Ficha do Proponente
Proponente
- Douglas Ostruca (UFRGS)
Minicurrículo
- A autora é graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas, onde participou do projeto de extensão CineUFPel para escolas. Além disso, envolveu-se na produção de mostras locais como Cinema e Diversidade (2016) e CineResistências (2018). Atualmente é mestranda em comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se insere no núcleo de pesquisa Corporalidades.
Ficha do Trabalho
Título
- Acervos digitais na web e políticas de memória
Resumo
- Esse texto apresenta uma tentativa de reposicionar algumas reflexões de Derrida sobre as políticas de memória e o acesso aos acervos audiovisuais em relação aos movimentos contemporâneos de digitalização e à possibilidade de disponibilização do material na web. Nesse sentido, entende-se que para além de um olhar sobre as práticas institucionais, observar as dinâmicas de constituição de acervo de plataformas de distribuição online seja um caminho possível para identificar novas possiblidades.
Resumo expandido
- Entre os debates relacionados à memória e à preservação do audiovisual, Jacques Derrida (2002) levanta algumas questões relacionadas ao acesso dos materiais e às políticas de seleção implicadas na construção dos acervos. Em relação a isso, acredita-se que a digitalização dos acervos audiovisuais e a possiblidade de disponibilizá-los na web, implicam retomar as pontuações do filósofo considerando as especificidades dessas novas experiências. Nesse sentido, Zonda Bez (2016) chama atenção para a iniciativa tomada pela Cinemateca Portuguesa, a qual já disponibiliza alguns de seus arquivos online em parceria com o European Film Gateway. No Brasil, também existem investimentos na digitalização e preservação de materiais via editais públicos (2018), entretanto, parece que ainda não são consideradas as possibilidades de disponibilização na web.
Situado em meio ao debate sobre a implementação da lei do depósito legal para filmes e programas televisivos na França, Derrida considera a relevância da preservação de todo esse material e o direto de acesso público a ele. Entretanto, tendo em vista a grande quantidade de audiovisuais produzidos, compreende-se que a preservação de todo o material não é possível, havendo a necessidade de parâmetros de seleção. Com base nisso, entende-se que são as políticas de memória que tornam viáveis as práticas concretas de preservação. Mas, por outro lado, o estabelecimento de determinados critérios de seleção, também significa demarcar aquilo que é irrelevante ou, até mesmo, inconveniente e impróprio, dependendo de onde se olha. Portanto, a partir dessas pontuações, entende-se que essas políticas devem ser aplicadas, mas, ao mesmo tempo, questionadas, abrindo-se um movimento constante de tensionamento e reformulação.
De acordo com Bez (2016), a disponibilização dos acervos na web seria um passo no caminho para oferecer um maior acesso a esses materiais, entretanto, nesse caso, os direitos autorais ainda estabelecem um dos principais impeditivos. Além disso, deve-se considerar que a disponibilização do que foi previamente selecionado ainda mantém a centralização das escolhas na constituição dos acervos. Contudo, se o olhar for direcionado para outras práticas como, as novas plataformas de distribuição coletiva via internet (Taturana e Videocamp), nota-se que as dinâmicas de constituição dos acervos são outras. Nesse sentido, vale pontuar a possibilidade de as/os realizadoras/es encaminharem seus filmes deixando-os disponíveis no acervo das plataformas através do cadastro no site. Além disso, o acesso a esses materiais também é aberto ao público via internet, também através do cadastro. Por outro lado, nesses casos, seria necessário investigar se os filmes submetidos passam por alguma seleção.
Sendo assim, entende-se que, embora o foco das novas práticas pontuadas no parágrafo anterior não seja precisamente a preservação audiovisual (que implica o envolvimento de técnicos especializados), as dinâmicas específicas de cada uma podem oferecer pistas sobre outros caminhos em relação às políticas de memória do audiovisual, tendo como base a descentralização das escolhas e a garantia de um acesso mais amplo ao material. Todavia, acredita-se que mesmo nessas experiências, a seleção ocorre por outras formas, havendo necessidade, conforme sugere Derrida, de manter a consciência sobre esses processos e buscar explicitar o modo de funcionamento dessas dinâmicas.
Bibliografia
- BEZ, Z. Direitos autorais são barreira para acervos audiovisuais na web. Cultura digital, 2016. Disponível em: https://bit.ly/2uy0LG7. Último acesso em: 29 mar. 2019.
DERRIDA, J.; STIEGLER, B. Echographies of Television: filmed interviews. Malden, USA: BlackWell Publishers, 2002.
EUROPEAN Film Gateway. Disponível em: https://bit.ly/1lT2PAx. Último acesso em: 02 abr. 2019.
MINC lança edital para restauro e digitalização de conteúdos audiovisuais. Ministério da Cidadania, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2Tf2dYe. Último acesso em: 29 mar. 2019.
TATURANA. Disponível em: https://bit.ly/2FIb6oq. Último acesso em: 29 mar. 2019.
VIDEOCAMP. Disponível em: https://bit.ly/2FegWeQ. Último acesso em: 29 mar. 2019.