Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    MARIANA DE ALMEIDA FERREIRA (PPGCLC-Unama)

Minicurrículo

    Mestranda e bolsista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da Unama (PPGCLC-Unama). Especialista em Produção Audiovisual. Graduada em Comunicação Social pela UFPA. Integrante do projeto de pesquisa Figurações da Vulnerabilidade: linguagens do sofrimento, políticas do comum, coordenado pelo Prof. Dr. Leandro Lage. Tem como área de interesse estudos de televisão e audiovisual, com foco em estilo televisivo, estratégias de produção e comunicação em teledramaturgia.

Ficha do Trabalho

Título

    Telenovelas brasileiras, mulheres e o problema da drogadição

Resumo

    A telenovela ocupa espaço significativo na Academia como objeto de estudo e nessa investigação nos propomos a discutir as relações que ela estabelece com a realidade social do país, tendo como suporte o gênero do melodrama, e como essa conexão se dá na abordagem de problemáticas como a drogadição a partir de personagens femininas: Mel, de O Clone (2001), Santana, de Mulheres Apaixonadas (2002) e Larissa, de Verdades Secretas (2015), considerando as relações de gênero constituídas nesse processo.

Resumo expandido

    A telenovela vem ocupando espaço significativo na Academia como objeto de estudo e nessa investigação propomos-nos a discutir as relações que ela estabelece com a realidade social do país, tendo como suporte o gênero do melodrama, e como essa conexão se dá na abordagem de problemáticas como a drogadição a partir de personagens femininas: Mel, de O Clone (2001), Santana, de Mulheres Apaixonadas (2002) e Larissa, de Verdades Secretas (2015). Para isso, buscamos a compreensão do papel da ficção ao abordar e discutir aspectos da realidade e do melodrama como gênero formador das telenovelas, que colabora para essas construções narrativas e relações de gênero. Esse percurso nos permitirá entender a presença da drogadição como um problema representado com significativa frequência nas tramas desde a década de 80.
    Compreendendo a telenovela como espaço privilegiado de incorporação e cruzamento de temáticas ancoradas na realidade, partimos do questionamento levantado Motter (2002): como a ficção telenovelística e a realidade brasileira estão entrelaçadas? Como se dá essa construção da ficção na telenovela a partir da realidade? Para essa discussão, recorremos a Feldman (2008) com seu trabalho sobre o apelo realista nos produtos audiovisuais. Para a autora, a presença desses “efeitos de real” nas narrativas do espetáculo é um modo simbólico de “reengajamento” e “reintegração” dos sujeitos à realidade (FELDMAN, 2008, p. 62) a partir da experiência mediada. E sobretudo a Rede Globo, produtora das telenovelas escolhidas para este trabalho, tem desenvolvido efeitos de real cada vez mais eficazes, sem abrir mão do melodrama como gênero que percorre e fornece a base dessas narrativas.
    Assim, conhecer e entender a origem e a construção do melodrama e como ele se mescla às telenovelas é fundamental para chegarmos à análise dos objetos propostos. O melodrama é um gênero encenado para fazer o público rir e chorar, para transmitir valores morais da sociedade. É o que veicula o pranto, “inspirando a piedade e o temor necessários para atuar como catarse legítima de tais emoções” (OROZ, 1999) e conquistar o público espectador com narrativas compostas por convencionalismos sociais, definindo assim a relação entre gosto popular e moral social (OROZ, 1999, p. 34). Ao chegar às telas de cinema, no entanto, o melodrama é logo associado ao universo feminino – algo que ocorreu também às soap operas norteamericanas e às radionovelas latinoamericanas, estendendo-se às telenovelas. Para Oroz (1999), “a relação melodrama/mulher gera a desqualificação sexual do gênero, assim como o gosto popular por este gera sua desqualificação de classe” (OROZ, 1999, p. 60). Mas ainda que o melodrama e consequentemente a telenovela sejam até hoje alvos de desvalorização, Hamburger (2007) assinala o papel das telenovelas brasileiras na redefinição dos limites entre “espaços masculino e feminino, político e doméstico, público e privado, texto e contexto, teoria e prática” (HAMBURGER, 2007, p. 161). Ao misturar ficção com notícias, principalmente a partir das décadas de 70 e 80, as telenovelas estabeleceram-se como repertório compartilhado em que a verossimilhança depende da apropriação de elementos cotidianos.
    Nesse contexto, a drogadição passa a ser inserida nas telenovelas como um problema que atinge homens e mulheres, abordado principalmente a partir de suas consequências morais, de destruição de laços afetivos e marginalização social desses seres. Mas como as mulheres são inseridas e retratadas nesse âmbito ficcional da drogadição nas telenovelas? Propomo-nos a analisar, de forma geral, as personagens Mel, Santana e Larissa buscando compreender a relação entre gênero e drogadição nas telenovelas. O fato de essas personagens terem recebido reconhecimento nacional (e internacional) pela abordagem do tema, em detrimento de personagens masculinos como Cristiano (Celebridade) e Danilo (Passione), já é um indicativo dessa relação de gênero com a temática e a telenovela.

Bibliografia

    FELDMAN, Ilana. O apelo realista. Revista Famecos, n. 36. Porto Alegre, 2008.
    HAMBURGER, Esther. Telenovela e interpretações do Brasil. Revista Lua Nova. São Paulo (82), 2011, p. 61-86.
    ____. A expansão do feminino no espaço público brasileiro: novelas de televisão nas décadas de 1970 e 80. Estudos feministas. Florianópolis, 2007, p. 153-175.
    LEAL, Ondina Fachel. A leitura social da novela das oito. Dissertação de mestrado em Antropologia Social (UFRGS). Porto Alegre, 1983.
    MOTTER, Maria Lourdes. O que a ficção pode fazer pela realidade? Jornal da USP, n. 599. São Paulo, 2002, p. 75-79.
    OROZ, Silvia. Melodrama: o cinema de lágrimas na América Latina. Ed. Funarte. 2ª ed. Rio de Janeiro, 1999.
    PALLOTTINI, R. Dramaturgia de televisão. São Paulo. Editora Perspectiva, 2012.
    XAVIER, Ismail. Melodrama, ou a sedução da moral negociada. Revista Novos Estudos, n. 57. São Paulo, 2000, p. 81-90.