Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Peixoto Curi (ESPM-Rio)

Minicurrículo

    Doutor pelo PPGCOM-UFF (2015), possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) pela UFRJ (2005) e mestrado em Comunicação pela UFF (2010). Pesquisa temas relacionados à recepção audiovisual, cultura dos fãs, cultura jovem e convergência midiática. Atualmente é professor na ESPM-Rio, onde coordena os cursos de graduação em Cinema e Audiovisual e Jornalismo e a pós-graduação em Produção Audiovisual.

Coautor

    Talitha Gomes Ferraz (ESPM-Rio e PPGCine)

Ficha do Trabalho

Título

    Para além do ingresso: ida ao cinema e a memorabilia

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O modo como o fã da ida ao cinema se relaciona com materialidades de suas vivências faz com que tais objetos exerçam o papel de extensores de experiências que participam de exercícios de nostalgia e podem ser desdobrados na rememoração de determinado evento e na legitimação e distinção do fã entre demais espectadores. Este trabalho busca refletir como os memorabilia do evento indicam novas relações entre frequentadores, salas exibidoras e a experiência de social e afetiva de fruição fílmica.

Resumo expandido

    Fãs de musicais da Broadway colecionam Playbills, admiradores de música clássica guardam os programas dos concertos a que assistiram e até mesmo mochileiros acumulam entradas de museu, canhotos de passagens, cartões de restaurantes e outros artefatos das experiências que viveram. Não importa se alguém é apaixonado por uma série de TV específica, por uma banda, gênero musical ou mesmo um tipo de produção cultural, em todos esses casos, podemos considerá-lo um fã, em um sentido mais amplo. Assim como alguém pode estabelecer esse tipo relação com um único filme, pode também se sentir dessa forma com o cinema, tal como propõe, em linhas gerais, a noção de cinefilia. Nesse caso, o equivalente aos artefatos citados acima, poderiam ser os ingressos dos filmes assistidos, memorabilia da experiência do filme e registro da presença em um momento que não pode ser repetido e o qual não se deseja esquecer.

    Para Janet Staiger (2005a), essa relação que o fã estabelece com o que admira se estende para o seu dia-a-dia. Fãs reúnem e colecionam artefatos e os incorporam ao seu cotidiano e espaço físico, tornando-os parte do mundo material em que vivem. John Fiske (1992), que aplica o conceito de capital cultural, criado por Pierre Bourdieu (2008), na distinção de fãs e na maneira como eles se relacionam com seus objetos de fascínio, defende, no entanto, que a relação dos fãs com o acúmulo de capital é bastante complexa e, algumas vezes, contraditória. Para o autor, uma das formas de capital cultural do fã tem relação com o nível de conhecimento sobre determinado assunto. O acúmulo de capital cultural funciona da mesma forma quando se trata de colecionar artigos materiais, o que torna os fãs, assim como outros grupos de consumidores, ávidos colecionadores. Neste ponto, os capitais cultural e econômico se encontram. Ao adquirir artefatos materiais, o fã aumenta seu poder e se aproxima do objeto que admira. A indústria percebeu isso e passou a produzir meios de dar ao fã acesso a informações e produtos relacionados àquilo que amam.

    Diante desta relação entre as noções de fã e colecionismo, este trabalho tem como foco as práticas de guarda de materialidades conectadas a experiências de ida a cinemas. À luz de teorias sobre memória e memorabilia, nostalgia e cultura de fãs, investigamos como que algumas transformações ocorridas no mercado cinematográfico afetam a relação das pessoas com artefatos vinculados à experiência de ida ao cinema.

    Nossa hipótese é de que tais objetos adquirem hoje novos funcionalidades e significados em vista da iminência ou da já completa desaparição de alguns elementos antes muito perenes e visíveis como, por exemplo, as próprias salas de cinema e os ingressos das sessões (hoje, totalmente digitalizados e armazenados em celulares ou produzidos com um tipo de papel altamente perecível).

    Em torno disso, um mercado ávido, com estratégias de marketing bem precisas, encontra chances de rentabilidade. É neste momento que podemos falar na ideia de “comodificação da nostalgia” (Jeziński e Wojtkowski, 2016). Esta expressão percebe a nostalgia como qualquer outro produto das manifestações mercadológicas contemporâneas, uma ferramenta a serviço da venda e da propaganda, que é usada para a gestão de serviços ou a geração de demandas de mercado. É em vista dessa noção que também pensamos as respostas do mercado cinematográfico às necessidades e desejos de guarda de artefatos por parte dos fãs das práticas de ida ao cinema.

Bibliografia

    AVEYARD, K.; MORAN, A.. Watching films: new perspectives on movie-going, exhibition and reception. Chicago: Intellect, 2013.
    JANCOVICH, M.; FAIRE, L. The place of the audience: cultural geographies of film consumption. London: British Film Institute, 2003.
    Jeziński, M. e Wojtkowski, Ł. Nostalgia Commodified: Towards the marketization of the post-communist past through the new media. Medien & Zeit, n.4, pp. 72-82, 2016.
    LEWIS, L. A. (org.). The adoring audience: fan culture and popular media. New York: Routledge, 2001.
    STAIGER, J.. Media reception studies: New York: New York University Press, 2005a.
    STAIGER, J.. Cabinets of Transgression: Collecting and Arranging Hollywood Images, Particip@tions, Volume 1, n.3, 2005b.