Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Helena Braga e Vaz da Costa (UFRN)

Minicurrículo

    Professora Titular do Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Pós-doutorado em Cinema pelo International Institute – University of California at Los Angeles (UCLA) – USA; Doutorado e Mestrado em Estudos de Mídia pela University of Sussex – Inglaterra; Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Ficha do Trabalho

Título

    Cartografia Cinematográfica e a Identidade em Rio Doce/CDU

Resumo

    Esse trabalho reflete sobre a representação da experiência urbana e da identidade no documentário pernambucano Rio Doce/CDU (Adelina Pontual, 2013). Parte-se aqui da análise das imagens de duas cidades: Olinda e Recife, considerando-as no âmbito de uma representação através da qual o espaço urbano está envolto em uma moldura cultural de percepção do espaço que possibilita novos entendimentos sobre a identidade e a experiência do viver no espaço urbano como lugar vivido e imaginado.

Resumo expandido

    Normalmente, nos textos atuais, quando há menção à “cartografia de cinema”, a referência diz respeito a “mapas” introdutórios que focam na ideia de “cartografar” (no tempo) as produções e representações fílmicas no contexto de determinados tipos, gêneros, nacionalidades, etc., em suas manifestações cinematográficas (SUPPIA, 2013; 2017). Isto é, diz respeito a fazer uso de uma abordagem consagrada, que é a do “mapeamento” dentro de um contexto específico, a fim de expandir o cânone, revisitar e revisar a história da produção cinematográfica.
    Alternativamente, uma “cartografia cinematográfica” corresponde ao estudo do mapeamento das práticas e perspectivas críticas que informam sobre a relação entre o espaço, o lugar e a cultura visual; a cultura da imagem em movimento que proporciona a visualização do movimento das pessoas e dos objetos no espaço. Se um mapa representa uma totalidade espacial, uma vez que os cineastas editam diferentes cenas/tomadas de uma cidade, e de sua arquitetura, onde se desenvolve a ação, por exemplo, a ideia de “cartografia cinematográfica” se configura como uma proposição de reorientação e reorganização do espaço (urbano), produzindo, consequentemente, a demolição e a reconstrução da imagem do lugar objeto da construção imagética (PASSOS e KASTRUP, 2009).
    O substantivo feminino “cartografia” tem como definição: “conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que orienta os trabalhos de elaboração de cartas geográficas”. Por sua vez, o adjetivo “cinematográfico” corresponde ao que é “relativo à cinematografia e ao cinema” ou “relativo ao cinema como meio de expressão”. Assim, a discussão sobre “cartografia cinematográfica”, proposta nesse trabalho, se dará a partir do entendimento de que filme, resultante de “operações técnicas e artísticas”, pode ser estudado como uma “carta geográfica” de um determinado espaço geográfico, que é elaborada assumindo uma condição cinematográfica; isto é: uma composição imagética que se expressa por meio da impressão visual de movimento, de imagens dos corpos e dos objetos que se movimentam no espaço geográfico.
    Vista por outra perspectiva, isto é, considerando o ponto de vista do “produtor” dessa cartografia, é importante levar em consideração a posição de cineastas como o alemão Wim Wenders que já afirmou que, em sua opinião, um mapa geográfico é um roteiro de filme. Essa visão corrobora com o entendimento de Rubens Machado (2018) quando afirma que cada lugar nos solicita um modo de olhar. É a noção de que o próprio espaço (urbano) apela ao nosso senso e intenção de organização cartográfica dos espaços de nosso interesse.
    Nesse sentido, esse trabalho propõe uma reflexão sobre a representação das experiências urbanas e das identidades construída no filme/documentário pernambucano Rio Doce/CDU (Adelina Pontual, 2013). Parte-se, nesse caso, da análise das imagens em movimento do e no espaço urbano de duas cidades pernambucanas: Olinda e Recife, aqui consideradas no âmbito de uma representação através da qual o espaço urbano filmado e projetado (no sentido cinemático e geográfico) está envolto em uma moldura cultural de percepção do espaço que possibilita novos entendimentos sobre a identidade e a experiência do viver no espaço urbano como lugar vivido e imaginado.
    Considerar o entrecruzamento das imagens dessas duas cidades no filme, por meio da análise crítica do discurso construído aos moldes do que considero uma “cartografia cinematográfica”, nos parece primordial para estabelecer parâmetros de entendimento da relação posta entre as imagens em movimento do espaço urbano, a experiência humana de deslocamento no espaço, e a imaginação geográfica constituída a partir da representação da experiência espacial do lugar e da identidade que, esta última sabemos ser constituída a partir de ambas existências: real e fílmica.

Bibliografia

    DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs. v.1. Rio de Janeiro: Editora 34 Letras, 1995.
    MACHADO Jr., R. L. R. Ecos Sinfônicos de Berlim em São Paulo nos anos 1920. Apresentação de trabalho na XXII Socine, UFG, Goiânia, 2018.
    PASSOS, E.; KASTRUP, L. E. Pistas do Método da Cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.
    SUPPIA, A. Cartografias para a Ficção Científica Mundial: cinema e literatura. São Paulo: Alameda, 2017.
    SUPPIA, A. Cinema(s) Independente(s): Cartografias para um Fenômeno Audiovisual Global. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2013.