Ficha do Proponente
Proponente
- Aida Rodrigues Feitosa (UnB)
Minicurrículo
- Mestre Comunicação pela Universidade de Brasília coma dissertação de mestrado intitula-se: “ Poética da Rua: Estética do meio ambiente urbano em imagens de cineastas negros.” Graduada em Comunicação, com habilitação em jornalismo, pela mesma universidade. Possui experiência em produção audiovisual, assessoria de imprensa, jornalismo ambiental e cultural. Tem com áreas de interesse: estética, teoria do cinema e teoria dos cineastas.
Ficha do Trabalho
Título
- Contra esteriótipos: Cinema negro no Brasil e nos Estados Unidos
Seminário
- Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações
Resumo
- Em grande parte da cinematografia do Brasil e dos Estados Unidos, as imagens das pessoas negras tem se alternando entre a inexistência ou a representação estereotipada. A presente comunicação pretende analisar como o cinema feito por pessoas negras surge como uma reação à essa sub-representação e busca uma estética própria e múltipla.
Resumo expandido
- Na história da cinematografia do Brasil e dos Estados Unidos, grande parte das imagens das pessoas negras tem se alternando entre a inexistência ou a representação estereotipada. Como consequência, essa apresentação dificulta a formação de um imaginário audiovisual da população negra com personagens múltiplas e complexas, o que contribui para a manutenção, ou até mesmo, a intensificação de práticas sociais racistas. Entendendo que o imaginário é uma construção social, a exposição sistemática dos sujeitos a imagens limitadoras de pessoas negras cria ideias e padrões estéticos em que o belo, o bom ou o sublime se ligam a pessoas brancas. As pessoas negras se tornam assim feias, más, sem caráter ou espírito no imaginário das pessoas que assistem a essas imagens, sejam os espectadores brancos ou negros.
Iniciativas individuais e movimentos coletivos de cineastas têm feito esforços de
produção de outras imagens e sons propondo um cinema negro, em que seja destacada a centralidade da pessoa negra tanto em frente como atrás das câmeras. Num primeiro momento, o cinema negro surge como uma reação à sub-representação das personagens negras, do cinema mudo às produções dos grandes estúdios de Hollywood, nos Estados Unidos, e da Vera Cruz, no Brasil, seguindo, até os dias atuais, em grandes produções de estúdios e também naquelas consideradas independentes.
Os estereótipos, ou seja, imagens de personagens planos e subalternizados, das
imagens negras são encontrados tanto nos Estados Unidos como no cinema brasileiro. Preto
Velho, Mãe Preta, Mártir, Negro de Alma Branca, Nobre Selvagem, Negro Revoltado, Negão,
Malandro, Favelado, Crioulo Doido, Mulata Boazuda, Musa, Afro-Baiano são as imagens
apresentadas por João Carlos Rodrigues em seu livro O negro brasileiro e o cinema (2011).
No livro Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History of Blacks
in Films, Bogle (2016) nomeia, logo no título, os estereótipos negros no cinema norteamericano.
Podemos fazer um comparativo das imagens apresentados por Bogle (2016) com
as de Rodrigues: Tom ou Tio Tom (Tom / Uncle Tom) poderia ser o Preto Velho, velho negro
com característica servil e pacífica; Coon seria o Crioulo Doido, um palhaço ou bufão que
entretém a plateia com seus trejeitos engraçados e infantis; Mullatoes seriam as Mulatas, que,apesar do sucesso sexual, não encontram pertencimento familiar; Mammies se aproximam da Mãe Preta, uma velha serviçal que cuida de todos na casa dos senhores, e também se aproxima do Crioulo Doido por suas esquetes cômicas; e, Bucks seriam os negros revoltados que lideram lutas pela liberdade e pelos direitos civis.
O cinema, mesmo com seu aparato tecnológico, é fenômeno humano e, como tal, está
imbricado nos arranjos da vida social. Por isso, não há espanto em perceber que uma
sociedade racista gera um cinema majoritariamente racista. Brasil e Estados Unidos
experimentaram práticas coloniais que moldaram suas sociedades com consequências para as relações entre europeus e africanos que se mantêm até os dias de hoje. É o fazer cinema pelas próprias pessoas negras que outras imagens e sons são criadas e possibilita desafiar os esteriótipos e construir um imaginário e uma estética múltipla e livre para a população negra.
Bibliografia
- BOGLE, Donald. Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History
of Blacks in Films. 5 ed. Boston: Bloomsbury Academic, 2016.
DE, Jeferson. Dogma feijoada: o cinema negro brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2005
DIAWARA, Manthia. “Black American Cinema: The New Realism”. In: DIAWARA, Mathia
et al. Black American Cinema. New York: Routledge, 1993.
SHOHAT, Ella e STAM, Robert. Crítica da Imagem Eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
GONZALEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco Zero,
1982.
GURRERO, Ed. Framing Blackness: The African American Image Film. Philadelphia:
Temple University Press, 1993.
HALL, Stuart; SOVIK, Liv (orgs). Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo
Horizonte: Editora UFMG. Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
RODRIGUES, João Carlos. O Negro Brasileiro e o Cinema. Rio de Janeiro: Pallas 2011.