Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Rafael Garcia (Unespar, UFPR)

Minicurrículo

    Alexandre Rafael Garcia é professor, pesquisador e realizador de cinema. Doutorando em História na UFPR, mestre em Multimeios no Instituto de Artes da Unicamp e graduado em Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná (Unespar). É professor de cinema na Unespar e no Colégio Medianeira. Trabalha com produção cinematográfica nas áreas de direção, roteiro, produção e montagem, tendo realizado filmes de curta, média e longa-metragem. Foi fundador e sócio da produtora O Quadro, de 2010 a 2015.

Ficha do Trabalho

Título

    Filmes de conversação: uma proposta

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Este trabalho apresenta a hipótese de “filmes de conversação”. São filmes ficcionais sobre situações mundanas, produzidos com equipes técnicas reduzidas, baixos orçamentos e com total atenção dramática no embate verbal entre personagens. A ação se dá pelo ato da conversa, e não necessariamente por acontecimentos externos e/ou provações físicas. Nomes como Rossellini, Rohmer, Linklater e Sang-soo estão ligados a estas produções e compartilham características estéticas, narrativas e de produção.

Resumo expandido

    Esta comunicação apresenta a hipótese de “filmes de conversação”. São filmes que possuem características comuns, em termos estéticos, narrativos e de produção, mas não possuem um “manifesto” ou uma definição clara já publicada. A crença aqui defendida é que Éric Rohmer é o maior representante do que podemos chamar de “filmes de conversação”: um tipo de filme ficcional sobre situações banais, produzido com equipe técnica reduzida, baixo orçamento e com total atenção dramática no embate verbal entre personagens. Nestas obras, a ação se dá pelo ato da conversa, e não necessariamente por acontecimentos externos e/ou provações, como é de costume na dramaturgia clássica (geralmente, um personagem que precisa lutar contra forças externas maiores).
    Do começo da década de 1960 a 2007, Rohmer produziu filmes que investiram fortemente no potencial das conversas; não no sentido de contar uma história exclusivamente com palavras, mas no gesto de valorizar e investigar as minúcias da fala, da eloquência, da pronúncia, do gaguejar, do silêncio e das reticências por meio do cinema.
    Rohmer não ignorava a tradição do teatro e da literatura, que trabalham com a fala e a ficção há centenas de anos a mais que o cinema. Ele sempre se confessou herdeiro direto das letras, trabalhando a partir dessas referências e trazendo para seus filmes a necessidade de uma linha narrativa (o roteiro) rigorosamente estruturada, dedicando seus esforços à escrita tanto quanto à direção cinematográfica (a encenação). “[Um filme] ter muitos diálogos não o faz “literário” ou “teatral”. Diálogo de cinema é completamente diferente do diálogo em uma peça. É muito específico do cinema” (ROHMER, 2006). A sua originalidade está em investigar o aparente paradoxo entre o que os personagens dizem (linguagem oral) e o que eles pensam e fazem.
    Uma das pedras fundamentais para este tipo de filme é “Viagem à Itália” (1954), de Roberto Rossellini. A obra apresenta um casal inglês que passa alguns dias no sul da Itália e em meio às diferenças culturais enfrenta uma crise conjugal. A questão da linguagem dos personagens se faz presente, no contraste entre o inglês e o italiano, mas também no que é dito e no que é pretendido entre o próprio casal. As motivações para o casal estar na Itália são secundárias; não há grandes fatos nem reviravoltas narrativas; centro de força do filme é o embate conjugal que se evidencia, cristalizados pelas conversas que os personagens têm.
    O ápice da popularidade deste tipo de filme é a trilogia de Richard Linklater: “Antes do amanhecer” (1995), “Antes do pôr do sol” (2004) e “Antes da meia-noite” (2013). As obras apresentam um casal, que discute sobre sua relação (quase em tempo real) em três décadas diferentes. Durante os filmes, conhecemos e nos comovemos com os personagens pelas coisas que eles falam que vivem e viveram, e não necessariamente pelo que vemos eles viver. Este é um dos encantos neste tipo de filme.
    Talvez o maior representante hoje seja Hong Sang-Soo, diretor da Coréia da Sul, que, desde 1996, produz sistematicamente filmes muito próximos às características consolidadas por Rohmer.
    Esta comunicação serve como questionamento à própria hipótese dos “filmes de conversação”. O objetivo deste projeto é criar uma definição e identificar uma genealogia para tais obras, identificado suas origens e seus desdobramentos, da Era de Ouro de Hollywood à contemporaneidade, passando pelos “novos cinemas” no fim da década de 1950. Para tanto, enumera-se características comuns a estas obras:
    1, os fatos narrativos são mundanos. 2, a ação majoritária do filme é a conversa entre personagens. 3, é uma obra ficcional. 4, o roteiro é original (não adaptado da literatura ou do teatro, por exemplo). 5, possui baixo orçamento.
    A crença é que as características estéticas, narrativas e de produção estão unidas, por motivações deliberadas, e consolidam este tipo específico de obra, que podemos chamar de “filmes de conversação”.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A Teoria dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004a.
    AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2008b.
    BAZIN, André. O que é o cinema?. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
    BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz. Campinas: Papirus, 2008.
    BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.
    GARCIA, Alexandre Rafael. Contos morais e o cinema de Éric Rohmer. 2014. 156 p. Dissertação (Mestrado em Multimeios) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
    LEIGH, Jacob. The Cinema of Eric Rohmer: Irony, Imagination, and the Social World. New York: Continuum, 2012.
    ROHMER, Éric. Moral tales, filmic issues: entrevista em DVD, 2006. Criterion Collection, 2006.
    ROHMER, Éric. The taste for beauty. New York: Cambridge University Press, 1989.
    WARBURG, Aby. A renovação da Antiguidade pagã: contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu. Rio de Janeiro: Contrapon