Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Andrei Maurey (PUC-Rio)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação Social (PUC-Rio), Pós-Graduado em Comunicação e Imagem pela PUC-Rio (2016), Pós-Graduado em História da Sociedade Brasileira pela UVA (2015), Pós-Graduado em Roteiro para Cinema e TV pela UVA (2013), Graduado em Cinema pela UNESA (2011). É integrante do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Movimentos Sociais e Mídia, da IUPERJ. Tem experiência na área de estudos de Ideologia, Televisão e Cinema, Ficções Seriadas, Estrutura Narrativa, Estrutura Dramática e Roteiro.

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMA E VIOLÊNCIA: O TEATRO POLÍTICO DO MEDO NO FILME ALEMÃO (2014)

Resumo

    Ao lançarmos o olhar para o cinema brasileiro contemporâneo, nota-se muitas questões envolvendo a violência e a vida urbana. Segundo John Thompson, a ideologia é o sentido atrelado às formas simbólicas no intuito de manter e sustentar relações de dominação. Com o objetivo de desvelar essa reprodução ideológica no cinema, tomamos o filme Alemão (2014) para discutir como suas formas simbólicas agem num processo de solidificação do imaginário social acerca da violência na cidade do Rio de Janeiro.

Resumo expandido

    Para John B. Thompson (2009), a ideologia é o sentido atrelado às formas simbólicas no intuito de manter e sustentar relações de dominação. Distanciando-se de uma perspectiva neutra de ideologia, o autor norte-americano se debruça sobre os modos com que as formas simbólicas se entrecruzam com as relações de poder e como o sentido impulsiona o mundo social, servindo para reforçar essas relações de dominação. E há inúmeras maneiras para isso, principalmente ao prestarmos atenção à interação entre sentido e poder nas instâncias da vida social, isto é, através dos modos de operações gerais da ideologia, atrelados a estratégias típicas de construção simbólica. Eles são: Legitimação, Dissimulação, Unificação, Fragmentação e Reificação.
    Nosso artigo tem por objetivo verificar esses modos de operações da ideologia sendo reproduzidos nas formas simbólicas do filme Alemão (2014). Afinal, é inegável que o medo e a violência ocupam um notório espaço nas narrativas representadas pela mídia em geral (televisão, rádio, internet, jornalismo). A forma como essas narrativas são constantemente representadas, reforçando significados que corroboram com práticas sociais e políticas, inclusive imbuídas de inúmeros valores e crenças, nos leva a questionar: quais estratégias estariam por trás dessas narrativas? Que formas simbólicas da violência legitimam e justificam essas práticas?
    Em muitos assuntos representados pelo cinema em geral, pode-se encontrar discursos frequentemente travestidos de interesse público, assinalando a violência como algo que deva ser combatido através de ferramentas e medidas que somente protegem os privilégios de uma classe hegemônica. As camadas populares, orientadas por essas constantes notícias e representações, defendem, em sua maioria, essas ideias, acreditando fielmente se tratar de um fenômeno caótico, capaz de ser solucionado unicamente através dessas estratégias. Com isso, reproduz-se a consciência engessada dessa elite, cujos propósitos favorecem unicamente seus interesses particulares e não os de caráter universal.
    Há interesse em acabar com a violência? Podemos apontar, por exemplo, os diversos benefícios materiais de seu alastramento no tecido social, criando e desenvolvendo novos mercados, tais como câmeras de segurança, armas de curto e grosso calibre, portões de ferro, blindagem em veículos e imóveis, sistemas de alarmes, segurança particular, a especulação imobiliária através da gentrificação de espaços públicos, a criação de shopping centers gigantescos para atender às crescentes demandas de compras em locais seguros, etc. De antemão, indagamos: se por si só, o medo e a violência são responsáveis por mover vastos mercados, cujos lucros nem ousamos calcular, a quem interessa o fim da guerra ao narcotráfico?
    No mundo contemporâneo, a enorme quantidade de informações veiculadas pela imprensa transforma a experiência, colocando-nos em direto contato com a violência, “como se estivéssemos lá”, como se todos os acontecimentos cotidianos fizessem parte da nossa realidade individual. Além disso, o medo é imposto e difundido verticalmente através de um teatro midiático. O medo, portanto, ganha novas proporções à medida que é moldado em paralelo com as perspectivas de implementação de um modelo neoliberal, fabricando uma “crise da segurança pública”. Se a adesão ao crime é algo existente, de difícil combate e visivelmente presente no cotidiano das grandes cidades, o caminho para transformá-lo em algo caótico é mais fácil, recebendo em troca o apoio da população para a implantação de políticas de lei e ordem.
    Por fim, com a análise do filme, iremos observar como os policiais e os bandidos são retratados, em busca de uma reprodução ideológica que sustente relações de dominação de classe, que tipo de violência é representada e quais fatores da narrativa apontam para o combate à essa violência urbana através de medidas sociopolíticas que defendem apenas os interesses da minoria dominante.

Bibliografia

    BATISTA, Vera Malaguti. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
    _____________________. “O alemão é muito mais complexo”. In: BATISTA, Vera Malaguti (org.). Paz armada. Rio de Janeiro: Revan/ICC, 2012.
    MENEGAT, Marildo. Estudos sobre ruínas. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2012.
    MISSE, Michel. “Violência e Participação Política no Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro, IUPERJ, Série Estudos, n.91, agosto de 1995.
    OLIVEN, Ruben. Violência e cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010.
    THOMPSON, John. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
    VELHO, Gilberto; ALVITO, Marcos. Cidadania e violência. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2000.
    ZIZEK, Slavoj. Violência – seis notas à margem. Lisboa: Relógio D’água Editores, 2009.