Ficha do Proponente
Proponente
- Belisa Brião Figueiró (UFSCar)
Minicurrículo
- Mestre em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e doutoranda em Ciência, Tecnologia e Sociedade, na mesma instituição. Autora do livro Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização (Editora Senac São Paulo, 2018). Foi produtora de informação e imagem do Programa Cinema do Brasil/Apex-Brasil e editora assistente da Revista de Cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Brasil e Argentina nos festivais de Cannes e Berlim (1994 – 2017)
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Resumo
- Esta comunicação analisa as políticas de internacionalização da Ancine e do INCAA, e em que medida essas ações estimularam a seleção dos filmes brasileiros e argentinos nos festivais de Cannes e Berlim. Dessa forma, pretende-se examinar o papel do Estado na difusão e na circulação internacional das obras. O levantamento inicial aponta para uma proeminência dos cineastas Walter Salles e Lucrecia Martel no período, cujos longas-metragens verificaremos também a partir da recepção francesa.
Resumo expandido
- Os festivais internacionais de cinema se tornaram as maiores vitrines para os filmes de autor dos realizadores do Brasil e da Argentina, nas últimas seis décadas. No âmbito da internacionalização brasileira, o alcance a essas mostras esteve presente entre as prioridades dos produtores e cineastas, não raras vezes estimulados pelas próprias políticas públicas voltadas para o setor, sobretudo neste começo do século XXI. Na Argentina, igualmente verifica-se a importância dos festivais na circulação dos filmes ao longo da história, mas houve uma preocupação dos diferentes governos em associar a produção cinematográfica à imagem do país que se queria promover no exterior.
Como bem define a pesquisadora Marijke de Valck (2006, p.18), os festivais internacionais de cinema assumem várias funções ao selecionar filmes dos mais diversos países e ao convidar profissionais de todos os ramos da atividade. Em suas palavras, esses eventos reúnem, simultaneamente, “cultura e comércio, experimentação e entretenimento, interesses geopolíticos e financiamento global”. Com relação à premiação, Valck é categórica em afirmar que os troféus concedidos aos realizadores “são um protocolo altamente eficaz para incluir e excluir pessoas e artefatos” e “contribuem para a preservação do sistema” (p. 37-38).
Para esta comunicação, examinaremos as políticas de internacionalização aplicadas pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e pelo Instituto de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), e em que medida essas ações impulsionaram a seleção dos filmes brasileiros e argentinos nos festivais de Cannes (França) e Berlim (Alemanha), desde meados dos anos 1990, promovendo a difusão das obras nesse circuito e fomentando um nicho alternativo de circulação.
Do lado brasileiro, é especialmente por meio da Assessoria Internacional da Ancine que as ações de promoção e difusão se viabilizam, encorajando e financiando a participação dos filmes e dos realizadores brasileiros nos mais importantes festivais e mercados de cinema ao redor do globo (FIGUEIRÓ, 2018). Em 2006, foi instaurado o Programa de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro, que premia filmes selecionados em festivais e concede recompensas financeiras pelo desempenho das obras em eventos nacionais e internacionais.
Na Argentina, a partir de 1994, com a aprovação da chamada “Nueva Ley de Cine”, o Fundo de Fomento Cinematográfico ficou mais fortalecido, com fontes de arrecadação e medidas reformuladas, destacando a coprodução, a difusão e a promoção internacionais (CABRAL, 2014; GONZÁLEZ, 2015). Pelo artigo 28 da normativa, uma parte dos recursos do fundo explicitamente deveria ser destinada à participação dos filmes e dos realizadores em festivais internacionais, e à promoção – no país e no exterior –, de atividades para melhorar a difusão, a distribuição e a exibição de filmes argentinos.
No recorte que será apresentado (entre 1994 e 2017), encontramos 14 longas-metragens brasileiros e argentinos (ou em coprodução minoritária) selecionados para a Competição Oficial do Festival de Cannes, e 17 filmes na principal mostra da Berlinale. O cineasta brasileiro Walter Salles e a diretora argentina Lucrecia Martel são os que tiveram mais obras selecionadas, nos dois festivais. De Salles, elencamos os seguintes: Central do Brasil (1998), Diários de motocicleta (2004), Linha de passe (codirigido por Daniela Thomas, 2008), e Na estrada (2008). Da filmografia de Martel, foram selecionados pelos curadores: O pântano (2001), A menina santa (2004), e A mulher sem cabeça (2008).
Tendo em vista essa proeminência de ambos, também buscaremos avaliar a repercussão dessas obras na imprensa francesa, a partir das críticas e reportagens encontradas na pesquisa já realizada na Cinémathèque Française, em Paris, por esta autora.
Bibliografia
- ARGENTINA. Lei nº 24377, de 14 de outubro de 1994. Disponível em: https://docs.argentina.justia.com/federales/leyes/ley-n-17741-may-30-1968.pdf.
Acesso em: 05.abr.2019.
CABRAL, Ana Julia Cury de Brito. Luz, câmera, (concentr)ação!: As políticas públicas e os mercados cinematográficos do Brasil e da Argentina nos anos 1990. 242p. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
FIGUEIRÓ, Belisa. Coprodução de cinema com a França: mercado e internacionalização. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2018.
GONZÁLEZ, Roque. Políticas públicas cinematográficas: Neofomentismo en Argentina, Brasil y México (2000-2009). 304p. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Facultad de Periodismo y Comunicación Social, Universidad Nacional de La Plata, La Plata, 2015.
VALCK, Marijke de. Film festivals: History and theory of a European phenomenon that became a global network. Universiteit van Amsterdam. 2006.