Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ernesto Bezerra Cavalcanti Filho (PUCSP)

Minicurrículo

    Forma-se em teatro físico pela The Commedia School, Copenhague, Dinamarca (2007). Trabalha em diversas performances da Cia. Ophélia de teatro, Grenoble (2007/2009). Forma-se em Comunicação das Artes do Corpo na PUCSP (2012). Estreia o ensaio fílmico “Esta noite não” (2013). Defende a dissertação de mestrado “O corpomídia como ignição para ensaios fílmicos” (2014). Inicia, em 2016, a pesquisa de doutorado “Em busca do cinema-corpo: o impacto das novas tecnologias na criação cinematográfica”

Ficha do Trabalho

Título

    O impacto das novas tecnologias na criação cinematográfica

Resumo

    Pensar o cinema a partir de tecnologias que desestabilizam as relações entre filmagem/edição e sujeitos/objetos filmados. A hipótese principal é que em determinados contextos tecnológicos, políticos e cognitivos, emerge um cinema-corpo com aptidão para co-evoluir e se reinventar nos ambientes por onde transita em todas as instâncias do seu processo: criação, produção, circulação.

Resumo expandido

    O papel do corpo no cinema sempre me interessou. Em minha dissertação de mestrado , a partir da noção de ensaio fílmico (essay film), busquei analisar o filme de minha autoria “Esta noite não” , além de outros experimentos para pensar uma noção de cinema que parte do pressuposto que a maneira como funcionam as relações corpo-ambiente tornam instáveis as categorias e nomes que buscam descrever certos modos de organização da realização cinematográfica. Uma das estratégias foi pensar na teoria corpomídia como ignição para a construção fílmica e a elaboração de pensamentos críticos. A teoria corpomídia se refere “ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o corpo.” (GREINER, KATZ, 2015) Isso quer dizer que as informações não existem apenas fora do corpo, pensar a informação como aquilo que está fora do corpo é criar uma dicotomia irreal, que pressupõe o corpo como a parte de dentro que recebe a informação da parte de fora (ambiente). Dentro e fora se constituem por contaminação, logo, não existe separação precisa. A teoria corpomídia nega o modelo hegemônico das teorias da comunicação, aquele que assegura que tudo ocorre por input-processamento-output e se realiza entre emissor-meio-receptor.
    A pesquisa, através de textos de diversas épocas e lugares; e da observação do trabalho de diferentes artistas, demostrou que o cinema ainda é amplamente entendido e estudado como suporte, como um objeto a ser moldado, subvertido, inventado pelo sujeito ou equipe que filma. Surgiu então a inversão que serviu de ponto de partida para minha pesquisa de doutorado: não mais pensar o corpomídia no ensaio fílmico ou o corpomídia no cinema, mas a transformação do cinema em corpo, mais especificamente, em um corpomídia a partir das novas tecnologias que permitem realizar um tipo de construção cinematográfica que desestabiliza as relações entre filmagem/edição e sujeitos/objetos filmados.
    Como reconciliar o frescor dos processos em andamento com o peso da experiência capturada? Como uma câmera pode recusar-se a nomear, classificar? O que seria falar de certa invisibilidade ao lidar com o cinema? Estas são algumas das perguntas que norteiam a pesquisa. As novas tecnologias possibilitam também repensar e subverter as lógicas de mercado normalmente atreladas aos modelos hegemônicos de produção e distribuição cinematográfica, o que atrela a pesquisa a uma importante dimensão biopolítica.

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. São Paulo: Editora 34, 2008
    AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo ? e outros ensaios. Chapecó, Santa Catarina: Argos, 2009
    ASTRUC, Alexandre. Nacimiento de una nueva vanguarda: la “câmera-stylo”. In:
    CLARK, Andy. Supersizing the mind: embodiment, action, and cognitive extension. Nova Iorque: Oxford University Press Inc., 2011
    DAMÁSIO, António R. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras, 2011
    DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985
    GRENER, Christine. O corpo em crise – novas pistas e o curto-circuito das representações. São Paulo: Annablume, 2010
    JOHNSON, Mark. The meaning of the body – aesthetics of human understanding. Chicago: The University of Chicago Press, 2007
    LOCKHART, Tara. Revising the essay: Intellectual Arenas and Hybrid forms. Universidade de Pittsburgh: 2008
    SHAVIRO, Steven. Post-Cinematic Affects: On Grace Jones, Boarding Gate and Southland Tales. Michigan: State University,2010