Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Adil Giovanni Lepri (UFF)

Minicurrículo

    Doutorando em Cinema e Audiovisual pelo PPGCine/UFF e professor substituto da ECO/UFRJ.

Ficha do Trabalho

Título

    Câmera e corpo no audiovisual político nos sites de redes sociais

Seminário

    Corpo, gesto e atuação

Resumo

    O trabalho pretende realizar uma reflexão sobre o audiovisual de cunho político nos Sites de Redes Sociais. Os objetos giram em torno de vídeos realizados por movimentos políticos tanto à esquerda quanto à direita no espectro ideológico e são marcados por uma dimensão excessiva e sensacional, articulada a partir do próprio tecido fílmico. Através da noção de “câmera-corpo”, esses aspectos sensacionais do visível parecem se manifestar por meio da afetação de corpo e câmera de maneira conjunta.

Resumo expandido

    Este artigo parte da noção de que o discurso e o fazer político no contexto dos Sites de Redes Sociais (SRS) se colocam em um processo em que excesso, sensacionalismo e o espetáculo do visível são elementos centrais. A partir das reflexões de Gomes (2014), Mondzain (2009), Rancière (2013) e Gaines (1999) pretende-se investigar a manifestação deste fenômeno mais especificamente no audiovisual que circula nestas plataformas. Burgess & Green (2008) dialogam com este pressuposto no que tange os SRS identificando um modo de fazer e falar política que privilegia o visível e o mostrar de maneira central.

    Nesse sentido, os escritos de Enne (2007) entram no circuito a fim de pensar de que maneira essas formas de mostrar na internet dialogam com as matrizes expressivas ligadas ao excesso, sobretudo o sensacionalismo. Aqui entendo que essa dimensão do excesso se manifesta na própria materialidade fílmica a partir da câmera enquanto dispositivo cinemático, da manipulação desta em conjunto com o corpo de quem filma.

    A partir das reflexões de Vieira Jr. (2014) e Lima (2017) pretendo elaborar uma proposição conceitual que pensa a noção de “câmera-corpo” para o objeto estudado. Uma câmera que atue de fato como a extensão do corpo de quem filma, se afetando em conjunto com esse corpo. O cine-olho de Vertov (1985) e os conceitos de mimetismo político e pathos do acontecimento em Gaines (1999) são importantes bases para pensar o encaixe dessa “câmera-corpo” como elemento central dos exemplos analisados.

    Nessa comunicação serão trazidos dois exemplos para análise, um mais identificado com a esquerda e outro com a direita no espectro político. O exemplo à esquerda é retirado da fanpage do Facebook do Mídia NINJA [1] e é uma transmissão ao vivo que retrata uma manifestação pela liberdade do ex-presidente Lula. Os corpos em cena se afetam e a câmera por vezes se afeta junto ao transitar pela pequena multidão, em uma articulação particular da noção de câmera-corpo aqui trabalhada. É como se a sensação contagiasse o dispositivo e este não fosse apenas um objeto técnico alheio.

    Já o exemplo à direita – retirado do canal “Mamaefalei” ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) – retrata a ida do youtuber Arthur Do Val à uma manifestação pró Lula em Curtitiba [2]. O vídeo parece colocar grande ênfase no dispositivo cinemático no contexto analisado, trazendo a articulação do que se propõe aqui como “câmera-corpo” – nesse caso a câmera atua como uma extensão do corpo de Do Val de fato (sobretudo aquela que ele traz literalmente vestida em seu tórax) – assim fazendo extrapolar o caráter espetacular e sensorial dos momentos de afetação corpórea no interior da manifestação.

    Em ambos os exemplos a dimensão espetacular, excessiva e sensacional é central, articulando o discurso político de cada movimento sobretudo através do visível e do sensorial e principalmente através da atuação da câmera e do corpo de forma conjunta.

    [1] Acesso em 15/03/2019.

    [2] Acesso em 20/03/2019.

Bibliografia

    BURGESS, Jean. GREEN, Joshua. Agency and controversy in the YouTube community. In Internet Research 9.0: Rethinking Community, Rethinking Place. Copenhagen, 15-18 October, 2008.
    ENNE, A. L. O sensacionalismo como processo cultural. In EcoPós, v. 10, n. 2, julho-dezembro de 2007.
    GAINES, Jane. Political Mimesis. In Collecting visible evidence, 1999. pp. 84-102.
    LIMA, Roberto Robalinho. Cartografia das imagens ardentes: imagens, política e produção subjetiva nos protestos de junho de 2013. Tese (Doutorado) Programa de Pós Graduação em Comunicação-Universidade Federal Fluminense, 2017.
    MONDZAIN, Marie-José. Can images kill? Critical inquiry, v. 36, n.1, pp. 20-51, 2009.
    VERTOV, Dziga. Kino-eye: the writings of Dziga Vertov. Berkeley: University of California Press, 1984.
    VIEIRA JR, Erly. Por uma exploração sensorial e afetiva do real: esboços sobre a dimensão háptica do cinema contemporâneo In Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, 2014.