Ficha do Proponente
Proponente
- ANNA KARINNE MARTINS BALLALAI (ECA/ USP)
Minicurrículo
- Anna Karinne Ballalai é doutoranda no PPGMPA ECA/USP. É membro dos Grupos de Pesquisa do CNPq: História da Experimentação no Cinema e na Crítica (USP), Grupo de Estudos sobre o Ator no Audiovisual (Unicamp) e Historiografia Audiovisual (UFJF). Graduada em Cinema (UFF) e mestre pela UERJ. É atriz, cineasta e pesquisadora. Roteirista, produtora e atriz dos longas “Um homem e seu pecado”(2015) e “Nenhuma fórmula para a contemporânea visão do mundo”(2012). Produtora do curta “Cinebiogravura” (2016).
Ficha do Trabalho
Título
- Corpo e personagem feminina reinventados na trajetória de Helena Ignez
Seminário
- Corpo, gesto e atuação
Resumo
- Este trabalho investiga a trajetória da atriz/cineasta Helena Ignez nas décadas de 1960-70, sob o prisma da reinvenção do corpo e da personagem feminina. Aqui, o foco se dá na análise comparativa da personagem feminina em “O padre e a moça” e “A mulher de todos”. Se tais filmes se opõe em termos de projetos fílmicos e de estilos de encenação; eles se aproximam do ponto de vista do rigor formal de construção de personagens, do protagonismo das figuras femininas e do caráter subversivo das mesmas.
Resumo expandido
- Este trabalho é parte de minha pesquisa de doutorado, desenvolvida no PPGMPA ECA/USP, com orientação do Prof. Titular Rubens Machado Jr. Um dos objetivos é investigar a trajetória artística da atriz e cineasta Helena Ignez no âmbito do cinema moderno no Brasil, com ênfase em sua atuação em filmes da década de 1960-70, sob o prisma da reinvenção do corpo e da personagem femininos. Aqui, o foco se dará na análise comparativa das personagens femininas encenadas por Ignez em dois filmes de diferentes momentos do cinema moderno brasileiro: “O padre e a moça” (Joaquim Pedro de Andrade, 1965) e “A mulher de Todos” (Rogério Sganzerla, 1969) – este último, atento às discussões e reivindicações feministas da década de 1960 e do Maio de 1968, na França. Se, por um lado, tais filmes se afastam em termos dos projetos fílmicos aos quais se vinculam e das estratégias de encenação; por outro, eles se aproximam do ponto de vista do rigor formal da composição de personagens e da direção de atores, do protagonismo das figuras femininas e do caráter subversivo das mesmas. Ambas as personagens, Mariana e Ângela Carne-e-Osso, cada uma a seu modo, e em contextos socioculturais distintos, revelam grande complexidade na discussão do papel da mulher no século XX, no Brasil, chegando mesmo a antecipar questões do século XXI, no caso de “A mulher de todos”, ainda que na chave do humor e deboche. Ambas estão “à frente de seu tempo” e se insurgem-se contra o poder patriarcal, sendo sacrificadas junto a seus amantes ao final da narrativa, como forma de punição por seus gestos transgressores. Partimos da hipótese de que Helena Ignez, ao longo de sua trajetória cinematográfica constitui um projeto atoral para seu cinema, marcado por escolhas de papéis, cineastas, investimentos pessoais e rupturas com certas propostas fílmicas e estilos de encenação. Há que se destacar o trabalho pioneiro do pesquisador Pedro Maciel Guimarães no campo dos Estudos Atorais, no Brasil, e sua defesa pela noção de ator-autor, que ele aplica à Helena Ignez, argumentação cara à nossa pesquisa e que procuramos endossar. A hipótese secundária é a de que este projeto atoral de Helena Ignez além de responder a seus anseios artísticos e criativos, seria atravessado por uma tentativa de reinvenção tanto do corpo quanto das personagens femininas que a atriz vai construir. Longe de insinuar um viés teleológico para as complexas dimensões da vida artística e humana, aqui pretende-se perceber a posteriori certa coerência em termos das escolhas e das apostas artísticas da atriz, que, sem deixar de levar em conta os riscos e limites de cada experiência fílmica, e a ressignificação e revalorização que certas obras vão adquirindo na História do Cinema brasileiro, seriam exemplares de algo que poderíamos definir como uma busca por certa autonomia do ator na criação fílmica e como um tentativa permanente de reinvenção: tanto dos papéis femininos que ela desempenha, quanto do próprio corpo feminino, quanto das propostas ou projetos de cinema brasileiro nos quais ela se insere ou deflagra. Assim, examinar a trajetória cinematográfica de Helena Ignez ao longo da década de 1960 e início da década de 1970, é exemplar para percebemos, ao mesmo tempo, certas mudanças paradigmáticas em termos de propostas de cinema brasileiro moderno que vão se apresentando e da representação da figura feminina neste cinema, em que é notável a reverberação das pautas e discussões dos movimentos feministas ao longo da década de 1960 e do Maio de 1968, na França. Nesta composição sofisticada de personagens está em jogo não apenas amplo domínio de técnicas teatrais e cinematográficas, como um corpo que se reinventa ao longo da década de 1960, procurando paradoxalmente se adaptar e ao mesmo tempo reagir aos novos padrões de beleza e comportamento femininos que emergem no cinema, na publicidade, na moda, nas artes, nas ruas etc. Para além dos atributos físicos, ressaltam sobremaneira a inteligência e a personalidade da atriz.
Bibliografia
- ARAÚJO, Luciana Corrêa de. Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos. São Paulo: Alameda, 2013.
AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto & Grafia, 2008.
BALLALAI, Anna Karinne. O ator-em-ato: a dialética ator/personagem em Copacabana mon amour. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social/UERJ. Rio de Janeiro: 2104.
GUIMARÃES, Pedro Maciel. “Erigir novos corpos, reinventar personas: o ator moderno do cinema brasileiro”. Revista FAMECOS. Vol 21, nº 1. Porto Alegre: 2014, pp. 287-307
HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina. Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.