Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Maia de Jesus (UFBA)
Minicurrículo
- Guilherme Maia é compositor, tem graduação e mestrado em Música pela UNIRIO, e doutorado em Comunicação pela UFBA. É professor da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA. É autor do livro Elementos para uma poética da música dos filmes (Appris, 2015) e co-organizador dos livros O cinema musical na América Latina: aproximações contemporâneas (Edufba, 2018) e Ouvir o documentário: vozes, música e ruídos (Edufba, 2015).
Coautor
- Diego Martin Haase (UFBA)
Ficha do Trabalho
Título
- Cantares de Lucrecia: o design musical da trilogia de Salta
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Resumo
- Nossa proposta é apresentar o resultado de um processo de análise do projeto musical da trilogia salteña de Lucrecia Martel. A partir de um spotting das intervenções de música na banda sonora, e em diálogo com a recepção teórico-crítica da obra de Martel, defendemos que, embora a diretora declare ser inábil na utilização do recurso da música, a análise da trilogia saltenã nos fornece fortes indícios de um modo de fazer sofisticado, de um design musical singular que esculpe um estilo.
Resumo expandido
- Em entrevista concedida a David Oubinã (2007, p.71) Lucrecia Martel faz declarações a respeito do que pensa sobre o uso de música nos seus filmes. “Colocar música em um filme, primeiro eu deveria saber de música.” Martel diz que a música é algo complexo que a deixa perdida e que só se sente confortável usando-a como um “barulho confuso que aparece em uma festa ou no rádio”. A diretora diz, ainda, que não lhe ocorre nenhuma ideia sobre como fazer com que a música aporte alguma coisa à narração. “Não porque ache que está errado”, diz Martel, “mas porque não sei usar esse recurso de fato”.
Em diálogo com o que diz Martel, e com o modo como a poética musical da diretora é percebida pelo pensamento teórico-crítico de pesquisadores como Natalia Cristofoletti Barrenha (2011), Wolfgang Bongers (2011), Eleanora Rapan e Gustavo Costantini (2016) nossa comunicação é o relato de um processo de análise que parte de um spotting dos momentos em que a música intervém na banda sonora dos filmes La ciénaga (2001), La niña santa (2004) e La mujer sin cabeza (2008), a famosa trilogia salteña, tendo como eixos de observação e de interpretação: a) a relação das canções com a fábula e com a narrativa; b) as escolhas da diretora no eixo dos gêneros musicais; c) o lugar ocupado pelas canções em relação à diegese; d) o capital cultural e simbólico da canção e dos intérpretes no campo (Bourdieu); e) uma exegese do modo como a canção afeta o filme (e vice-versa).
O caminho analítico até agora percorrido nos autoriza a defender de que o projeto musical de Lucrecia Martel, muito mais do que um “barulho confuso que aparece em uma festa ou no rádio”; muito além de estratégias articuladas por alguém que afirma não saber utilizar a música em seus filmes, se revela um sistema de coerências (Ricoeur, 1997) sofisticado, construído por meio de escolhas que contribuem para a essência (neo?)realista das obras, aderem expressivamente à fábula e à narrativa audiovisual, mobiliza memórias e afetos. Como tentaremos demonstrar, por meio de uma estratégia fundamentada em canções majoritariamente extraídas do folclore argentino e da tradição da cumbia, a banda sonora da troligia salteña contém marcadores que nos revelam um modo singular de fazer, um design musical coerente e raro, um estilo, enfim.
Bibliografia
- BARRENHA, Natalia Christofoletti. A experiência do cinema de Lucrecia Martel: Resíduos do tempo e sons à beira da piscina. Campinas, SP, 2011.
BONGERS Wolfgang. Topografías accidentales y voluntarias en el cine de Lucrecia Martel y Lisandro Alonso. La Fuga, 12, 2011, ISSN: 0718-5316.)
PIEDRAS, Pablo.; DUFAYS, Sophie (org.). Conozco la canción. Melodías populares en los cines posclásicos de América Latina y Europa. 1ed.Buenos Aires: Libraria, 2018
OUBIÑA, David. Estudio Crítico sobre La Ciénaga, Entrevista a Lucrecia Martel. Buenos Aires: Editora Picnic, 2007.
RAPAN, Eleonora e COSTANTINI, Gustavo. Sonido e inmersión en la trilogía salteña de Lucrecia Martel. Revista de la Asocición de Estudios de Cine y Audiovisual. Nº 13. 2016.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo III. Trad. Roberto Leal Ferreira. Campinas: Papirus, 1997.