Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcella Grecco de Araujo (USP)

Minicurrículo

    Marcella Grecco de Araujo é doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), com projeto de tese intitulado “Cleo de Verberena: uma cineasta brasileira”. Possui graduação em Midialogia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pós-graduação em Jornalismo Cultural pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e mestrado em Multimeios, também pela UNICAMP.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre versões de O Mistério do Dominó Preto (1931)

Resumo

    O Mistério do Dominó Preto (1931), de Cleo de Verberena, é um filme silencioso considerado perdido. A sinopse publicada na revista Cinearte antes de sua estreia e imagens divulgadas entre 1930 e 1931 em jornais e revistas do período nos davam uma ideia de seu formato e narrativa. Porém, a recente descoberta das versões literárias em que foi baseado traz novas perspectivas de análise. Proponho uma reflexão envolvendo as três versões escritas de Aristides Rabello e a de Cleo de Verberena.

Resumo expandido

    O período silencioso do cinema é o mais lacunar devido às perdas provocadas pelo tempo e ação do homem. Pela característica da película em nitrato, extremamente inflamável e de fácil deterioração quando não armazenada corretamente, muitos filmes desta época foram destruídos. É fato que alguns escolhiam se desfazer dos filmes depois de esgotadas as exibições, tendo em vista, por exemplo, a dificuldade e o perigo em sua manutenção. Porém, a maior parte das perdas foi resultado do descaso e da falta de politicas públicas para preservação do audiovisual.
    O filme O Mistério do Dominó Preto (1931), de Cleo de Verberena, primeira mulher reconhecida como diretora de cinema no Brasil, está perdido. Levando em consideração os problemas mencionados acima, provavelmente não existe mais. O que eu sabia sobre o enredo do filme tinha como base uma sinopse publicada na revista Cinearte pouco antes de sua estreia. Frames do filme divulgados em revistas e jornais entre os ano de 1930 e 1931 também ajudavam no entendimento da narrativa. Essas imagens e a sinopse publicada na Cinearte podem hoje ser acessadas por meio da hemeroteca da Biblioteca Nacional. Eu sabia que o filme havia sido baseado na novela de mesmo nome de Aristides Rabello, que na ocasião utilizou o pseudônimo Martinho Corrêa. Essas informações e outras relacionada à vida de Cleo de Verberena foram comunicadas por mim no encontro Socine de 2017.
    Busquei por cerca de um ano o romance no qual o filme foi baseado, de forma a preencher algumas lacunas na narrativa. Para minha surpresa encontrei não somente uma, mas três versões do mesmo autor. Uma, intitulada O Mystério do Dominó Preto, publicada na revista O Commentário em 1926, outra, intitulada El Misterio del Dominó, publicada em 1921 na revista argentina La Novela Semanal e a primeira publicada em 1912 no jornal A Noite em forma de cartas. Estou em posse de todas. A primeira versão em específico é muito interessante pois o jornal publicou cartas anônimas de uma pessoa que dizia ter o cadáver de uma mulher fantasiada de dominó preto em seu quarto e sabia quem era o assassino. A pessoa dizia estar enviando a carta ao jornal de forma a fazer o assassino se pronunciar, caso contrário, iria denunciá-lo à polícia. Uma série de cartas, inclusive do assassino, foram publicadas no jornal ao longo de alguns dias, de forma a dar impressão de que se tratava de um caso real. A história desse suposto assassinato ficou bastante famosa na época.
    A descoberta dessa literatura possibilitou o preenchimento de algumas lacunas da história do filme perdido. Quando comparadas as versões de Aristides Rabello e de Cleo de Verberena é possível notar importantes diferenças, especialmente em relação aos finais, que não são os mesmos. Minha proposta para o encontro Socine desse ano é uma análise comparativa entre as diferentes versões, compartilhando conteúdo inédito e promovendo reflexões tais como: o que a descoberta dessa literatura fornece para o entendimento do filme? Em quais aspectos as narrativas divergem e convergem? Como Cleo de Verberena contou o caso de O Mistério do Dominó Preto?

Bibliografia

    CORRÊA, Martinho. O Mysterio do Dominó Preto. In. VEIGA, Miranda. (org.). O Commentário. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1926, v.2.
    O mysterio do dominó preto. Cinearte, Rio de Janeiro, v.6, n. 256, p. 6, 21 jan. 1931. Disponível em: . Acesso em: 7 fev. 2019.
    PRADO, José Maria do. Memórias do cinema paulista: 1896-1981. São Paulo: datiloscrito depositado na Cinemateca Brasileira, 1981.
    RABELLO, Aristides. “El misterio del dominó”. La novela semanal, Buenos Aires, v.5, n.186, 1921.
    ROSA, Ary. “A primeira diretora do cinema brasileiro”. Cinearte, Rio de Janeiro, n. 222, p. 6, 1930. Disponível em: . Acesso em: 17 fev. 2019.
    UM MISTÉRIO?. A Noite, 24 fev. 1912. Disponível em:. Acesso em: 17 fev. 2019.