Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabio Luciano Francener Pinheiro (Unespar)

Minicurrículo

    Doutor (História, Teoria e Crítica) pelo Programa de Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP). Mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Possui Especialização em Produção Independente em Cinema pela UNESPAR e em Administração pela UNIFAE. É graduado em Comunicação Social pela PUC-PR. Cursou Letras na UFPR. Professor Adjunto da Graduação em Cinema da UNESPAR II/FAPR, onde desenvolve pesquisa sobre Audiovisual, História e Narração e coordena projetos de extensão em Narrativa Seriada e Teorias d

Ficha do Trabalho

Título

    Os race films e a resistência afro-americana no período silencioso

Resumo

    Ignorados pela historiografia do cinema nos Estados Unidos, os race films integram uma categoria de produções criadas e produzidas e estreladas por afro-americanos e exibidas em um circuito alternativo para plateias negras. Dos cerca de 500 títulos produzidos entre 1915 e 1955, pouco mais de cem foram preservados. Circulando à margem dos estúdios, estes filmes foram um espaço de resistência aos estereótipos do cinema mainstream e de afirmação de uma identidade afro-americana.

Resumo expandido

    Marginalizados pelos livros de história do cinema dos Estados Unidos, os race films formam uma categoria de filmes produzidos, dirigidos e interpretados por afro-americanos e exibidos em circuitos alternativos. De 1915 e 1955 foram produzidos cerca de 500 títulos desta categoria, dos quais pouco mais de cem títulos sobreviveram. Eles surgiram como reação à pouca visibilidade de personagens negros nos filmes de Hollywood, à insistência de representações de negros em situações cômicas, humilhantes ou servis e à limitação de papéis para atores e atrizes negros. Foram ainda um contraponto a imagens como as de The Watermelon Eating Constest, filme do catálogo da Edison Company, nas versões de 1896 e 1900, em que negros aparecem disputando quem come melancia mais rápido.
    Além do elenco composto por afro-americanos, um race film, para ser categorizado desta forma, precisava ter sido criado e produzido por um estúdio independente, fora de Hollywood e ainda divulgado em jornais da imprensa afro-americana. A ênfase no uso de termos como race film e race picture era estratégica, pois servia para deixar claro que os filmes, geralmente com baixos orçamentos, foram produzidos e criados por e para o público afro-americano, diferenciando-se assim de outros filmes produzidos por brancos e com elenco negro.
    O conceito de race film – também chamados de colored film, race motion pictures, race picture – é amplo e abrange especificidades baseadas em segregação racial. Nos estados do Sul dos Estados Unidos, as produções eram exibidas às plateias negras que não podiam frequentar salas de cinema. Tal medida forçou a criação de um circuito de exibição alternativo, com cinemas dirigidos e programados por proprietários negros. Já nas cidades de estados do Norte, os race films eram exibidos nas sessões conhecidas como Midnight Rambles – as exibições que aconteciam após a meia-noite e eram exclusivas para plateias de negros que não eram admitidos durante o dia nas sessões regulares. Assim, ao mesmo tempo em que faziam circular imagens positivas do público negro, os produtores dos race films também exploram economicamente um nicho enorme.
    Os filmes da categoria desafiavam os estereótipos e as representações caricaturais e negativas dos filmes exibidos no circuito comercial. A mais conhecida delas, O Nascimento de uma Nação (1915) motivou reações intensas da comunidade afro-americana, o que também resultou em respostas cinematográficas, sendo a mais conhecida delas The Birth of a Race (1918). Porém antes mesmo do épico racista de David Griffith, havia um Black Cinema incipiente, que procurava criar representações positivas dos afro-americanos. Os primeiros race films foram produzidos por institutos de educação para negros no início da década de 1910, nos estados sulistas, dentro do espírito Uplift – uma estratégia que buscava inserir os escravos libertos na sociedade americana após 1865, ao mesmo tempo que pregava a qualificação profissional como caminho para a afirmação social.
    Alguns dos race films mais populares no período silencioso foram realizados pela Lincoln Motion Pictures, companhia fundada pelo ator negro Noble Johnson em 1916. No mesmo ano a companhia lança seu primeiro filme, Realization of a Negro Ambition, de 20 minutos, sobre um engenheiro negro que salva uma mulher branca e ganha a oportunidade de ascensão na carreira da companhia de petróleo onde trabalha. Outros pioneiros importantes são William Foster, o primeiro afro-americano a criar uma companhia para produzir filmes apenas com negros em 1910 e Oscar Micheaux, escritor, produtor, roteirista e realizador, que produziu 30 filmes entre 1919 e 1948.
    Nesta comunicação, partimos das problematizações e tentativas de delimitação e definição dos race films em suas vertentes histórica, social e estética em Gaines (2011), Reid (2005) e Young (2002) e procuramos sintetizar os traços principais desta categoria, bem como apontar alguns de seus realizadores e obras mais expressivos.

Bibliografia

    GAINES, Jane. Fire and Desire: mixed race movies in the silent era. Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 2001.
    MAURICE, Alice. The cinema and its shadow : race and technology on early cinema. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.
    REID, Mark. Black Lenses, Black Voices : African American in Film Now. Lanham: Roman & Littlefield, 2005.
    ROBINSON, Cedric J. Forgeries of memory and meaning : Blacks and the regimes of race in American theater and film before World War II. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2007.
    STEWART, Jacqueline Najuma. Migrating to the movies : cinema and Black urban modernity. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2005.
    YOUNG, Earl James, Jr. The life and lork of Oscar Micheaux : pioneer black author and filmmaker. 1884 -1951. San Francisco, Kmt Publications, 2002.