Ficha do Proponente
Proponente
- Elizabeth Motta Jacob (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutora em Teatro pela UNIRIO , Mestre em Comunicação Social pela UFF ,DEU em Esthètique: Cinema, Television et Audiovisuel – Université de Paris I Pantheon Sorbonne, Bacharel e Licenciada em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro tendo em todas as teses trabalhado com a questão da Direção de Arte e construção de visualidades. Professora Adjunta do Curso de Comunicação Visual – Design, EBA/UFRJ e Professora e coordenadora do Curso de Pós Graduação em Artes da Cena, UFRJ
Ficha do Trabalho
Título
- Por que não falar de flores? A cor em Amor à flor da pele de Kar-Wai
Mesa
- A poética da cor e da luz no exercício da direção de arte
Resumo
- O objetivo deste artigo é tratar do uso das cores na criação de atmosferas e sensações hápticas no filme Amor à flor da pele de Wong Kar-Wai. Visamos analisar o processo de valorização da superfície e da materialidade da imagem a partir da construção e emprego das cores como elemento expressivo capaz de nos introduzir no universo de experiências sensoriais e sinestésicas.
Resumo expandido
- O objetivo deste artigo é tratar do uso das cores na criação de atmosferas e sensações hápticas no filme Amor à flor da pele de Wong Kar-Wai. Neste filme a trama se articula de maneira sutil e se modela por entre silêncios e ambientes carregados de vivências. O encontro dos protagonistas ocorre quando estes se mudam para quartos em apartamentos vizinhos. Na mudança cruzam-se seus pertences e seus corpos pelos corredores estreitos. Ambos são casados com pessoas ausentes. Diante da solidão forjam-se partilhas cotidianas que vem a construir o encontro amoroso.
Para que isso ocorra, Chang, diretor de arte do filme trabalha volumetrias, espaços confinados e cores capazes sustentar o universo diégético desejado. Para criar essa atmosfera valorizou-se os elementos físicos e materiais que dão a forma do filme. A confluência destes fatores aponta para as conexões mais intimas da trama e das personagens, pela materialização do mundo físico no qual estão inseridos e compõem a atmosfera cativante.No entanto a ação de uma obra assim construída ultrapassa as afetações mentais e nos captura fornecendo uma experiência estética engendrando percepções hápticas.
Em O liso e o estriado, os pensadores franceses afirmam que o liso “é simultaneamente o objeto de uma visão fechada por excelência e o elemento de um espaço háptico. (…)Aloïs Riegl que define a visualidade háptica como aquela que solicita o espectador não apenas através dos olhos, mas, pela sua enorme proximidade, também ao longo da pele. Ele contrapõe a visualidade háptica a uma visualidade óptica. Mostra que enquanto esta última vê as coisas de uma grande distância, tornando possível distinguir claramente suas figuras num espaço profundo; enquanto ela depende de uma clara separação entre o sujeito observador e seus objetos, requerendo distância e um centro, o olhar háptico não possui centralidade. Ele tende a se mover sobre a superfície de seus objetos, ao invés de mergulhar na profundidade ilusionística. Está mais inclinado a se mover do que a focar, opera não tanto para distinguir as formas quanto para discernir texturas (…) Há, portanto, uma valorização da superfície, da concretude, da materialidade da imagem. Enxergá-las é como proceder a uma forma de contato. (GONÇALVES, 2012, p.79-80)
Neste processo de valorização da superfície e da materialidade da imagem a palheta cromática vai nos introduzir num universo de experiências sensoriais e sinestésicas.
A cor tem múltiplas funções no cinema podendo ser usada para dar ritmo ao espaço, determinar zonas ou agrupar itens semelhantes, estabelecer elos entre a espaços e personagens, etc. A cor pode estabelecer códigos que auxiliam na percepção de informações, auxiliar no encadeamento narrativo além gerar atmosferas.
Neste movimento de aproximação e abandono, a palheta cromática vai do bege aos marrons nos exteriores e utiliza cores quentes junto a suas complementares nos interiores.
O figurino da protagonista pontua a relação do casal. Nos espaços estreitos pelos quais ela se esgueira predominam figurinos de cores únicas. Nos interiores, suas vestimentas te estampas geométricas muitas vezes de tons vibrantes contrastantes com as cores dominantes no espaço. No entanto, nos encontros travados entre o casal, seu figurino é preenchido de flores e ganham intensidade quando semi cobertos por capas vermelhas atravessam corredores de cores vibrantes. Em anos que são como flores carece carrega-las em carmesins crescentes mesmo que o momento vivido seja perdido pelas impossibilidades subjetivas.
Bibliografia
- GONÇALVES, Osmar. Narrativas sensoriais http://editoracircuito.com.br/website/wpcontent/uploads/2014/04/osmar_miolo_saida_baixa_2014-05-09.pdf acesso em 20 de março de 2017
GONÇALVES, Osmar. Reconfigurações do olhar: o háptico na cultura visual contemporânea, https://www.revistas.ufg.br/VISUAL/article/viewFile/26551/15145 acesso em 20 de março de 2017
GUMBRECHT, Hans U. Atmosfera, ambiência, stimmmung. Sobre um potencial oculto da literatura
MARKS, Laura U. The Skin of the film: Intercultural cinema, embodiment, and the senses. Durham and London: Duke University Press, 2000.
MARKS, Laura U. Touch: Sensous theory and multisensory media. Mineapolis / London: University of Minnesota Press, 2002.