Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael Leal (PUC-Rio)

Minicurrículo

    Rafael Leal é doutorando em Cinema (UFF) com tese sobre roteiro nas narrativas imersivas, professor de Roteiro Audiovisual (PUC-Rio), roteirista dos longametragens Cine Privê (Cinelândia) e Cedo Demais (Raccord/FOX) e criador das séries A Dona da Banca (CineBrasilTV) e Jungle Pilot (Universal). Consultor de roteiro e desenvolvimento criativo, Rafael também é sócio da Dédalo, produtora especializada na criação de obras audiovisuais para diversas mídias.

Ficha do Trabalho

Título

    Vozes na cabeça – possibilidades da narração no realismo imersivo

Mesa

    Narração em voz-over como recurso criativo do roteiro cinematográfico

Resumo

    No contexto das narrativas imersivas, em que o espectador (interator) dispõe-se dentro da cena, e não mais diante dela como nas narrativas de tela plana, o recurso do narrador em voz-over adquire um estatuto distinto. Partindo da tensão entre presença e narrativa nos ambientes imersivos, este estudo mapeia as possibilidades do uso da narração em voz-over, relacionando a prática da escritura de roteiros audiovisuais em ambas as modalidades – narrativas planas e imersivas.

Resumo expandido

    No contexto das narrativas imersivas, em que o espectador (interator) dispõe-se dentro da cena, e não mais diante dela como nas narrativas de tela plana, o recurso do narrador em voz-over adquire um estatuto distinto. Ao iniciar a fruição de uma narrativa imersiva, o espectador-interator se vê em um lugar diferente do locus físico da exibição cinematográfica, por meio do fenômeno da telepresença.
    Chama-se telepresença a faculdade de “estar aqui e estar em algum outro lugar ao mesmo tempo” (SANTAELLA, 2003, p.196), fenômeno provocado pela capacidade dos dispositivos de realidade virtual, entre outros, de simular imersão, ou seja, de permitir ao espectador-interator se perceba em um outro lugar.
    A passagem perceptiva entre os lugares diversos, real e virtual, exige do espectador-interator um esforço de localização, o que demanda uma adequação da linguagem cinematográfica para que haja tempo de que o novo ambiente seja reconhecido e a fruição narrativa possa se conduzir.
    Posto de outra maneira, a experiência imersiva traz consigo uma tensão entre presença e narrativa, encontrando-se num estágio atual de desenvolvimento de técnica e linguagem tal que o espectador-interator precisa se dividir entre estes dois elementos – sua percepção exploratória do ambiente virtual e a fruição narrativa. No entanto, a introdução do narrador em voz-over interfere no delicado balanço entre fruição narrativa e a exploração do ambiente, concorrendo diretamente contra os efeitos da telepresença.
    O estudo busca ainda examinar com cautela o termo inclusivo “narrativas imersivas”, possibilitando circunscrever obras que oferecem ao espectador-interator a capacidade agencial de explorar um mundo narrativo por um ponto de vista voyeurístico, daquelas que oferecem a sensação autêntica de que a história responde às ações do participante, seja ela efetivamente interativa ou não. Isso estende a análise não apenas às narrativas imersivas lineares ou interativas, mas também às narrativas imersivas lineares de interação simulada, em que o discurso direto do narrador, diegético ou extradiegético, configura estratégia fundamental.
    A nova geração de narrativas imersivas enseja o surgimento de uma nova Poética do roteiro, agora não mais centrada no narrador, mas sim no espectador-interator, em seu corpo, suas possibilidades e experiências. De modo geral, isso se inscreve no contexto das novas teorias que têm interrogado as teorias e práticas da modernidade, provocando profundos questionamentos sobre os tipos de conhecimento produzidos e tentando explicar a radical transformação contemporâneas na maneira de produzir e consumir audiovisual, notadamente a partir do advento da popularização das narrativas imersivas.
    Em síntese, este estudo visa a compreender as possibilidades de narração em voz-over no ambiente imersivo, considerando seu impacto sobre o balanço entre telepresença e fruição narrativa.

Bibliografia

    BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1987.
    BAZIN, André. O Mito do Cinema Total. In: O que é o cinema? Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
    BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza; O narrador. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1996. (Obras escolhidas v. 1)
    BURDEA, G.; COIFFET, P. Virtual Reality Technology. Nova Iorque: John Wiley & Sons-IEEE Press, 2003.
    GRAU, Oliver. Virtual Art: From Illusion to Immersion. Cambridge: MIT Press, 2003.
    JERALD, Jason. The VR Book: Human-Centered Design for Virtual Reality. Nova Iorque: ACM Books, 2016.
    MARAS, Steven. Screenwriting – History, Theory and Practice. London: Wallflower Press, 2009.
    MACDONALD, Ian. W. Screenwriting Poetics and the Screen Idea. Londres: Palgrave Macmillan, 2013.
    MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck:o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural-Unesp, 2003.
    SANTAELLA, Lucia. Cultura e Artes do Pós-Humano: da Cultura das Mídias à Cibercultura. São Paulo: Paulos, 2003