Ficha do Proponente
Proponente
- Natasha Romanzoti Graziano (UNICAMP)
Minicurrículo
- Natasha Romanzoti é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Roteiro de Ficção Audiovisual pelo Senac-SP e mestra em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente, é doutoranda em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas, onde pesquisa a importância e a história do roteiro no cinema brasileiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Estilo narrativo do cinema brasileiro de 1950 baseado em roteiros
Resumo
- Este trabalho tem como objetivo destacar algumas características narrativas do cinema brasileiro por meio da análise de quatro roteiros dos anos 1950. Apesar dos esforços em termos de industrialização e padronização do cinema na década, paradigmas clássicos como a estrutura de três atos parecem ser de pouco interesse ou inaplicáveis a essa produção cinematográfica. De modo geral, a influência do teatro e do rádio brasileiros podem ser muito mais relevantes para as narrativas do período.
Resumo expandido
- No âmbito acadêmico, a discussão sobre roteiro cinematográfico ficou muitas vezes limitada pelos “manuais” que floresceram durante todas as décadas de história desse objeto de estudo. Estes, dos quais um dos principais expoentes é o “Manual do Roteiro” de Syd Field (2001), são muitas vezes restritos a convenções dramáticas e a um tipo de narrativa conhecida como clássica, preponderantemente hollywoodiana, que com frequência não se aplica a outras cinematografias. A brasileira, por exemplo, é bem marcada por sua diversidade.
Essa diversidade narrativa pode ser observada na década de 1950, de “extraordinária animação, na prática e no pensamento cinematográfico”, segundo Maria Rita Galvão (1980, p. 13). Foram anos que presenciaram o desenvolvimento das ideias sobre cinema independente no contexto nacional, ideias estas surgidas em contraposição a algumas das maiores experiências ditas industriais do cinema brasileiro.
O objetivo deste trabalho é mostrar como, apesar dos esforços em termos de industrialização e padronização do cinema brasileiro na década – representados pela atividade dos estúdios cinematográficos, notadamente a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e a Atlântida Cinematográfica -, os paradigmas clássicos, como a estrutura de três atos, parecem ser de pouco interesse ou inaplicáveis a essa produção cinematográfica específica.
Para isso, serão analisadas quatro narrativas da década de 1950, sendo dois roteiros de produções consideradas industriais ou de estúdio – “O Homem do Sputnik” (1959), dirigido por Carlos Manga, escrito por José Cajado Filho e produzido pela Atlântida Cinematográfica, e “Esquina da Ilusão” (1953), dirigido por Ruggero Jacobbi, escrito por Ruggero Jacobbi e Jorge Kraisky, com diálogos de Gustavo Nonnenberg e produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz – e dois roteiros de produções consideradas autorais ou independentes – “O Grande Momento” (1958), escrito e dirigido por Roberto Santos, e “Agulha no Palheiro” (1953), escrito e dirigido por Alex Viany. Essas análises contemplarão a divisão em atos e a evolução da curva da ação dramática das histórias, bem como as marcas de influências narrativas para além do modelo hollywoodiano.
Por exemplo, mesmo que a Atlântida parodiasse com frequência superproduções americanas e a Vera Cruz procurasse emular Hollywood, um olhar mais apurado demonstra que as narrativas das companhias adotam estratégias nem sempre condizentes com o modelo clássico canonizado pelos grandes estúdios americanos.
Por sua vez, muitas narrativas com forte viés autoral e categorizadas historicamente como “cinema independente”, influenciadas em grande parte pelo cinema moderno europeu, especialmente o neorrealismo italiano, nem por isso deixam de operar majoritariamente na chave do realismo-naturalismo inerente ao cinema narrativo-dramático clássico.
As análises também pretendem demonstrar como a influência do teatro e do rádio brasileiros, juntamente com o crescente impacto das novelas, pode ter sido mais relevante para os roteiros brasileiros da década do que estruturas aristotélicas e outras estratégias narrativas clássicas bem conhecidas.
Segundo Marcos Rey, no Brasil, “os primeiros roteiristas profissionais surgiram no rádio, quando noutros países já proliferavam no cinema e no music-hall” (1989, p. 78). Algumas características dramatúrgicas das radionovelas, enormes sucessos no país nos anos 1940 e 50, parecem ter ecoado nos filmes brasileiros do período, inclusive os chamados “independentes”, como a presença de tramas paralelas densas, evolução do drama em patamares e a tendência a uma resolução tardia do conflito principal.
Em resumo, este trabalho pretende observar que o estilo narrativo do cinema brasileiro da década é diversificado e pouco padronizado, mesmo quando observado dentro de categorias como “independente” e “industrial” ou “comercial”. Além de múltiplas influências estrangeiras, o contexto nacional favoreceu um diálogo com o rádio.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro. Campinas, SP: tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Multimeios, do Instituto de Artes, Unicamp, 2005.
BASTOS, Mônica Rugai. Tristezas não pagam dívidas: Cinema e política nos anos da Atlântida. São Paulo: Olho d’água, 2001.
BOON, Kevin A. Script culture and the American screenplay. Detroit: Wayne State University Press, 2008.
FIELD, Syd. Manual do roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
GALVÃO, Maria Rita. O desenvolvimento das ideias sobre cinema independente. 30 anos de cinema paulista, 1950-1980. São Paulo: Cinemateca Brasileira, Cadernos da Cinemateca, n. 4, 1980.
RAMOS, José Mario Ortiz. Cinema, estado e lutas culturais: anos 50, 60, 70. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
REY, Marcos. O roteirista profissional: TV e cinema. São Paulo: Editora Ática, 1989.
VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1993.