Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Barbara Bergamaschi Novaes (PPGCOM – UFRJ)

Minicurrículo

    Bárbara Bergamaschi Novaes é doutoranda pelo PPGCOM-ECO/UFRJ e PPGLCC-LETRAS/ PUC-RIO. É mestre em Artes da Cena (PPGAC/ECO-UFRJ). Formada em Comunicação Social (2014) pela ECO-UFRJ com habilitação em Rádio e TV. Em 2012 participou do programa de intercâmbio Acadêmico na Universidade de Paris VIII onde estudou Cinema. Tem certificado em Fundamentação em Artes (2010) pela EAV- Parque Lage. Foi pesquisadora-bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa no projeto “Cultura Brasileira Hoje”.

Ficha do Trabalho

Título

    Ascensão, Vertigem e Queda na Poesia e Cinema de Mário Peixoto.

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Através de uma análise da decupagem de três cenas do filme Limite e da escansão do poema “A grande curva”, publicado no livro Mundéu acreditamos ser possível vislumbrar como a poesia e a mise-en-scène de Mário Peixoto obedecem a uma mesma lógica formal de construção. Em uma via de mão dupla observamos como a poesia se transfigura em cinema e, inversamente, como o cinema “enforma” a poesia. Para tal utilizamos textos de Mário de Andrade, Paulo Henriques Britto, Flora Süssekind e Sergei Eisentein

Resumo expandido

    Apesar de sua vasta produção literária, Mário Peixoto (1908-1992) se tornou metonímia de Limite, obra única na cinematografia brasileira e mundial, considerada “sem herdeiros” dentro da historiografia do cinema nacional. Peixoto escreveu o roteiro com vinte anos e filmou seu primeiro e único longa metragem com apenas vinte e dois anos de idade. Muitos críticos consideram o filme um dos únicos filmes avant-garde do cinema brasileiro, pois possui uma radicalidade experimental que contrasta com tudo o que era realizado na época.
    A montagem de Limite obedece a uma estrutura poética nas formas e no ritmo musical, com trilha de compositores de música clássica tais como: Claude Debussy (Prélude à l’après-midi d’un faune, Golliwogg’s cakewalk e Fêtes), Maurice Ravel (Quarteto de Cordas em Fá Maior), Stravinsky (O Pássaro de Fogo), Prokofiev (Sinfonia no. 1), sendo especialmente marcado pelas Gymnopédies de Erick Satie. O filme foi considerado por muitos anos perdido, sendo rodeado de mitos além de palco de intensos debates. Somente no final dos anos 1970, com a cuidadosa restauração do filme por Plínio Sussekind Rocha e Saulo Pereira de Mello, Limite veio finalmente à luz para as novas gerações.
    A história do livro de poemas Mundéu (1931) ocorre em paralelo a de Limite (1931). Mário Peixoto começa a escrevê-lo e publica-o no mesmo período em que realiza o filme. Em novembro de 1931 é lançada a coletânea em edição particular financiada pelo próprio artista. O livro mereceu na época críticas de Manuel Bandeira, Pedro Dantas, Mário de Andrade e Octávio de Faria. Mário Peixoto desgostou-se logo da obra, odiava o livro que considerava por demais “construído” e não se interessou em fazê-lo circular. Depois de sua morte, em 1992, mais de vinte exemplares foram encontrados em seu espólio, ainda fechados e praticamente novos. O livro foi reeditado em 1996 pela editora Sette Letras em edição comemorativa com tiragem de duzentos exemplares; é desta edição que retiramos o poema “A grande curva” aqui analisado.
    Nesta comunicação buscamos traçar as correspondências “plástico-verbais” entre as escritas poética e cinematográfica de Mário Peixoto buscando pontos de contato entre essas duas linguagens artísticas. Para tal iremos comparar duas obras do autor: o filme longa-metragem de vanguarda Limite e o livro de poesia Mundéu, ambos, curiosamente, lançados no mesmo ano de 1931. Como não é possível, dentro do curto espaço, analisar o filme e o livro integralmente, para realizar este exercício comparativo hermenêutico elegemos três sequências de Limite que nomeamos: (1) A Imagem Proteíca, (2) A Costureira e (3) A Vertigem. Colocamos estas três sequências lado a lado dos versos e estrofes selecionados do poema “A grande curva”, que a nosso ver sintetizam, em teoria, o “cinematismo” das obras, onde os mesmo elementos e forças atravessam as duas obras.
    Ao realizarmos a escansão dos versos e uma decupagem minuciosa plano a plano, demonstremos como há uma superdeterminação formal que condensa a forma e o significante, onde em um mínimo espaço, material semântico e lexical se complementam. Veremos materialmente a equivalência ou analogia do movimento da estrutura ou plano formal do poema nos movimentos de câmera escolhidos por Peixoto, em que se destacam especialmente, os movimentos circulares, de ascensão, vertigem e queda. Para esta análise nos valemos do legado teórico sobre a linguagem cinematográfica de Sergei Eisenstein, em especial no que concerne às técnicas da montagem, vista por ele como o “nervo” do cinema. Veremos como o ritmo e movimento presentes nas obras de Peixoto são erigidas,como diria Eisenstein, por meio de uma “visão do olho interior” do artista. Nos valemos também de reflexões nos textos ensaísticos da crítica Flora Süssekind, em particular no livro “Cinematografo de Letras”, como também nos estudos de Teoria e Análise Poética do tradutor e professor Paulo Henriques Britto.

Bibliografia

    ANDRADE, Mário. Prefácio Interessantíssimo em Paulicéia Desvairada. Poesias Completas vol.2. Nova Fronteira; Edição: 1ª 2013.
    BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política. Volume 1.Editora Brasiliense, 1996.
    BRITTO, Paulo Henriques. Para uma Tipologia do Verso Livre em Português e Inglês in Revista Brasileira de Literatura Comparada, n.19, em 2011.
    BÜRCH, Noel. Práxis do Cinema. São Paulo. Ed. Perspectiva, 2011.
    EINSENTEIN, Sergei. A Forma do Filme. Rio de Janeiro. Ed. Zahar. 2002.
    —–. O Sentido do Filme. Rio de Janeiro. Ed. Zahar. 1990.
    MELLO, Saulo Pereira de. Limite, Mário Peixoto – Catálogo da Exposição Limite. Edição FCRB – MinC. 1996.
    PEIXOTO, Mário. Mundéu. Rio de Janeiro. Sette Letras. 1996.
    ROCHA, Glauber. Revisão Crítica do Cinema Brasileiro. Ed. Cosac Naif. São Paulo. 2013.
    SÜSSEKIND, Flora. Cinematógrafo de Letras. Companhia das Letras Sao Paulo. 1987.
    STAM, Robert. Introdução a Teoria do Cinema. Editora Papirus. Campinas , SP. 2009.