Ficha do Proponente
Proponente
- Maíra Norton (PPGE UFRJ)
Minicurrículo
- Doutoranda em Educação do PPGE/UFRJ e integrante do CINEAD/UFRJ. Mestre em Ciências das Artes pela UFF e graduada em Rádio e TV pela ECO/UFRJ. Autora do livro Cinema Oficina: técnica e criatividade no ensino do audiovisual, Eduff: 2013. Desde de 2007 oferece oficinas de cinema em escolas, comunidades e espaços culturais. Integrante do Coletivo Feminista M.A.R. onde organiza o Cine Mulher, cineclube de filmes dirigidos por mulheres com exibições em Paraty
Ficha do Trabalho
Título
- Oficina de cinema com mulheres: na busca por uma pedagogia feminista
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- O caráter pedagógico do cinema se encontra na possibilidade de fabulação e recriação do mundo. No entanto, essa reorganização criativa do mundo a partir das imagens se deu predominantemente sob o prisma da desigualdade sexual, racial e social. De que maneira então o debate sobre gênero se apresenta dentro do campo de cinema e educação? Temos por objetivo investigar as possibilidades de trabalhar sob uma perspectiva feminista as experiências pedagógicas das oficinas de cinema com mulheres.
Resumo expandido
- O movimento feminista e a luta das mulheres por igualdade de direitos vêm crescendo nos últimos anos. Dentro do cinema também podemos perceber uma maior organização para enfrentar essas desigualdades, seja através de coletivos de mulheres realizadoras, cineclubes voltados para exibição de filmes dirigidos por mulheres, coletivos de mulheres críticas de cinema, em ações como editais especiais para mulheres e paridade de gênero na comissão de seleção do Fundo Setorial Audiovisual.
O caráter pedagógico do cinema se encontra, dentre outros aspectos, na possibilidade de fabulação e recriação do mundo, das histórias individuais e coletivas. No entanto, o cinema é marcado historicamente pelo ponto de vista do homem branco. Essa reorganização criativa do mundo a partir das imagens se deu predominantemente sob o prisma da desigualdade sexual, racial e social.
Segundo relatório emitido pela Ancine, dos filmes longa metragens lançados comercialmente em salas de exibição em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens branco e apenas 19,7% foram dirigidas por mulheres brancas. Se a discrepância é alarmante, quando adotamos uma perspectiva interativa entre raça e gênero os dados são estarrecedores. Apenas 2, 1% foram dirigidos por homens negros e nenhum filme exibido em salas de cinema em 2016 foi dirigido ou roterizado por uma mulher negra. Na história do cinema nacional temos apenas dois longa-metragem exibidos comercialmente dirigidos por mulheres negras: Amor Maldito (Adelia Sampaio, 1984) e O Caso do Homem Errado (Camila Morais, 2018).
Pesquisas do GEMAA/UERJ apresentam um exame detalhado das representatividades dos grupos sociais na produção cinematográfica, mostrando que entre as produções nacionais de maior bilheteria dos últimos dez anos, mulheres negras representaram apenas 4,4% do elenco dos principais filmes de longa-metragem. As mulheres brancas ocupam cerca de 34% dos personagens principais e embora tenham uma maior representatividade, não estão livres dos estereótipos de gênero e da hipersexualização.
O Teste Bechdel-Wallace aponta a enorme dificuldade em encontrar filmes que tenham pelo menos duas personagens mulheres com nomes e que conversem entre si sobre um assunto que não seja sobre um homem. O que pareceria ser um teste fácil de passar conseguiu evidenciar a raridade de filmes que atendam a condições básicas de representatividade feminina.
Diante das desigualdades na realização e a sub-representação das mulheres no cinema, é preciso refletir sobre o impacto dessas imagens na construção de sujeitos, principalmente nos espaços educativos em que atuam a maior parte dos projetos de cinema e educação. Como afirma Geena Davis: “quanto mais filmes e programas de TV uma garota assiste, menos opções ela pensa que tem na vida”.
De que maneira então o debate sobre gênero se apresentam dentro do campo de cinema e educação, na elaboração das propostas de oficinas, na seleção dos filmes que são exibidos, na divisão das tarefas das equipes no momento da realização de exercícios práticos?
Buscamos pesquisar as possibilidades e maneiras de se trabalhar a desigualdade sexista dentro das oficinas de cinema, não só na apreciação dos filmes e no debate sobre representatividade dos personagens mas também na elaboração de dispositivos que poderiam fazer emergir experiências de sororidade e fortalecimento das mulheres.
Temos por objetivo mapear e refletir sobre as experiências de oficinas de cinema com mulheres que vem se ampliando no cenário nacional e investigar as possibilidades e maneiras de trabalhar sob uma perspectiva feminista as experiências pedagógicas com o cinema.
Bibliografia
- ANCINE. Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016.
CANDIDO, Marcia e JUNIOR, João Raça. Gênero no Cinema Brasileiro (1970-2016). Boletim GEMAA, n.2, 2017.
FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013
CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no brasil. São Paulo: Selo Negro Edições, 2011
HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina (orgs.) Feminino e plural: Mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017
MAIA, Carla. Sob o risco do gênero: clausuras, rasuras e afetos de um cinema com mulheres. Tese de Doutorado, PPGCOM/UFMG, 2015
NORTON, Maíra. Cinema Oficina: técnica e criatividade no ensino do audiovisual. Niterói: Eduff, 2014
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. BH: Letramento, 2017.
SOUZA, Edileuza. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade. Tese de doutorado, PPGE/UNB. 2013