Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Hideki da Silva Nakamura (UFG)

Minicurrículo

    Bacharel em Audiovisual pela Universidade de Brasília. Entre 2015-2017, cursei “Direção Cinematográfica” na Escola de Cinema Darcy Ribeiro (graduação interrompida). Durante esse período, trabalhei como editor de vídeo em produtoras audiovisuais e projetos independentes. Mestrando em Performances Culturais (PPGIPC/UFG), onde desenvolvo um projeto de pesquisa que investiga o conceito de performance no documentário brasileiro contemporâneo e as possíveis contribuições dos estudos em Performance.

Ficha do Trabalho

Título

    O dispositivo “performance” no documentário de Eduardo Coutinho

Resumo

    O presente trabalho propõe uma aproximação entre o emergente campo de Estudos em Performance e o pensamento teórico sobre o Documentário, a partir da análise de uma seleção de filmes do documentarista Eduardo Coutinho, os procedimentos utilizados durante a realização, seu pensamento sobre o cinema documentário e o modo particular de interlocução com as personagens de seus filmes, em que a performance surge como conceito-chave, dispositivo e perspectiva metodológica.

Resumo expandido

    A história do documentário no Brasil reserva ao cineasta Eduardo Coutinho uma posição privilegiada. Sua obra é objeto de interesse acadêmico, expresso em vasta produção acadêmica e crítica, que se debruçou na análise do seu modo de fazer e pensar o cinema documental. A partir de Cabra Marcado para Morrer (1964/1984), considerado por pesquisadores e críticos um marco do documentário brasileiro, Coutinho prosseguiu cultivando profundo interesse pela experimentação da forma e dramaturgia documentárias, em contraponto ao modelo estético dominante desde o início dos anos 1960, de forte viés sociológico. Naturalmente, este amadurecimento não se deu de forma linear, porém gestou um estilo: a ressignificação da função da técnica de entrevista, a opção pela improvisação e espontaneidade, a autonomia conferida às personagens dos seus filmes, co-criadores da obra, principalmente, no seu entendimento do “documentário como encontro”. Seja realizando uma imersão na realidade de um determinado grupo/comunidade ou dispensando roteiros de perguntas e pesquisa prévia das personagens, Coutinho norteou sua atividade em favor de uma “ética do documentário” em relação aos sujeitos, suas histórias e biografias. A partir de uma escuta apurada, as personagens documentárias exprimem desejos, angústias e afetos mediados pela performance da fala. Através da fala e outros elementos constitutivos da oralidade (corpo, gesto, voz e palavra), exercitam/ensaiam a faculdade humana de narrar e contar histórias. É nesse complexo sistema que o presente estudo buscará compreender de que maneira a performance surge como um conceito e “dispositivo” acionado pelos participantes da experiência fílmica compartilhada ou experimento-filme (diretor, equipe, personagem e espectador), para refletir sobre aspectos da vida cotidiana (família, sociedade, comunidade etc.) e assim reconstruir coletivamente memórias e autoimagem. De anônimos a pessoas. De pessoas a personagens e, por fim, a performer-personagens de si. O teórico Ismail Xavier interpela os documentários de Coutinho, principalmente os que integram a última fase de sua produção, a partir da seguinte questionamento: “reconhecimento definitivo do documentário como jogo de cena”? Performance como denominador comum para a proposição de um estudo que conjugue campos distintos: Cinema Documentário e Performances Culturais podem estabelecer diálogos profícuos, mas ainda pouco explorados no âmbito da pesquisa acadêmica. Bauman e Briggs creem no “potencial da pesquisa orientada para a Performance para questionar noções sobre a natureza da performatividade e o seu papel na vida social”. O performer é aquele sujeito que incorpora linguagens e processos manifestos de uma cultura e sua estética, linguagem, gestos, metáforas, expressões, tensões, sentidos e dimensões, em seus modos de criação e recriação cultural. Compreender, a partir da análise das obras selecionadas de Eduardo Coutinho, como se opera a transformação da personagem documentária à performer-personagem. Para isso, este trabalho parte da sistematização proposta por Bill Nichols no que tange aos “tipos” de documentário, em especial, o “modo perfomático” e na análise da obra de Eduardo Coutinho empreendida por Consuelo Lins, Ismail Xavier, Mariana Baltar e Claudio Bezerra. Neste último, atenta-se para a forma como a obra de Eduardo Coutinho pode ser interpelada por meio do conceito de performance na obra “A personagem no documentário de Eduardo Coutinho”. A definição de Performance, proposta por Richard Schechner, assim como a noção de “autorepresentação do eu”, em Erving Goffmann e “arte verbal como performance” em Bauman norteiam a pesquisa e apontam possíveis contribuições dos estudos em Performances para a reflexão emergente sobre performance de si no documentário brasileiro contemporâneo.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. A nova-velha dramaturgia da performance do documentarista. 2013. Disponível em .
    BAUMAN, Richard. Verbal art as performance. American Anthropologist. New Series. v. 77, n. 2, p. 290- 311, jun. 1975.
    BAUMAN, Richard ; BRIGGS, Charles L. “Poetics and Performance as Critical Perspectives on Language and Social Life.” Annual Review of Anthropology, 1990, Vol. 19: 59-88. Disponível em .
    BEZERRA, Cláudio. A personagem no documentário de Eduardo Coutinho. Campinas, SP: Papirus, 2014. 144 p.
    LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: Televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
    SCHECHNER, Richard. Performers e Espectadores: Transportados e Transformados. In Revista Moringa Artes do Espetáculo. Vol2. N1 (2011).
    XAVIER, Ismail. “Indagações em torno de Eduardo Coutinho”. Cinemais, n° 36, out-dez., Rio de Janeiro, pp. 221-235.