Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Cristiane do Rocio Wosniak (UNESPAR)

Minicurrículo

    É Doutora e Mestra em Comunicação e Linguagens – linha de pesquisa em Estudos de Cinema e Audiovisual (UTP). É vice-coordenadora do Programa de Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo e docente adjunta do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). É membro do GP Kinedária – Arte, Poética, Cinema, Vídeo, vinculado ao Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo (Unespar/CNPq) e membro do GP ELiTe (UFPR/CNPq).

Ficha do Trabalho

Título

    EVALDO MOCARZEL E A DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA CONSTRUÍDA NO CORPO DANÇANTE

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Esta comunicação tem o objetivo de refletir sobre o sistema estilístico do documentarista Evaldo Mocarzel, presente em seus documentários de/sobre dança. A partir de seus ensaios, entrevistas e cartas de montagem, além dos documentários, busca-se reconhecer os possíveis traços teóricos sistemáticos e coerentes nos atos criativos investigados, contribuindo para a sistematização de argumentos que se transformam em teoria colocada em práxis cinematográfica e vice-versa.

Resumo expandido

    Esta comunicação tem o objetivo de refletir, a partir da abordagem da Teoria dos Cineastas, sobre o sistema estilístico do cineasta brasileiro, Evaldo Mocarzel, presente em seus documentários de/sobre dança. Os objetos empíricos da investigação se constituem dos seguintes documentários: São Paulo Companhia de Dança (2010); Lia Rodrigues: Canteiro de Obras (2010) e Ensaio sobre o Movimento (2012). Trata-se de cotejar alguns procedimentos técnicos proeminentes, tais como a montagem miríade em falso-raccord, a repetição do gesto em corte cinematográfico e o uso de câmeras acopladas aos corpos dos dançarinos como procedimentos recorrentes na obra mocarzeliana. Ao alinhar os estudos investigativos sobre o universo documental do referido cineasta, a partir de variadas fontes primárias – incluindo aqui a análise de excertos de seus filmes –, também me coloco em relação interpretativa direta com a sua produção teórico-prática e, neste momento, converto-me em uma espécie de mediadora de fontes diversas na proposição de comentar analiticamente a sua obra artística. Este raciocínio sobre a produção – conjunta – do conhecimento pode ser corroborado a partir das premissas da abordagem de pesquisa calcada na Teoria dos Cineastas que assevera ser esta dinâmica composta por uma “constante interação entre o cineasta que se refere à sua própria obra enquanto criador e enquanto espectador e o investigador que não sendo apenas espectador é, também, um criador já que na sua relação com uma obra, também colabora com sua construção.” (BAGGIO; GRAÇA; PENAFRIA, 2015, p. 22). Evaldo Vinagre Mocarzel nasceu em 1960 em Niterói-RJ. Formou-se em Cinema na Universidade Federal Fluminense e trabalhou como jornalista/editor do Caderno 2, do jornal O Estado de São Paulo, durante oito anos. Cursou Cinema na New York Film Academy e fez parte do Círculo de Dramaturgia do diretor Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral (CPT-SESC-SP). Em 2018, tornou-se Doutor em Artes Cênicas pela ECA-USP. Em seu repertório cinematográfico constam curtas e longas-metragens com ênfase em cinema documental. É a partir de seus ensaios, entrevistas e cartas de montagem, além do recorte de seus filmes dançantes, portanto, que se busca reconhecer possíveis traços teóricos sistemáticos nos atos criativos investigados, de forma lógica, como em qualquer pesquisa científica. Em suas cartas de montagem, Mocarzel expressa características de especulação e coerência, como postulado por Aumont em Pode um filme ser um ato de teoria? (2008). O foco da análise recai sobre as seguintes questões: 1) no casamento artístico/linguístico da dança com o cinema, a intenção estilística do cineasta seria transformar o dançarino numa espécie de diretor de fotografia? 2) Ao enquadrar o mundo a partir dos seus gestos/movimentos o dançarino, acoplado a uma câmera, seria uma espécie de coautor cinematográfico? A partir da leitura de extensa compilação de dados, ensaios, esboços de cartas de montagem encaminhadas à equipe de montagem, constata-se como é abrangente e coerente seu raciocínio estético, cuja práxis resulta em conceito e vice-versa. Araújo et al. (2017, p. 31), corroboram este raciocínio ao afirmar: “o pensamento dos cineastas, a sua concepção de cinema, é uma constante integração de teoria e prática – conceitos que impelem uma determinada práxis; práxis da qual resultam conceitos.” O fator ‘coerência’, postulado por Aumont como um dos pilares da edificação de uma teoria pode ser encontrado, ao meu ver, tanto no interior de um filme de Mocarzel, quanto em um significativo conjunto de documentários dedicados aos processos de criação em/sobre dança, deste realizador ou na relação que estabelece com seus conceitos teóricos. O reconhecimento de traços de coerência entre os objetos empíricos recortados, portanto, poderia contribuir para a sistematização de argumentos que se transformam em teoria colocada em práxis cinematográfica e vice-versa.

Bibliografia

    ARAÚJO, Denize et al. Observações sobre a Teoria dos Cineastas-Nota dos Editores. In: _____. Teoria dos Cineastas vol. 3 – Revisitar a Teoria dos Cineastas. Covilhã: Ed. LabCom.IFP, 2017 (p. 29-38).
    AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria? Revista Educação e Realidade, 2008, V. 33(1): jan- jun, p.21-34.
    BAGGIO, Eduardo Tulio; GRAÇA, André Rui; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. In: BAGGIO, Eduardo; TASSI, Rafael; MARTINS, Zeloi (Orgs.). Revista Científica/FAP – Dossiê Cinema: criação e reflexão. No. 12, jan-jun, 2015.
    CANTEIRO de obras – São Paulo Companhia de Dança. Diretor: Evaldo Mocarzel. Casa Azul, 2010.
    ENSAIO sobre o movimento – São Paulo Companhia de Dança. Diretor: Evaldo Mocarzel. Casa Azul, 2012.
    LIA RODRIGUES: canteiro de obras. Diretor: Evaldo Mocarzel. Casa Azul, 2010.
    MOCARZEL, Evaldo. Carta de montagem endereçada a Marcelo Moraes. Curitiba, 15 de outubro, 2008 [não publicada].