Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Palmireno Couto Moreira Neto (UNICAMP)

Minicurrículo

    Palmireno Couto Moreira Neto é graduado em Cinema e Audiovisual (UFF), pós-graduado (lato sensu) em Cinema Documentário (FGV-RJ), mestre em Literatura Comparada (UFRJ) e doutorando em Teoria e História Literária (UNICAMP). Dirigiu o ensaio fílmico O ato de criação (Brasil, 2014).

Ficha do Trabalho

Título

    A Casa: Mário Peixoto e o ensaio fílmico

Resumo

    Situado na Ilha Grande, em Angra dos Reis, o Sítio do Morcego possui uma edificação construída no período colonial onde o cineasta e escritor Mário Peixoto tentou, sem sucesso, criar um museu e realizar um filme na década de 1970. A apresentação abordará a trajetória de Mário na região, o roteiro e o material fotográfico produzido para o filme, comparando esse projeto cinematográfico a concepções contemporâneas de documentário subjetivo e ensaio fílmico.

Resumo expandido

    Apesar de haver concluído apenas “Limite” (1931), Mário Peixoto escreveu diversos roteiros ao longo de sua vida. Entre esses projetos cinematográficos inacabados, está “A Casa”, filme planejado na década de 1970 cujo tema era o Sítio do Morcego (situado na Ilha Grande, em Angra dos Reis), propriedade na qual Mário reformou uma edificação construída no período colonial, a Casa do Morcego, onde também morou durante várias décadas e tentou construir um museu. Para o filme, o cineasta contratou um fotógrafo que produziu cerca de 300 slides, registrando a paisagem natural, o cotidiano dos moradores da região, o próprio sítio e as obras de arte e antiguidades que formariam o acervo do museu pretendido. Contudo, devido a problemas financeiros, o projeto não foi finalizado. Apesar disso, o roteiro e os slides foram guardados por ele e, após a sua morte, por Arleu Valle da Silva. Com a incorporação do espólio intelectual do cineasta ao Arquivo Mário Peixoto na década de 1990, o material foi levado para a instituição.
    Diante da potência de “Limite” e das possibilidades de análise oferecidas pela produção literária de Mário, a crítica dedicada à sua obra apenas tangenciou algumas questões relacionadas ao Morcego. No entanto, o local exerceu sobre o cineasta e escritor uma atração comparável ao seu fascínio pelo cinema e pela literatura: “o sítio parece ter assumido, para Mário, um papel quase místico: a atividade literária e poética declinou, o desejo de filmar tornou-se menos intenso” (MELLO, 1996, p. 39-40). Considerando alguns aspectos desse apelo, esta pesquisa busca compreender a forma cinematográfica planejada por Mário em sua tentativa de incorporar o Morcego ao seu domínio artístico na década de 1970, ressaltando a proximidade entre esse projeto cinematográfico e concepções contemporâneas de documentário subjetivo e ensaio fílmico.
    No cinema, a produção vinculada à exploração de temas considerados pertinentes à não ficção é normalmente classificada como documentário, gênero construído a partir de noções ontológicas e epistemológicas que vinculam o estatuto da imagem fílmica a noções de verdade e realidade. Avaliando as características do filme planejado por Mário, certamente poderíamos inscrever “A casa” na tradição do cinema documentário. Poderíamos até mesmo afirmar que o filme, se realizado de acordo com a proposta apresentada no roteiro, anteciparia uma das tendências contemporâneas do documentário brasileiro: o documentário subjetivo, que se volta para o exame de aspectos da subjetividade do próprio realizador (LINS; MESQUITA, 2008). Entretanto, também seria possível aproximar o projeto de Mário de um outro gênero delimitado pela crítica cinematográfica: o ensaio fílmico. Embora ainda não esteja tão consolidado quanto o documentário, trata-se de um gênero formulado a partir de uma proposta comparativa entre a produção cinematográfica e literária (CORRIGAN, 2011). Para essa análise final, serão considerados especialmente as definições de ensaio estabelecidas por Aldous Huxley (1966), Max Bense (2014), Theodor Adorno (2003), Jean Starobinski (2011) e Alfonso Berardinelli (2011), bem como a problemática sobre a formação de tradições ensaísticas distintas apontada John Sullivan (2015).

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: Notas de literatura I. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003, p. 15-45.
    BENSE, Max. O ensaio e sua prosa. serrote, São Paulo, n. 16, 2014.
    BERARDINELLI, Alfonso. A forma do ensaio e suas dimensões. Remate de Males, Campinas, v. 31, n. 1-2, p. 25-33, 2011.
    CORRIGAN, Timothy. The essay film: from Montaigne, after Marker. Oxford: Oxford University Press, 2011.
    HUXLEY, Aldous. Preface. In: _____. Collected essays. Nova York: Bantam Books, 1966, p. v-ix.
    LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Filmar o real. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, edição digital.
    MELLO, Saulo Pereira de. Breve esboço de uma cinebiografia de Mário Peixoto. In: MINISTÉRIO DA CULTURA; CASA DE RUI BARBOSA. Limite: Mário Peixoto. Rio de Janeiro, 1996, p. 4-47.
    STAROBINSKI. Jean. É possível definir o ensaio? Remate de Males, Campinas, v. 31, n. 1-2, p. 13-24, 2011.
    SULLIVAN, John. Essai, essay, ensaio. serrote, São Paulo, n. 19, p. 131-145, 2015.