Ficha do Proponente
Proponente
- RODRIGO ANDRE DA COSTA GRACA (UTP)
Minicurrículo
- Possui Graduação em Licenciatura em Desenho pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, atual UNESPAR; Especialização em Metodologia do Ensino Superior pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Extensão; Mestrado em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná; Doutorado, em andamento, em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná; Professor do Curso de Bacharelado em Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Ficha do Trabalho
Título
- Diálogos Vitais: o ato comunicacional nos filmes de Jan Švankmajer.
Resumo
- Este trabalho se propõe a compreender as relações dialogais presentes nos filmes do diretor tcheco Jan Švankmajer, assim como como esses diálogos se articulam entre os filmes. Para isto são utilizados conceitos de dialogismo, heteroglossia, refração e reflexão de Bakhtin; rasgadura, paradoxismo, passagem e antropomorfismo de Didi-Huberman; potência e contemporâneo de Agamben. Seus filmes dão materialidade a uma filosofia particular sobre questões humanas, sobre comunicação e sobre cinema.
Resumo expandido
- Este trabalho defende a tese que os filmes do diretor Jan Švankmajer constituem uma contundente reflexão sobre a condição humana a partir da imaginação e do surreal, rompendo as fronteiras narrativas e construindo um meticuloso arcabouço teórico, contundente e inquietante, onde o espectador é compelido a pensar seu estar no mundo. Em outras palavras é perceber elementos teóricos, pictóricos e imagéticos únicos ao seu realizador e presentes em todos seus filmes, e também como esses elementos se conectam, modificam seu significado a partir de experiências anteriores e se complexificam construindo uma reflexão sobre o mundo da vida e sobre relações humanas. Seus filmes pedem uma leitura complexa e articulada e demonstram uma filosofia, uma ideia de mundo, uma forma de compreensão das relações humanas com o seu entorno, tanto com outros seres humanos quanto objetos cotidianos e espaço de vivência. É esta complexidade crítica, criativa, única e subversiva que este trabalho visa destacar.
Jan Švankmajer é um artísta surrealista e diretor tcheco que produziu sete filmes longas e mais de 30 curtas em uma carreira. Suas obras mais conhecidas são o longa Alice (Něco z Alenky, 1988) e o curta Dimensões do Diálogo (Možnosti Dialogu, 1982). O objeto de análise deste artigo são seis longa metragens. As relações dialógicas e imagéticas dos filmes podem ser divididas em três ciclos.
Na conjunto inicial, da identidade, a primeira categoria é da subjetividade, os filmes Alice e Fausto (Lekce Faust, 1994), são o indivíduo entrando em contato com o inconsciente, uma criança e um adulto, e as consequências deste contato; a segunda é da intersubjetividade, os filmes Conspiradores do Prazer (Spiklenci Slasti, 1996) e O Pequeno Otik (Otesánek, 2000), tratam do inconsciente do ponto de vista comunicacional, da comunalidade do desejo e de seu aspecto dialogal e dos problemas de comunicação quando nos desconectamos de nosso inconsciente; a terceira é da objetividade, o campo onde as intersubjetividades acontecem, os filmes Lunáticos (Šílení, 2005) e Sobrevivendo à Vida (Přežít Svůj Život, 2010), tratam do aspecto social voltado ao inconsciente, ambos invertem a noção de realidade e sonho, um trata o mundo como um grande hospício e outro trata do sonho como mais significativo que o mundo da vida. Nessa categorização existe uma preocupação com o ato enunciativo e tudo que está ligado a este ato, a construção de um heteroglossia de sonhos, imaginação, desejos; a condição dialogal do sonho, imaginação e desejos; a condição transformadora do sonho, imaginação e desejos.
O conjunto subsequente, das motivações, dividido em a dúvida do infantil, a certeza do adulto e a inevitabilidade da interação. Nos filmes Alice e O Pequeno Otik, uma criança é a protagonista, em um ela entra em contato com seu inconsciente, no outro é a única a perceber o que está acontecendo em função de sua inocência. Nos filmes Fausto e Sobrevivendo à Vida, o protagonista é desafiado por seu inconsciente, em um ele tenta racionalizar a experiência, no outro ele começa a inverter valores sem perceber que os sonhos e a realidade são facetas da mesma experiência humana. Nos filmes Conspiradores do Prazer e Lunáticos, o inconsciente é o que verdadeiramente nos une, é o código para uma comunicação mais autêntica.
A última categoria, distinta das outras seis, trata da questão temática, como os assuntos tratados em alguns filmes são amalgamados em outros posteriores. Os temas tratados nos filmes Alice e Fausto possuem ressonância em O Pequeno Otik. Os temas tratados em Fausto e Conspiradores do Prazer ecoam em Lunáticos. Por fim os temas tratados em Fausto, Conspiradores do Prazer e Lunáticos são importantes para Sobrevivendo à Vida. O relevante são como os temas são retomados em filmes posteriores e se complexificam, traçando uma tessitura argumentativa assertiva, isto é, construindo um argumento que defende uma clara visão de mundo.
Bibliografia
- AGAMBEN, G. O que é contemporâneo. In: (Ed.). Nudez. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
BAITELLO JÚNIOR, N. ENCOI – Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem. A imagem e os ambientes de imagens: o mito, o culto, a arte e a mídia. Londrina: Universidade Estadual de Londrina 2014.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem : problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 12. São Paulo: Hucitec, 2006.
BAKHTIN, M.; HOLQUIST, M.; LIAPUNOV, V. Toward a philosophy of the act. 1st. Austin: University of Texas Press, 1993.
DIDI-HUBERMAN, G. A Semelhança Informe: ou o gaio saber visual segundo Georges Bataille. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
FARACO, C. A. Linguagem e Diálogo: as ideias linguísicas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2003.
HAMES, P. The cinema of Jan Švankmajer : dark alchemy. 2nd. London: Wallflower, 2008.
ŠVANKMAJER, J. Para ver, cierra los ojos. La Rioja: Pepitas de la calabaza ed., 2014.