Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    WALLACE ANDRIOLI GUEDES (UFJF)

Minicurrículo

    Graduado em História pela UFJF, mestre e doutor em História Social pela UFF, pesquisador da história do cinema brasileiro e das relações entre cinema e regimes autoritários. Professor substituto no Departamento de História da UFJF entre 2014 e 2016, professor designado na UEMG – Unidade de Campanha, entre 2017 e 2018, pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da UFJF desde 2018.

Ficha do Trabalho

Título

    Luta armada e ditadura em dois documentários ultraconservadores

Resumo

    “Reparação” e “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” se assemelham na visão que têm das esquerdas na ditadura militar. Ultraconservadores, ambos recorrem à história para construir uma releitura de temas consagrados. Há neles um esforço para conectar esse passado ao presente do país, marcando uma continuidade entre a luta armada e os recentes governos do PT. Instrumentalizam a história em prol de lutas políticas atuais da direita e da extrema-direita. O presente trabalho se propõe a analisá-los.

Resumo expandido

    Separados por um intervalo de dez anos, os documentários “Reparação” (2009), de Daniel Moreno, e “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” (2019), de Filipe Valerim e Lucas Ferrugem, guardam semelhanças na representação que propõem das esquerdas brasileiras, especialmente durante o contexto da ditadura militar (1964-1985). Numa perspectiva ultraconservadora, ambos recorrem à história desse período, olhando com atenção principalmente para a atuação das organizações guerrilheiras que enfrentaram o regime, visando a construir uma espécie de releitura, ou leitura alternativa, de temas consagrados da historiografia. Não à toa o canal no YouTube que produziu “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” se chama “Brasil Paralelo”. O objetivo é condenar tais organizações e justificar o golpe civil-militar de 1964.
    Além disso, há nos dois filmes um esforço por conectar esse passado ao presente político do país, marcando uma continuidade direta entre a luta armada de viés marxista das décadas de 1960 e 1970 e os recentes governos do Partido dos Trabalhadores (2003-2016). Dessa forma, “Reparação” e “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” instrumentalizam a história em prol de lutas políticas atuais da direita e da extrema-direita brasileiras.
    A comparação entre eles permite a análise não só dessas reinterpretações históricas, mas também de manifestações de discursos conservadores e ultraconservadores no cinema brasileiro contemporâneo, em consonância com a recente ascensão dessas vertentes políticas ao poder no país. Nesse sentido, é interessante observar até onde cada filme vai nos ataques às esquerdas e na construção de visões heterodoxas da história, em diálogo com seus respectivos contextos de produção: enquanto “Reparação” foi realizado e lançado no auge do lulismo, momento em que posicionamentos de extrema-direita eram absolutamente minoritários no espectro político brasileiro, “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” é fruto direto de um tempo de disputa cada vez mais acirrada pela hegemonia discursiva no país e de tentativa de reescrita histórica advinda das mais altas esferas de poder, sobretudo a partir da chegada de Jair Bolsonaro à presidência. Cabe aqui analisar também as estratégias de alcance utilizadas por ambos os filmes, tanto estéticas – como a filiação a um formato tradicional de documentário e a adoção de um tom sensacionalista (sobretudo no caso de “1964: O Brasil Entre Armas e Livros”) – quanto de distribuição.
    Por fim, vale ressaltar que a presente proposta busca se enquadrar no Simpósio Temático “Cinema brasileiro contemporâneo: política, estética, invenção” pela perspectiva de sua vinculação com a política brasileira contemporânea, pelo entendimento de que é importante atentar para um cinema que, apesar de muito pouco (quase nada) inventivo e defensor de teses por vezes abjetas, ajuda a moldar discursos e olhares sobre o passado e o presente do país.

Bibliografia

    AB’SÁBER, Tales. Dilma Rousseff e o ódio político. São Paulo: Hedra, 2015.
    CAPELATO, Maria Helena [et al.]. História e cinema: dimensões históricas do audiovisual. 2ª ed. São Paulo: Alameda, 2011.
    DEMOCRACIA em risco?: 22 ensaios sobre o Brasil hoje. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
    FICO, Carlos. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 20, p. 05-74. jan./abr. 2017.
    GUEDES, Wallace Andrioli. O filme Reparação e o debate sobre a luta armada como meio para o antipetismo no cinema brasileiro contemporâneo. Aniki vol.5, nº 2 (2018): 400-418.
    REIS, Daniel Aarão, RIDENTI, Marcelo & MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O golpe e a ditadura militar, quarenta anos depois (1964-2004). Bauru, SP: EDUSC, 2004.
    ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.