Ficha do Proponente
Proponente
- Luiza Pires Bastos (UTP)
Minicurrículo
- Luiza Pires Bastos mestranda em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), tem pós-graduação em Gestão e Produção de Rádio e TV pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e graduação em Desenho Industrial Programação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Analista de marketing de marketing na empresa de cosméticos Racco e professora monitora na Universidade Tuiuti. Interesses de pesquisa abrangem a produção cinematográfica japonesa, com foco na animação.
Ficha do Trabalho
Título
- Jornada da Heroína nos Filmes de Animação Japonesa
Resumo
- Propõe a analisar como as heroínas são presentes nos filmes de animação japonesas, sendo tão relevantes como os heróis. Como elas seguem a Jornada de Heroína proposta por Maureen Murdock e Victoria Lynn Schmidt. O problema de pesquisa busca mostrar as diferenças das heroínas japonesas entre si, comparando as animações do Studio Ghibli com as de Satoshi Kon, busca entender como a heroína japonesa se consolidou no ramo. Traz também os conceitos de cinema de animação e narrativa popular japonesa.
Resumo expandido
- Em 1949 o estudioso Joseph Campbell apresentou um modelo que ficou conhecido como Monomito, cujo objetivo era comprovar que os heróis mitológicos seguiam basicamente a mesma jornada; que começava com um chamado e terminava com a recompensa do herói, depois de ter passado por diversos obstáculos. Todavia, em 1990 a estudante Maureen Murdock achou que a Jornada do Herói não contemplada todas as diversidades da mulher moderna, por isso propôs a Jornada da Heroína. Isso porque, nas pesquisas de Campbell o papel da mulher na trama era quase que exclusivo, como uma recompensa ou uma propriedade de uma figura masculina. Na teoria proposta por Murdock, no entanto, a mulher começa sua jornada renegando tudo aquilo que conhece como feminino, pois numa sociedade patriarcal, o feminino representa a inferioridade, dependência e ilusão com o amor romântico. A protagonista usa do masculino para conquistar o mundo, porém, ao perceber que tudo que conquistou é falso devido ao fato de estar “usando” uma identidade falsa, ela renasce e integra o masculino com o feminino, para então retornar da sua jornada.
Dez anos depois dos estudos de Maureen Murdock, a pesquisadora americana Victoria Lynn Schmidt desenhou um arco ainda mais completo. Na pesquisa de Schmidt a heroína está iludida com um mundo perfeito, no qual está protegida pelos homens da sua comunidade. Mas depois de uma traição, o mundo perfeito desmorona e a protagonista decide agir. Do decorrer da jornada, ela é tomada pela vergonha e medo de sua decisão, sentimento que se mantem até conquistar sua primeira vitória. Que também não dura muito, pois os homens se negam a ser comandados por uma mulher e tentam sabotá-la. Sem esperanças, a heroína aceita a derrota. Até que aparece uma ajuda de um terceiro e com isso ela encontra sua verdade força, fazendo-a retornar a jornada e por fim aceitar que sua jornada é para conhecimento interno, e não para reconhecimento perante a sociedade.
Para a presente pesquisa foi usado a teoria de Schmidt, sem excluir, no entanto, alguns conceitos pregados por Maureen. Nos filmes produzidos pelo Studio Ghibli, dirigido por Hayao Miyazaki é possível perceber a presença do arco da heroína, embora em alguns momentos as transições sejam sutis. O que ocorre no filme Serviços de Entrega da Kiki (1989), onde a protagonista Kiki se vê obrigada a viver independentemente com apenas 13 anos. Apesar dos obstáculos iniciais, Kiki acaba sendo bem recebida na cidade onde decide se hospedar, entretanto, perde a esperança ao ver que nem todos os cidadãos são bons. Não se trata de uma sabotagem masculina por medo da ascensão feminina, como prega Schimth, é apenas um conflito interno da própria personagem. Os filmes de Satoshi Kon são ainda mais distantes da teoria. Perfect Blue (1998) conta a história de uma cantora que mesmo contrariada deve iniciar uma carreira de atriz pelo bem estar monetário a sua produtora. O arco é perspectivou até a etapa que a protagonista sente vergonha por ter que gravar uma cena de estupro. Todavia, a partir desse momento, o filme segue uma trama só dele – e até um pouco confusa – onde a protagonista se perde dentro do seu medo interno e retorna em sã consciência apenas ao final do filme. Em Paprika (2006) é perceptível em todas as etapas, principalmente quando Chiba é presa pelo colega que não aceita ser pior que ela. Enquanto o encontro com a deusa se caracteriza por se encontrar com ela mesmo nos sonhos e se redescobrir feminina, trazendo um pouco do conceito de Maureen, onde a protagonista mulher desiste do feminino para retomá-lo apenas ao final. Em Viagem de Chihiro (2001) já começa na etapa da traição, pois Chihiro não queria mudar de cidade devido ao trabalho do pai.
O fato é que apesar de ser usado nos filmes de animações japoneses, o conceito da Jornada da Heroína se encaixa mais com os ideais culturais americanos, Visto que no Japão a heroína se volta desde o inicio mais para compreender a si mesmo do que ser aceita na sociedade.
Bibliografia
- AS HISTÓRIAS PREFERIDAS DAS CRIANÇAS JAPONESAS. São Paulo: Editora JBC, 2005.
BAZIN, André. Alemanha Ano Zero. In. O cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 187-190
CRISTIANE, Sato. Japop: O Poder da Cultura Pop Japonesa. São Paulo: NSP-Hakkosha, 2007.
CONTOS DE FADAS. 2 Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
FOSSATTI, Carolina. Cinema de animação: uma Trajetória marcada por inovações. 2009.
GRAVETT, Paul. Mangá: Como o Japão Reinventou os Quadrinhos. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006.
MIYAZAKI, Hayao. Starting Point: 1979-1996. 4 Ed. San Francisco: VIZ Media, 2016.
MONTAGNANE, Priscila. Narrativa Popular Japonesa: Conceituação e estrutura do mukashi-banashi. Sâo Paulo: Universidade de São Paulo, 2014.
MURDOCK, Maureen. O livro de jornadas da heroína. Boston: Shambhala Pub, 1998
JORNADA DA HEROÍNA: a narrativa mítica da mulher. Disponível em Acessado em 11 de Fevereiro de 2019