Ficha do Proponente
Proponente
- Natália Lago Adams (PPGCom/UTP)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná (PPGCom/UTP), linha de pesquisa Estudos em Cinema e Audiovisual, no qual é bolsista pela CAPES. Graduada pela Universidade Positivo no curso de Comunicação Social — Publicidade e Propaganda (2016). É membro do Grupo de Pesquisa Desdobramentos Simbólicos do Espaço Urbano em Narrativas Audiovisuais (GRUDES – PPGCom/UTP). Atualmente, pesquisa os cinemas de fluxo, contemplação e cotidiano.
Ficha do Trabalho
Título
- Jonas Mekas, cineasta e colecionador de memórias
Resumo
- O estudo contribui para a compreensão do legado de Jonas Mekas à sétima arte ao examinar seu trabalho não apenas como realizador, mas também como fundador do Anthology Film Archives — centro de preservação, restauração, estudo e exibição de filmes experimentais e vanguardistas, cujo objetivo é manter viva a história de um cinema independente e marginalizado. Tal mirada verifica o pressuposto de que suas realizações são atravessadas, simultaneamente, pela experiência e preservação de memórias.
Resumo expandido
- Ao pensar nos ditos filmes-diários de Jonas Mekas, é frequente que a primeiro momento nossa mente ocupe-se da poesia imagética do cotidiano; é marca distintiva de seu trabalho a constante tentativa de capturar a experiência do “aqui e agora”, seja ele uma furtiva revelação da beleza nas coisas ao seu redor ou um momento aparentemente pouco extraordinário de sua rotina. Nas palavras do próprio em seu “Anti-100 years of cinema manifesto”, a missão dos cineastas seria filmar e celebrar a beleza do mundo e do espírito humano (MEKAS, 2013), tarefa que cumpriu até seus últimos dias de vida. A própria ideia de diário remete ao retrato de experiências do presente, uma vez que é relativo aos acontecimentos (e suas consequentes sensações) de um “hoje”.
No entanto, considerando que as obras de Mekas são, em grande parte, recortes e colagens de captações temporalmente distantes, compreendendo anos de gravações e momentos distintos de sua trajetória, talvez seja mais pertinente pensar em seus filmes não como diários, mas sim como álbuns de fotografias — como aqueles de família em que, mesmo frequentemente organizados em ordem cronológica, são carregados de lapsos temporais que nos delegam a tarefa de preencher os vazios entre uma imagem e outra para reconstruir o momento do “aqui e agora” registrado. É o que o cineasta lituano faz, por exemplo, quando insere intertítulos ou locuções entre suas imagens em movimento na tentativa de remontar ao que sentia no ato de sua feitura. Deste ponto de vista, ao capturar e preservar o presente já vivido para, mais tarde, reconstruí-lo em suas películas, Mekas parece estar simultaneamente criando e colecionando futuras lembranças.
Quase tão numerosos quanto as análises da experiência na obra de Jonas Mekas são os estudos acerca da memória na mesma, como os de Ikeda (2012) e Mourão (2012) — aos quais este trabalho se reportará. Os próprios poemas e relatos escritos do autor evidenciam a questão, como em seus livros “I had nowhere to go”, “Daybooks 1970-72” e “My night life”, onde relembra tempos idos ao reunir materiais de anos anteriores. No entanto, esta pesquisa volta o olhar para a atuação de Mekas enquanto fundador do Anthology Film Archives (AFA), centro de preservação, restauração, estudo e exibição de filmes, dedicado especialmente ao cinema experimental, vanguardista e independente americano.
Neste âmbito, a pesquisa será apoiada, especialmente, no trabalho de Alfaro (2012) sobre o AFA, bem como no site oficial do centro e nas escrituras, entrevistas e manifestos de Mekas acerca do assunto. Parte-se do pressuposto de que os esforços do cineasta para possibilitar a exibição de tais películas e, ao mesmo tempo, impedi-las de cair no esquecimento contribui para a compreensão de que a substância de seu trabalho como cineasta consiste na memória, seja em seu momento de criação ou de recordação. Se “a preservação se guia pela a fruição que ela permitirá neste ‘eternamente aqui e agora’” (FOSTER, 2011), o oposto se verifica tanto nas filmagens e escrituras de Jonas Mekas, quanto em sua atuação no AFA: a feitura parece ser guiada pela preservação do momento que ela permitirá.
O trabalho idealizado por Mekas no AFA serve, ainda, como possível resposta para os desafios — por este evento colocados em pauta — de ordem técnica, ética, estética, social, educacional e política que permeiam a tarefa de preservação da memória, hoje, na produção audiovisual brasileira. De acordo com o site da instituição aqui enfocada, são mais de 25.000 títulos sob sua custódia, sendo cerca de 900 deles restaurados pela própria, somados a 2.000 registros de entrevistas, palestras e mesas redondas com cineastas, 10.000 livros e 24.000 arquivos — como áudios, fotografias e documentos — preservados, além de aproximadamente 900 exibições anuais.
No dia 23 de janeiro de 2019, o Anthology Film Archives anunciou o falecimento de Jonas Mekas. Este trabalho é em sua memória.
Bibliografia
- ALFARO, Kristen. Moving cinema: experimental distribution and the development of Anthology Film Archives. 2012. Dissertação (Mestrado em Arts) — Department of Film Studies, Concordia University, Montreal (Canadá).
FOSTER, Lilia. Jonas Mekas e o Anthology Film Archives. 2011. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2019.
IKEDA, Marcelo. Os filmes-diários de Jonas Mekas: as memórias de um homem que se filma. Rumores (USP), v. 1, p. 220-232, 2012.
MEKAS, Jonas. Manifesto anti-100 anos de cinema. In: VALE, Glaura Cardoso; TORRES, Junia (orgs.). forumdoc.bh.2013. 1 ed., Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2013, p. 228-229.
MOURÃO, Patrícia. Experiência, registro e montagem em dois filmes-diário de Jonas Mekas. Anais… 16º Encontro Socine da Socine, 2012, São Paulo. Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual – SOCINE, 2012. Disponível em: . Acesso em: 16 abr. 2019.