Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fatimarlei Lunardelli (Unisinos)

Minicurrículo

    Jornalista formada pela UFRGS, mestre e doutora em cinema pela ECA-USP. Publicou os livros Ô Psit: O Cinema Popular dos Trapalhões (1996); Quando Éramos Jovens: A História do Clube de Cinema de Porto Alegre (2000) e A Crítica de Cinema em Porto Alegre na Década de 1960 (2008) e é autora de artigos em livros e revistas. É professora no Curso de Realização Audiovisual da Unisinos, RS; associada da Abraccine e vice-presidente da Accirs – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativas da crítica: resgate e história na transformação dos meio

Mesa

    A Associação de Críticos e a Memória do Cinema Brasileiro

Resumo

    A partir do livro “Trajetória da Crítica de Cinema no Brasil”, a comunicação objetiva compreender como a crítica constrói relatos de si no contexto das transformações tecnológicas e culturais dos meios. Ancorados pela criação da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, os profissionais buscam novas formas de legitimidade e assumem a tarefa de contar a própria história. Na interface das pesquisas jornalística e acadêmica, emerge um olhar tensionado pela necessidade de preservar a memória.

Resumo expandido

    Em um período muito rápido, de oito anos, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, fundada em 2011, articulou um projeto editorial de resgate e difusão da memória do cinema brasileiro, constituído por uma série de livros que iniciou com o ranqueamento dos 100 melhores filmes, escrutinados entre os críticos associados. Dos oito livros, entre lançados e em preparação, “Trajetória da Crítica de Cinema no Brasil” traz, pela primeira vez, um amplo e completo levantamento da profissão que evoluiu e vem se transformando, com o próprio cinema, desde a primeira metade do século XX.
    Resultado de notável trabalho coletivo, a obra reúne artigos de 24 associados, professores e pesquisadores, que apresentam, do Acre ao Rio Grande do Sul, o desenvolvimento da crítica em 23 estados brasileiros. A crítica no País, até agora objeto de pesquisas acadêmicas pontuais, circunscritas a personagens ou períodos, ganha uma narrativa por ela mesma. Junto com os artigos históricos, escritos com base nas experiências e pesquisas de cada crítico em sua região, a publicação trata do quadro atual e traz textos específicos sobre as mulheres na crítica no Brasil, formação das entidades de associados e a internet.
    Dos relatos emerge o processo de consolidação da crítica como um gênero diferente do noticiário jornalístico ou da crônica. A visão panorâmica permite que se identifique concomitâncias na cultura cinematográfica, com especial destaque para o cineclubismo e a cinefilia e seu papel formador de públicos e críticos. A criação dos cadernos culturais nos jornais, o surgimento das revistas especializadas, o anseio de aprofundamento do olhar sobre os filmes se desenham na tensão das políticas editoriais, nas pautas de engajamento pelo cinema brasileiro e nas contingências de mercado.
    Há uma conexão, entre as histórias regionais e os tempos históricos, que se revela na visão comparativa que a obra panorâmica oferece. Nos passos da Cahiers du Cinéma, criada em 1951 na França, foi lançada no Brasil a Revista de Cinema, no ano de 1954. Ao mesmo tempo em que recebia e debatia as novidades de fora, a crítica se colocava em campo nas discussões sobre o Cinema Novo. Ainda que os veículos de comunicação se concentrem no Sudeste, o que surge da visão historiográfica do livro é a importância e o significado que assumem, para o debate e a reflexão, os jornais locais.
    Diferente do crítico tradicional, preso à agenda jornalística, os novos profissionais da crítica buscam outros espaços e formas de circulação do conhecimento. O projeto editorial da Abraccine, que combina textos de profissionais que atuam na mídia e acadêmicos vinculados às universidades, produz novas intersecções dialógicas no campo dos estudos da crítica de cinema no País. Ao produzir um livro sobre a própria trajetória, a crítica projeta uma imagem de si que é visão panorâmica, gesto de análise e reflexão. Num momento de reconfiguração da imprensa, com a redução das publicações impressas e a ampliação das possibilidades com a internet, torna-se fundamental para a crítica conhecer sua história e preservar sua memória.

Bibliografia

    BAZIN, André. O cinema: ensaios. SP: Brasiliense, 1991.
    BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
    LUNARDELLI, Fatimarlei. A crítica de cinema em Porto Alegre na década de 1960. Porto Alegre: SMC/Editora da Ufrgs, 2008.
    MARTIÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1997.
    ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 1991.
    SILVA, Paulo Henrique. Trajetória da Crítica de Cinema no Brasil. Belo Horizonte: Abraccine/Letramento, 2019.
    THOMPSON, Jonh B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
    TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997.
    XAVIER, Ismail. Sétima arte: um culto moderno. São Paulo: Perspectiva/Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1978.
    WILLIAMS, Raymond. Cultura. RJ: Paz e Terra, 1992.