Ficha do Proponente
Proponente
- Ivana Bentes (UFRJ)
Minicurrículo
- Ivana Bentes é professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuante na área de comunicação, mídia, audiovisual e cultura. É professora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFRJ e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D. Autora de Mídia-Multidão: Estéticas da Comunicação e Biopolíticas (Ed. Mauad. 2015)
Ficha do Trabalho
Título
- Tropical Underground: A noção de Trópico em filmes-manifestos
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- A teoria de diferentes cineastas/filmes sobre a noção de trópico se articula com um pensamento brasileiro moderno e contemporâneo, no qual o cinema sai do gueto para constituir um arsenal teórico e estético potente e crítico, mesmo que distópico, acerca do Brasil. A conceituação desse “tropical underground” a partir de filmes-manifestos e teorias vindas dos próprios cineastas no período dos anos 60/70 no Brasil. Vamos apresentar filmes-sínteses desses trópicos pelo avesso e suas teorias.
Resumo expandido
- Os Trópicos são um território simultaneamente real, imaginário, simbólico, extremamente produtivo, mas também problemático e que se tornou objeto da produção de discursos que vão desde a as doenças tropicais até o movimento tropicalista, passando pelo cinema marginal ou underground que constituiu um tropicalismo pelo avesso, muito mais virulento e menos solar. Como poderíamos descrever e conceituar esse “tropical underground” a partir de filmes-manifestos e teorias vindas dos próprios cineastas? O cinema marginal seria esse “lado B” do tropicalismo musical? Uma vertente “marginália” que na música e na cultura foi encarnada por Torquato Neto, Capinan, Tom Zé, Rogério Duarte, nomes cuja trajetória e atitude mais agressiva e errática se aproximam da atitude marginal/underground/experimental do cinema e das teorias de Rogério Sganzerla, José Agripino de Paula, Júlio Bressane, dos trópicos pelo avesso nos anti-documentários de Arthur Omar.
A idéia de um multitropicalismo com diferentes tendências, entre elas essa aproximação com o “marginal” (poesia marginal, cinema marginal) nos parece produtiva na análise de alguns filmes desse período, de difícil catalogação. Hitler do Terceiro Mundo, de José Agripino de Paula (1968), Meteorango Kid, o Herói Intergalático (1968), de André Luis de Oliveira, Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, Família do Barulho, de Júlio Bressane, 1970, Capitão Bandeira contra Dr. Moura Brasil, de Antonio Calmon, (1971), Câncer, de Glauber Rocha, 1968/1972, Triste Trópico (1974), de Arthur Omar, momentos de radicalizações de procedimentos estéticos e teóricos.
A proposta é apresentar a teoria de diferentes cineastas/filmes sobre a noção de trópico e articular com um pensamento brasileiro moderno e contemporâneo, no qual o cinema sai do gueto para constituir um pensamento potente e crítico, mesmo que distópico, acerca do Brasil.
Podemos falar de filme-síntese dessa relação, marginália e marginal, que transforma o método carnavalesco e a tropicologia em uma teoria da montagem, como o Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, de 1968. O Bandido da Luz Vermelha faz o inventário de procedimentos da antropofagia, da chanchada, do Cinema Novo, do tropicalismo e do Cinema Marginal. Um “filme de cinema”, como se anuncia nos letreiros iniciais ou um filme-demonstrativo de processos cinematográficos inventivos. No seu manifesto “Cinema Fora da Lei”, Sganzerla define o filme como “um far-west sobre o III Mundo. Vamos analisar a noção de trópico nesse filme e suas filiações e bifurcações.
O Pop-apocalíptico e Objetos Não Identificados. Nessa mesma linha, de uma ruptura e inflexão à quente, nos anos 60 e 70, apontamos outros filmes radicais, filmes que mantém, até hoje, uma estranheza desconcertante. Filmes pouco vistos, mas que subsistem como uma estética potencial, como filmes-manifestos: Hitler do Terceiro Mundo (1968), de José Agripino de Paula, Meteorango Kid, o herói intergalático (1968), de André Luiz Oliveira, Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, A Família do Barulho (1970) de Júlio Bressane, A Margem, de Ozualdo Candeias, Bang Bang, de Andrea Tonacci, os primeiros filmes de Carlos Reichenbach, alguns filmes de José Mojica Marins, Triste Trópico (1974), de Arthur Omar, filmes que dialogam mas também ultrapassam o tropicalismo solar.
Se o tropicalismo musical teve uma repercussão imediata, o percurso do Cinema Marginal e experimental dos anos 60 e 70, é subterrâneo, reprimido, rasurado, tornado invisível até hoje. Um conjunto de filmes, entretanto, capaz de criar uma linha potencial dentro do cinema e da cultura brasileira, uma dobra no tropicalismo, com temas e procedimentos comuns, mas radicalizando e valorando o estranho, a violência, uma brasilidade agressiva, fragmentada, estilhaçada, caótica, de “segunda mão”, mistura desequilibrada de celebração e autodepreciação que os torna ainda mais contemporâneos.
Bibliografia
- BENTES, Ivana. Multitropicalismo, Cine-sensação e Dispositivos Teóricos. In: Carlos Basualdo (org) São Paulo: Editora Cosac Naify, 2007.
FAVARETTO, Celso Tropicália: alegoria, alegria. São Paulo: Kairós 1979
OMAR, Arthur. “O Anti-Documentário Provisoriamente” Revista Vozes 1972
XAVIER, Ismail. in O avesso do Brasil. Texto publicado no Suplemento Mais! da Folha de São Paulo, 19/01/1997.
PAULA, José Agrupino de PanAmérica. Ed. Papagaio, 2001. (1ª edição 1967, Ed. Tridente)
RAMOS, Guiomar. Um cinema brasileiro antropofágico? (1970-74). São Paulo: Annablumme. 2008.
SGANZERLA, Rogério Texto-manifesto “Cinema Foira da Lei” escrito para o lançamento do filme, em 1968 Acesso em 09/05/2018 http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/rogerio-sganzerla/influencias/?content_link=1
SGANZERLA, Rogério. in “Helena – a mulher de todos – e seu homem “/ O Pasquim entrevista Rogério Sganzerla e Helena Ignez. Publicado em O Pasquim número 33, de 5-11 de fevereiro de 1970)