Ficha do Proponente
Proponente
- Sávio Luis Stoco (USP)
Minicurrículo
- Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP) – linha de pesquisa História, Teoria e Crítica / bolsista FAPEAM. Mestre em Artes Visuais (IA-Unicamp). Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criação (Senac). Graduado em Comunicação Social – Jornalismo (UFAM).
Ficha do Trabalho
Título
- O genocídio no rio Putumayo em filmes da Amazônia brasileira e peruana
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Resumo
- Seis filmes realizados por Silvino Santos durante 1910 e 1920 tematizaram a região do oriente peruano no contexto das acusações de tortura e extermínio de indígenas trabalhadores na região do Rio Putumayo ou Içá. Essas produções foram demandadas pela elite comercial do Peru e do Brasil. Os filmes em questão são Rio Putumayo (1913), Indios witoto do rio Putumayo (1916), Scenas amazônicas (1919), O oriente peruano (1920), Amazonas, maior rio do mundo (1920) e No paiz das Amazonas (1922).
Resumo expandido
- Seis filmes realizados por Silvino Santos durante 1910 e 1920 tematizaram a região do oriente peruano no contexto das acusações de tortura e extermínio de indígenas trabalhadores na região do Rio Putumayo ou Içá. Essas produções foram demandadas e financiadas por membros da elite comercial do Peru e do Brasil ligados ao extrativismo do látex. Tal criminalização levou aos tribunais londrinos a principal empresa peruana de extração de caucho, financiada por capital inglês, a Peruvian Amazonian Company (PAC), que tinha o empresário peruano Julio Cesar Arana como seu maior acionista. As notícias desse massacre repercutiram internacionalmente, sendo muito noticiadas nos periódicos manauenses, capital diretamente relacionada ao comércio do caucho peruano por ser um importante interposto do trajeto que levava a produção extraída no oriente peruano ao oceano Atlântico, pela calha do rio Amazonas. Com o desdobramento das acusações, Arana contratou em 1912 o fotógrafo Silvino Santos, então instalado na capital amazonense, para a produção de um álbum fotográfico registrando a visita de inspeção da comissão londrina. Após esse trabalho, o empresário enviou o fotógrafo para uma estada de quatro meses em Paris para aprender a técnica cinematográfica, com objetivo de produzirem o filme Rio Putumayo (1913) que serviria de comprovação da inocência do caucheiro. Esse filme perdeu-se em um naufrágio, mas sabemos que teve como tema principal a descrição da extração do caucho, das particularidades da paisagem local e dos indígenas peruanos persistiu no repertório do cineasta. Após, foram lançados nos cinemas de Manaus – e alguns chegando a serem vistos em Belém e São Luis – Indios witoto do rio Putumayo (1916), Scenas amazônicas (1919) e O oriente peruano (1920). Sendo esses dois últimos chancelados pela produtora amazonense Amazônia Cine-film (1918-c.1920), de propriedade de seringalistas amazonenses. Também integram os filmes que relacionam-se ao crimes no Peru os longas-metragens Amazonas, maior rio do mundo (1918-1920) e No paiz das Amazonas (1922). Apesar de não tematizarem aquela região peruana como um dos assuntos principais, esses dois filmes também devem ser incluídos no grupo de filmes que se envolveram no caso, já que incluíram sequências, mesmo que curtas, em que as etnias daquela região foram representadas. Destes seis filmes, apenas o último, No paiz… não é considerado perdido. Analisamos as narrativas desse repertório fílmico, sobretudo por meio de descrições publicadas na imprensa amazonense nas colunas cinematográficas, publicidades e pela autobiografia do cineasta. Assim, compreendemos que essas narrativas não tematizaram diretamente as denúncias, até porque buscaram apresentar uma mensagem apaziguadora da região peruana, enfatizando a produção extrativista e os rituais indígenas, dedicando-se a exibir cenas de normalidade sem menção alguma aos relatos das atrocidades. Dessa maneira compreendemos que esses filmes atenderam à curiosidade visual despertada pelas notícias de parte da população que frequentava as salas de cinema, escamoteando a questão central do genocídio. Um discurso pacificador correlato, elaborado pelo meio cinematográfico, é identificado anteriormente tendo como meio difusor a fotografia. O produtor de parte dessas imagens também foi Silvino Santos, como dissemos anteriormente, contratado em 1912 pela PAC para a produção de um álbum, recentemente republicado no Peru em edição fac-símile (2013). Trata-se de um episódio delicado na memória do cineasta, tanto que o documentário que monumentaliza a figura de Silvino, O cineasta da Selva (1997), optou por representar seu personagem principal praticamente alheio ao fato. Na historiografia relativa ao cinema latino-americano ou a dedicada ao cineasta esses seis filmes não costumam ser relacionados em torno do genocídio do rio Putumayo, a não ser o primeiro deles, diretamente financiado pela PAC.
Bibliografia
- CHIRIF, Alberto; CHAPARRO, Manuel Cornejo; TORROBA, Juan de la Serna (coord.). Álbum de Fotografías: Viaje de la Comisión Consular al Rio Putumayo y Afluentes – agosto a octubre de 1912. Lima: Tierra Nueva, 2013.
CHIRIF, Alberto; CHAPARRO, Manuel Cornejo (org.). Imaginario e imágenes de la época del caucho: los sucesos del Putumayo. Lima: CAAAP, 2009.
COSTA, Selda Vale da. Eldorado das ilusões: cinema & sociedade: Manaus (1897-1935). Manaus: Edua. 1996.
MORETTIN, Eduardo Vitório. Tradição e modernidade nos documentários de Silvino Santos. In: PAIVA; SCHVARZMAN. (org.). Viagem ao cinema silencioso do Brasil. RJ: Beco do Azougue, 2011.
SANTOS, Silvino. Romance da minha vida. Manuscrito (Museu Amazônico, Manaus), 1969.
SOUZA, Marcio. Expressão Amazonense: do colonialismo ao neo-colonialismo. São Paulo: Alfa-Omega, 1978.
TAUSSIG, Michael. Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem: um estudo sobre o terror e a cura. São Paulo: Paz e Terra. 1993.