de Guto Parente, passa-se ao caso de mais dois trabalhos cearenses que se situam entre as imagens fixas e em movimento, no espectro do conceito de fotográfico em Bellour (2008): A festa e os cães, de Leonardo Mouramateus (2015), e Monstro (2015), de Breno Baptista. Ambos os trabalhos datam do mesmo ano, foram feitos por jovens realizadores recém formados na graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará e mesclam imagens de arquivo em fotografia impressa com o registro em vídeo. Ademais, as duas obras versam de maneiras diferentes sobre questões da memória, da invenção, do afeto e dos trânsitos.
A festa e os cães é um documentário realizado pouco tempo antes de Mouramateus se mudar de Fortaleza para Lisboa. Em planos estáticos, o realizador fala em voz off sobre a procedência das fotografias que começam a ser mostradas e empilhadas – a câmera analógica comprada e utilizada até quebrar e seu período de uso entre dezembro de 2013, durante a realização de um curta, e abril de 2014. O artista narra suas experiências quando da captura das fotografias, fala sobre a iminência de ir embora e conversa com outros três amigos, que aparecem nas imagens e também refletem sobre suas trajetórias de vida, incluindo partidas e chegadas, e projetando futuros possíveis e não realizados.
Monstro reúne fotografias analógicas digitalizadas por scanner e algumas imagens em vídeo de momentos de extrema intimidade entre o realizador e Gabriel Rett, seu ex-namorado. A fisicalidade dos corpos mostrados ganha maior dimensão ao ser somada à materialidade pressuposta por essas fotos analógicas em seu dispositivo inicial e aos resíduos de poeira ou pêlos sobrepostos à camada imagética durante a digitalização. A presença de Baptista é constante na voz off e como operador de câmera – aquela para o qual Rett olha, sorri e se masturba. Seu fluxo enunciativo permanece sempre sob a mesma entonação enquanto narra fatos, sonhos, sentimentos e delírios, estabelecendo sobre as imagens tomadas durante o relacionamento uma camada ficcionalizante.
A festa e os cães e Monstro se localizam a partir do momento da tomada fotográfica e fixação das imagens até suas diferentes formas de visualização. Aproximam-se de (nostalgia) (1971), de Hollis Frampton, de A balada da dependência sexual (1980-1986), de Nan Goldin, e de seu episódio da série Contatos (2000) não só por suas maneiras de mostragem, mas por se posicionarem entre o registro e a invenção, o que se diz e o que se vê, e entre a proximidade dos afetos e o descolamento das ironias. São formas de falar sobre si de maneira obliqua (MOURÃO, 2015), compondo também a imagem de uma geração através do embaralhamento de temporalidades propiciado pela imbricação entre o estático e o móvel.
Bibliografia
- BELLOUR, Raymond. Concerning “the photographic”. In: BECKMAN, Karen; MA, Jean (Orgs.). Still moving: between cinema and photography. Durham, NC: Duke University Press, 2008.
__________. Entre-imagens: foto, cinema, vídeo. Campinas, SP: Papirus, 1997.
DUBOIS, Philippe. A imagem-memória ou a mise-en-film da fotografia no cinema autobiográfico moderno. Revista Laika, v. 1, n. 1, Jul. 2012. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2018.
_______________. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
MOURÃO, Patrícia. Um jogo entre “eu” e “mim”: (nostalgia), de Hollis Frampton. In: DUARTE, Theo; MOURÃO, Patrícia (Orgs.). Cinema estrutural. São Paulo: Aroeira, 2015.