Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernando Gerheim (UFRJ)

Minicurrículo

    Fernando Gerheim é profesor da Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dos Programas de Pós-Graduação de Artes da Cena (PPGAC – ECO) e de Artes Visuais (PPGAV – EBA). Realizou pós-doutorado na Universidade de Barcelona em 2018. É autor dos livros de ficção Inifinitômetros (7Letras, 2018) e Signofobia (Multifoco, 2012) e do ensaio Linguagens inventadas – palavra imagem objeto: formas de contágio (Zahar, 2008). Pesquisa “Poéticas entre Imagem, Escrita e Vídeo

Ficha do Trabalho

Título

    Vídeo Brossa: relações entre vídeo e poesia experimental

Resumo

    A proposta desta comunicação é apresentar a pesquisa sobre as relações entre palavra e imagem em um estudo de caso específico: os vídeos das Suítes de Poesia Visual do poeta e artista catalão Joan Brossa, que realizei no contexto de pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Barcelona.

Resumo expandido

    A proposta desta comunicação é apresentar a pesquisa sobre as relações entre palavra e imagem em um estudo de caso específico: os vídeos das Suítes de Poesia Visual do poeta e artista catalão Joan Brossa, que realizei no contexto de pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Barcelona. Depois de ter folheado as Suítes, cercado de todos os cuidados de uma obra rara guardada no arquivo do MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), e assistir uma entrevista da década de 1970 em que Brossa fala, entre outras coisas, sobre cinema (ele é autor de vários roteiros) e vídeo, surgiu a ideia de gravar as Suítes sendo folheadas. Esse trabalho, que me foi sugerido pelo próprio contato com o pensamento de Brossa, que, como se sabe, é um poeta que trabalha com uma multiplicidade de meios, permite uma reflexão sobre a relação entre duas linguagens.

    Numa entrevista concedida a Joaquin Soler Serrano, no programa de televisão “A fondo”, da “rtve.es”, em 1977, Brossa responde a uma pergunta sobre sua experiência com o cinema concordando com o privilégio deste meio em relação à palavra. O cinema oferece como perspectiva, além da palavra, a imagem e o som. Mas, em seguida, faz uma ressalva no que diz respeito à dificuldade de realização de um filme, e acrescenta: “Agora, com o vídeo, isso pode ser solucionado.”

    Brossa deposita esperança na praticidade que o vídeo traz ao audiovisual. Ele explicita seu entusiasmo ressaltando a possibilidade que o vídeo dá ao espectador de ter com o cinema a mesma relação intimista que o leitor tem com uma biblioteca doméstica. Numa perspectiva visionária, diz que o vídeo possibilitará escolher na estante um filme para assistir como quem pega um livro. Na sequência da entrevista, Brossa declara, agora sim como quem afirma o que de fato considera a maior qualidade do meio cinematográfico: “o cinema pode mostrar documentos autênticos como nenhuma outra arte.”

    Entre esses “documentos autênticos” estão as Suítes de Poesia Visual. Ao aproximar a contemplação da imagem e a decifração da leitura, a relação de participação que esses trabalhos requerem faz com que eles tenham um acesso talvez ainda mais raro que uma obra produzida como peça única como a pintura, cuja visualização se dá da exata maneira como ela foi pensada para ser. Já as Suítes não podem ser folheadas, sendo limitadas pelos modos expositivos, e assim não podem ser vistas/lidas do modo como foram pensadas.

    Ao gravar em vídeo Suítes de Poesia Visual sendo folheadas por um pesquisador – no caso, eu mesmo – o Projeto Vídeo Brossa criou um modo expositivo que facilita o acesso público e, ao mesmo tempo, aproximou este acesso da maneira como as obras foram pensadas para serem vistas/lidas. A interatividade da leitura implica o gesto de folhear. Esta manuseabilidade é um elemento significativo intrínseco dessas obras, e inseparável de sua própria leitura/contemplação. Por isso, a fruição das Suítes costuma ser limitada pela situação expositiva em que o público, impedido de tocá-las, não tem uma ideia real delas, privado que está da dimensão tátil. Este projeto, usando os instrumentos do vídeo, leva ao público a situação que só um pesquisador pode ter ao consultar as obras, com as mãos devidamente enluvadas, no arquivo do museu.

    O Projeto Vídeo Brossa explora o vídeo ao “mostrar documentos autênticos”, como o próprio poeta disse que era a maior qualidade do cinema. Documentos esses que são, no caso, obras do próprio Brossa. Além disso, ao gravar um leitor/observador folheando as páginas, enfatiza a materialidade dessas obras, seu caráter objetual e participativo, restrito a quem tiver acesso ao arquivo. Essa última potencialidade é ampliada pela vídeo-instalação, que cria um ambiente imersivo, com as imagens ampliadas de modo que os detalhes sejam bem visíveis, e o som das folhas sendo passadas fortalecendo essa sensação. Esta pesquisa permite refletir sobre estas e outras questões que relacionam vídeo e poesia experimental.

Bibliografia

    Dubois, Philippe. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo, CosacNaify, 2004
    Pasolini, Pier Paolo. Cinema de Poesia, in Empirismo Herege, Lisboa. Assírio e Alvim, 1982
    Poesia e Videoarte (org. Katia Maciel e Renato Rezende) Rio de Janeiro, Circuito, 2013.
    Transcinemas (org. Katia Maciel). Rio de Janeiro, ContraCapa, 2009.
    Revistas acadêmicas
    Gerheim, Fernando – Imagens Emersivas, in Arte & Ensaios, 2017.
    Catálogos:
    Poesía Brossa – catálogo da exposição realiza no MACBA em Barcelona, 2018.
    Joan Brossa o la revuelta poética. Fundação Joan Miró, Barcelona, 2001.