Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Fumeo Almeida (UFRGS)

Minicurrículo

    Doutorando no PPGCOM-UFRGS. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo e mestre em Comunicação e Informação pela mesma instituição. Integra o Grupo de Pesquisa em Processos Audiovisuais – PROAv-UFRGS. Bolsista CAPES.

Coautor

    Vanessa Kalindra Labre de Oliveira (UFRGS)

Ficha do Trabalho

Título

    Trânsitos narrativos e produtivos entre pornochanchada e telenovela

Resumo

    Esse trabalho tem por objetivo analisar os trânsitos narrativos e de profissionais entre a pornochanchada e a telenovela, ocorridos na década de 1970. Considerando-os enquanto gênero cinematográfico comercial e de produção teledramatúrgica, respectivamente, leva-se em conta tanto suas especificidades quanto o contexto social, político e cultural que criou as bases para a existência desse diálogo.

Resumo expandido

    Os anos de 1970 foram decisivos para o design produtivo do audiovisual brasileiro. Enquanto as pornochanchadas se estabeleciam enquanto o grande exemplo cinematográfico de cultura popular de massa do período, como destaca Flávia Seligman (2000), as novelas passavam por um importante processo de modernização, gerando um novo entendimento sobre teledramaturgia e estética aplicada à TV (FILHO, 2003). Ainda que as telenovelas e as pornochanchadas sejam muito distintas, há certa proximidade em termos de modelo de produção, o que justifica, em partes, o trânsito narrativo e de profissionais entre esses diferentes campos, objeto de interesse deste trabalho.
    Surgida entre fins dos anos 1960 e início dos 1970, a pornochanchada foi associada a uma ideia de gênero cinematográfico que dava destaque a um humor marcado pela ambiguidade, pelo duplo sentido, pelo erotismo e pela crítica de costumes comportamentais. Ao ressignificar cinematograficamente elementos presentes em diversas formas de entretenimento popular, como o teatro de revista, o circo e o rádio, além de atualizar a dinâmica humorística urbana das chanchadas dos anos 1940 e 50, a pornochanchada apresentou unidade própria e uma produção regular de filmes, contribuindo para a época de maior ocupação de mercado interno do cinema nacional: de 1972 a 1982, 30% dos ingressos vendidos no país (cerca de 120 de um total de 350 milhões) eram destinados a sessões de cinema que exibiam filmes brasileiros (SIMÕES, 2007).
    Outro importante produto massivo na década de 1970 foi a telenovela, principalmente aquela desenvolvida na Rede Globo de Televisão. No período, sob a responsabilidade de Daniel Filho, a teledramaturgia sofreu grandes transformações: passou a explorar temáticas nacionais e adaptações da literatura brasileira por meio de personagens menos maniqueístas e uma estética mais realista, além de propor um processo de produção mais ágil e industrial, enaltecendo sua qualidade técnica como diferencial no mercado — características que contribuíram com o desenvolvimento do que ficou conhecido como um padrão de qualidade da emissora (FILHO, 2003; OLIVEIRA SOBRINHO, 2011).
    Ainda que sob perspectivas comerciais e estéticas distintas, a telenovela e a pornochanchada partilham de algumas singularidades, dentre elas: certas estruturas narrativas, através do enfoque nos dramas pessoais e o uso de elementos do cotidiano urbano; os modos de produção, a partir de uma realização ágil e uma estética realista; além do trânsito de profissionais, como o autor e roteirista Silvio de Abreu, o ator Nuno Leal Maia, a atriz Sônia Braga e o ator, produtor e diretor de pornochanchadas Carlo Mossy, todos com intensa experiência em ambos os setores.
    Assim, partindo da análise dos modos narrativos e de produção adotados pela pornochanchada em sua construção enquanto gênero cinematográfico comercial ao longo dos anos 1970, bem como da produção teledramatúrgica do período, o presente trabalho problematiza as marcas deste deslocamento e o contexto social, político e cultural que criou as bases para a existência deste diálogo.
    Esta proposta é um braço comum das pesquisas de doutorado dos autores: a primeira, analisa o cinema popular brasileiro por meio da produção cinematográfica de Daniel Filho, responsável pela modernização da teledramaturgia brasileira e pela direção e produção de algumas das maiores bilheterias do cinema nacional contemporâneo, e a segunda analisa a representação das relações interpessoais sociais nas pornochanchadas brasileiras das décadas de 70 e 80 e conta com auxílio de bolsa CAPES. Ambas são desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM-UFRGS), sob orientação da Prof.ª Drª Miriam de Souza Rossini.

Bibliografia

    ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2002.
    AMANCIO, Tunico. Pacto cinema-Estado: os anos Embrafilme. Revista ALCEU – v.8, n.15, jul./dez. 2007.
    FILHO, Daniel. O Circo Eletrônico: fazendo TV no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
    ORTIZ, Renato. A Moderna Tradição Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1991.
    OLIVEIRA SOBRINHO, José Bonifácio de. O livro do Boni. Rio de Janeiro: casa da palavra, 2011.
    RAMOS, Jose Mario Ortiz. Cinema, Estado e Lutas Culturais: Anos 50, 60, 70.
    Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
    ______________________. Televisão, Publicidade e Cultura de Massa. Petrópolis: Vozes, 1995.
    SIMÕES, Inimá. Sexo à brasileira. Revista ALCEU – v.8, n.15, jul./dez. 2007.
    SELIGMAN, Flávia. O “Brasil é feito pornôs”: o ciclo da pornochanchada no país dos governos militares. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Pós-Graduação, São Paulo, 2000.