Ficha do Proponente
Proponente
- Luiza Cristina Lusvarghi (FMU SP)
Minicurrículo
- Luiza Lusvarghi é jornalista, pesquisadora, coordena o grupo de Cinema e Audiovisual da
Associação Latino-Americana de Investigadores de Comunicação. É diretora da Abraccine. É autora de De MTV a Emetevê (2007), Cinema Nacional e World Cinema (2010), O Crime
como Gênero na Ficção Audiovisual da América Latina (2018), e colaboradora de revistas
nacionais e internacionais. Atualmente, é professora de Pós-Graduação nos cursos de
Cinema e Produção Audiovisual na FMU.
Ficha do Trabalho
Título
- Roma: realismos e imaginário mexicano no cinema de Cuarón
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Resumo
- O filme Roma, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, vem colecionando polêmicas. Lançado pela Netflix em dezembro de 2018, foi indicado em 10 categorias do Oscar, e ganhou como Melhor Diretor, Melhor Fotografia, nas categorias principais, e Melhor Filme Estrangeiro. Foi premiado no Globo de Ouro 2019, e no Festival de Veneza em 2018. O filme se filia a princípios que nortearam o neo-realismo e vem influenciando a cinematografia latino-americana desde a década de 1950.
Resumo expandido
- O filme Roma, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, coleciona polêmicas e contribuiu para um feito histórico. Lançado pela Netflix em dezembro de 2018, foi indicado em 10 categorias do Oscar, ganhou como Melhor Filme e Melhor Diretor, além de receber estatueta como Melhor Filme Estrangeiro, uma conquista levando em conta o boicote da indústria às produções cinematográficas do grupo de streaming. Foi premiado no Globo de Ouro 2019, e no Festival de Veneza em 2018. Roma foi uma das 8 produções originais Netflix em longa-metragem para a América Latina lançadas até 2018, e a segunda produção mexicana após A Cuarta Compania (2017).
Em preto e branco, longos planos-sequência, o filme remete à estética do neorrealismo italiano, uma característica de obras do chamado circuito independente de cinema de cunho social e político, e aos novos cinemas, presentes na América Latina, mas em outros países como Filipinas, em que desponta a obra de Brillante Mendoza. Certamente, Roma possui ainda vínculos com o movimento realista e nacionalista do próprio cinema mexicano, oscilando entre referências de obras como Maria Candelaria (1944) e Los Olvidados (1950). O filme retrata a vida da jovem como babá de uma família no bairro de elite Colonia Roma, e sua relação apaixonada com as quatro crianças da casa, Toño (Diego Cortina Autrey), Paco (Carlos Peralta), Pepe (Marco Graf) e Sofi (Daniela Demesa), além das idas ao cinema, a única diversão.
No começo, acompanhamos a primeira experiência amorosa de Cleo com Fermín (Jorge Antonio Guerrero) um rapaz que ela descobre mais tarde estar envolvido em operações paramilitares do grupo Los Falcones. Na cena em que ficam juntos pela primeira vez, os indícios de que o jovem, encantado com artes marciais possa ser uma figura violenta vão lentamente se insinuando, delineados somente pela exibição de suas habilidades. Os homens são figuras ausentes e fugazes no universo doméstico de Cuarón. A figura paterna, representada pelo sr. Antonio (Fernando Grediaga), por vezes é somente um plano detalhe de mãos ao volante. Trata-se de uma família de mulheres, e nela a figura da babá é mais importante do que a da mãe, Sofia (Marina de Tavira) que aparece como uma vítima da sociedade machista, abandonada pelo marido sedutor. O diretor Cuarón teria se inspirado na própria infância para traçar esse retrato sensível dos conflitos domésticos e da exclusão social em seu país durante a década de 1970, quando o Partido Revolucionário Institucional (PRI) promove uma guerra sem tréguas contra a esquerda e os movimentos populares. Na cena em que Cleo entra numa loja de móveis com a avó, a sra Teresa (Verônica Garcia), estudantes são mortos a tiros durante o Massacre de Corpus Christi, também conhecido por El Halconazo, símbolo da desigualdade da pseudodemocracia mexicana. Um filme de impacto, que desnuda as relações entre a classe média mexicana e as camadas mais pobres, e retrata a invisibilidade dos povos indígenas na sociedade mexicana. Em seu mais famoso filme, E sua me também (Y su Mamá también, 2001), personagens como Cleo apenas compunham o ambiente em que se desenvolvia o triângulo amoroso dos protagonistas vividos pelos atores Diego Luna e Gael Garcia Bernal, envolvidos com Maribel Verdú, reafirmando um projeto nacionalista que remete aos projetos da Era de Ouro, em que os indígenas e habitantes da zona rural são vistos de forma idealizada e ingênua.
Bibliografia
- AVELLAR, José Carlos Avellar, A ponte clandestina, teorias de cinema na América Latina, Rio de Janeiro/São Paulo, Editora 34 – Edusp, 1995
BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. Companhia das Letras. São Paulo: 2003.
CANCLINI, Nestor G.. Culturas Híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidad. Barcelona: Editora Paidós, 2001.
FABRIS, Maria Rosario. O neo-realismo cinematográfico italiano. EDUSP, São Paulo: 1996.
GARCÍA RIERA, Emilio, “Historia documental del cine mexicano”, vol.1 Universidad de Guadalajara, et. al., Guadalajara, Jalisco, 1992.