Ficha do Proponente
Proponente
- Miriam de Souza Rossini (UFRGS)
Minicurrículo
- Doutora em História (UFRGS) e Mestre em Cinema (USP). Graduada em Jornalismo (PUCRS) e em História (UFRGS). Professora Associada do Departamento de Comunicação e do PPG em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do Grupo de Pesquisa Processos Audiovisuais (PROAv – UFRGS). Bolsista Produtividade do CNPq. Autora de artigos e capítulos de livro sobre cinema brasileiro, cinema e história e sobre as relações entre televisão e cinema no Brasil.
Ficha do Trabalho
Título
- Economia da dádiva como marca na produção de cinema para web
Resumo
- Partindo de mapeamento e entrevistas feitos para a pesquisa Cinema dos Novos Tempos: experimentação de formatos audiovisuais narrativos e a circulação em múltiplas telas, desenvolvido no PPGCOM/UFRGS, a proposta é discutir o modelo de financiamento das produções audiovisuais ficcionais para web, a partir da discussão teórica sobre a Economia da Dádiva, e o modo como esse modelo repercute no cinema brasileiro de baixo orçamento, moldando um projeto político-estético para essas produções.
Resumo expandido
- Partindo do mapeamento e das entrevistas feitos para a pesquisa Cinema dos Novos Tempos: experimentação de formatos audiovisuais narrativos e a circulação em múltiplas telas, a proposta deste trabalho é discutir o modelo de financiamento das produções audiovisuais ficcionais para web, a partir da discussão teórica sobre a Economia da Dádiva, e o modo como esse modelo repercute no cinema brasileiro de baixo orçamento. A pesquisa, que analisa a produção e a circulação de filmes ficcionais brasileiros na Web, é financiada pelo CNP e realizada pelo Grupo de Pesquisa Processos Audiovisuais, junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. Também integra o PROCAD/2013 – Jovens e consumo midiático.
O conceito de Economia da Dádiva foi desenvolvido por Marcel Mauss, nos anos 1920, para explicar práticas sociais de trocas que não envolviam a questão monetária em sociedades não-capitalistas, ou ditas primitivas. Aos poucos, o conceito foi sendo expandido para pensar muitas outras atividades dentro das próprias sociedades modernas e capitalistas, como as ações beneficentes, de cunho social, ou até mesmo as ações do Estado voltadas para o bem-estar e o desenvolvimento social (como o ensino público e gratuito e a o sistema público de saúde).
Segundo Paulo Henrique Martins (2005), a grande contribuição de Marcel Mauss foi demonstrar que o valor das coisas não pode ser superior ao valor da relação e que o simbolismo é fundamental para a vida social. A partir dessa ideia é que se torna importante fazer essa aproximação entre cinema e economia da dádiva, pois é reconhecer que as sociedades, sejam elas do tipo que forem, são fundamentadas em diferentes tipos de trocas, que não podem ser definidas apenas pelo seu valor monetário. Para o capitalismo, que transforma tudo e todos em commodities, passíveis de serem quantificados em valores monetários, o resgate da filosofia de Marcel Mauss e a sua aplicação à análise do cinema abre a possibilidade de novos entendimentos das escolhas que são feitas pelos realizadores.
Esse conceito nos ajudou a problematizar as formas de financiamento que encontramos ao longo da pesquisa. Chamou-nos atenção a quantidade de produção realizada praticamente sem financiamento, ou contando apenas com a disponibilidade financeira dos próprios membros do grupo. Em grupos amadores, esta forma de autofinanciamento é bastante comum, mas nem todos os grupos que trabalham assim podem ser definidos como amadores. Alguns são profissionais experientes, mas que buscam uma forma de diversificar suas atividades ou produzir algo sem os limites de alguma empresa. Ao tentar estabelecer uma forma de categorizar esses múltiplos modos de custear a produção (seja pelo autofinanciamento, ou pelo financiamento colaborativo, ou de até mesmo pelas trocas de favores), encontramos um conceito que abarcava todos esses modelos de financiamento, estendendo-se até mesmo àqueles públicos (via editais, leis de incentivo) ou privados (apoios). É a economia da dádiva, ou do dom. Discutir essa dimensão econômica como parte de um projeto político-estético é a proposta deste artigo, e também de meu próximo projeto de pesquisa, recentemente aprovado no CNPq.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Magia e técnica. Arte e política. 7ed. 10ª. reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 1996 (obras escolhidas, vol. 1).
BERTINI, Alfredo. A Economia da Cultura. A Indústria do Entretenimento e o Audiovisual no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2008.
DIEGUES, Carlos. O que é ser diretor de cinema. Rio de Janeiro: Record, 2004.
IKEDA, Marcelo. O novíssimo cinema brasileiro. Cinéma d´Amerique Latina, n.20, 2012, p. 136-149.
MARTINS, Paulo Henrique. A sociologia de Marcel Mauss: dádiva, simbolismo e associação. Revista crítica de ciências sociais. Coimbra, 2004.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. São Paulo: Cosac Naif, 2013.
OLIVEIRA, Maria Carolina Vasconlos. O lugar dos independentes: práticas e representações de independência a partir da observação do “novíssimo” cinema brasileiro. Anais do 39º Encontro Anual da Anpocs, 2015.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. Estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005.