Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Diogo dos Santos Souza (Ifal)

Minicurrículo

    Professor de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Alagoas, Campus Piranhas. Representante docente do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne). Doutorando em Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Ufal; Mestre em Literatura e Ensino pelo mesmo Programa e membro do Grupo de Pesquisa Literatura & Utopia. Foi intercambista na Universidade de Lisboa, onde estudou temas correspondentes às relações entre Literatura e Cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    LUGARES QUE SE MOVEM EM VERSOS E EM TELA

Resumo

    Morte e Vida Severina – Auto de Natal Pernambucano (1954-1955), livro de João Cabral de Melo Neto, discute a representação do espaço nordestino. O objetivo deste trabalho é dialogar essa obra com a sua adaptação fílmica homônima. Partindo de uma metodologia de análise de cunho bibliográfico, intentou-se construir uma interpretação crítica entre as similitudes e as dissonâncias entre o texto fonte e a sua releitura, tendo como foco a representação do espaço poético e cinematográfico.

Resumo expandido

    João Cabral de Melo Neto, na atmosfera de sua produção poética que discute o espaço literário, evidencia que o foco do seu interesse artístico é a representação do ambiente natural, num plano em que se coteja a História, a memória e o tempo, elementos composicionais do espaço literário. Por ser uma região que abarca zonas geográficas muito distintas, a construção da imagem do sertão brasileiro é de complexa definição, incutindo no imaginário cultural brasileiro uma forma que muda de acordo do ponto de vista de quem o narra, de quem o observa e de quem o vive. No plano que une esses três posicionamentos, encontra-se a voz lírica viajante do livro Morte e Vida Severina: Auto de Natal Pernambucano (1954-55), de João Cabral, em que observamos, na personagem Severino, um reflexo da terra ossuda da qual se deseja distanciamento. Pensando, então, nas relações interartes que podem ser constituídas entre o discurso literário e o discurso cinematográfico, intentou-se realizar o diálogo desse livro com a sua adaptação fílmica. Em 2010, a Fundação Joaquim Nabuco adaptou para o cinema a versão homônima dessa obra (dirigida por Afonso Serpa) através do gênero animação, apresentando ao espectador o sertão nordestino por intermédio de uma visualidade monocromática. Alguns elementos de composição dos espaços percorridos por Severino são refigurados na tela, criando uma releitura do texto literário e fazendo com que o leitor viaje por outros espaços que estão imprimidos pela seca, pela morte e pela vontade de fuga. O objetivo deste trabalho é investigar as relações entre a Literatura e o Cinema, tendo como eixo o estudo da representação do espaço na construção literária, analisando a sua ida à tela através do procedimento de adaptação fílmica. Nessa perspectiva, a maneira como o poeta evoca criaturas e paisagens, concebidas pela imaginação, são revisitadas pelo cinema, proporcionando a produção de novos sentidos ao texto primevo. Por exemplo, no filme, há uma exploração da imagem do rio como um cemitério, interpretando-o como uma cova feita de águas. Portanto, propõe-se examinar como a realidade material é transformada (nesse caso, a realidade nordestina que o autor conhece) em poesia, bem como o modo em que o autor opera a representação do espaço (e como o diretor do filme a recompõe), lendo-o, assim, no plano de uma categoria de análise que se relaciona com outros elementos de composição do dizer literário: em especial, a personagem e o tempo. Uma das complexidades da análise da representação da espacialidade poética em Morte e Vida Severina se dá pelo fato de haver uma transposição da imagem do espaço para o retirante, que se torna um canal de expressão do lugar. Logo, é possível dizer que a voz do rio, tal qual a do sertão, continuam presentes, mas, dessa vez, movem-se através do olhar do homem nordestino e residem no corpo retirante que tanto é afetado pelo espaço em que vive.

Bibliografia

    GENETTE, Gérard. Espaço e Linguagem. In: _____ Figuras. Perspectiva: São Paulo, 1972.
    GRILO, João Mario. As lições do cinema: manual de filmologia. Edições Colibri: Lisboa, 2007.
    NETO, João Cabral de Melo de. Poesia completa e prosa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.
    MAZZOLENI, Arcangelo. O abc da linguagem cinematográfica. Edições de Cineclube de Avanca: Portugual, 2005.
    NUNES, Benedito. João Cabral de Melo Neto. Petrópolis: Vozes, 1971.
    TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar. Tradução de Lívia de Oliveira. Difel: São Paulo, 1983.
    VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Tradução: Marina Appenzeller. 2ª ed. Campinas: Papirus, 2002.
    VERNIERI, Susana. O Capibaribe de João Cabral em O cão sem plumas e O rio: duas águas? São Paulo: Annablume, 1999.