Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Manuela de Mattos Salazar (UFPE)

Minicurrículo

    Manuela de Mattos Salazar, mestre em Comunicação pela UFPE, possui graduação em Jornalismo pela UFPR, e especialização em jornalismo digital pela AESO. manuela.msalazar@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    Vanitas: decomposição da matéria, recomposição do tempo

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Analisaremos quatro obras de filme e fotografia que dialogam com o gênero vanitas das naturezas mortas, ao discutirem a decomposição da matéria, por meio de estratégias de aparente decomposição e recomposição do tempo e do movimento. Acelerações, paradas e desacelerações concedem outra dimensão visual aos objetos retratados ao engendrarem tempos sui generis: o estático devém movimento, a morte devém vida e a poesia visual se desprende nestes paradoxos.

Resumo expandido

    Visamos aqui continuar a investigação iniciada na comunicação de 2017 a respeito da temporalidade em obras visuais contemporâneas que discutem a tradição do gênero das naturezas mortas. Transposições entre estática e movimento, acelerações e desacelerações, estratégias de montagem como time lapse e loop, além novas tecnologias de captação de imagens engendram camadas de um tempo elástico que foge da ideia do instantâneo ou da linearidade.

    Matéria do tempo e tempo da matéria: os artistas que vamos pesquisar nesta comunicação discutem a decomposição da matéria, por meio de estratégias de aparente decomposição e recomposição do tempo e do movimento, herdadas dos primeiros experimentos de Marey ou Muybridge e da evolução dos meios cinematográficos e fotográficos. Nas obras a serem estudadas, acelerações, paradas e desacelerações concedem outra dimensão visual aos objetos retratados ao engendrarem tempos sui generis: o estático devém movimento, a morte devém vida e a poesia visual se desprende nestes paradoxos.

    Pesquisaremos inicialmente quatro trabalhos: os filmes Still Life (2001) e A Little Death (2002) da artista americana Sam Taylor-Johnson (na época, Sam Taylor-Wood), o filme Domestic Nature Morte (2004), da artista finlandesa Saara Ekström e a série de fotografias Stilleben (2001-2007) do fotógrafo alemão Michael Wesely. Em comum, como dissemos acima, estes trabalhos discutem a decomposição da matéria. Em Ekström, o trabalho projetado em grande escala na parede mostra uma travessa com tomates que, conforme montagem em loop acelerado, amolecem, se desmancham e apodrecem para em seguida, em um processo de inversão, se tornarem novamente suculentos. Similarmente, em Still Life de Taylor-Johnson, em uma renascentista travessa, pêssegos se decompõem de maneira acelerada através de uma montagem em time lapse. Já em A Little Death, uma lebre sofre um violento processo de decomposição sobre uma mesa, parecendo movimentar-se no processo. Por fim, o trabalho de Weseley mostra, a partir de sua técnica de longuíssimas exposições, o processo de decadência e decomposição de arranjos florais, ao longo de períodos como uma semana, em apenas uma imagem fotográfica.

    “O vídeo de Taylor-Johnson retoma as históricas naturezas mortas de Flandres, que convidavam as pessoas a contemplarem a passagem do tempo. Aqui, os espectadores veem o tempo acelerar em sua frente” (PETRY, 2013, p. 186). Em todos os trabalhos que vamos pesquisar, pretendemos investigar, além das contradições temporais, as suas relações com a tradição da vanitas. De fato, nestas obras, a elasticidade temporal parece demonstrar a própria realização do ideal deste tipo de natureza morta: ser um espaço de contemplação da passagem inexorável do tempo, e a inevitabilidade da morte. Na vida, a eternidade da matéria é inalcançável, mas na natureza morta as coisas são eternas enquanto imagens. Vamos, portanto, investigar estas composições, decomposições e recomposições do tempo e da matéria, a fim de contemplarmos o lugar que ocupam na tradição pictórica das naturezas mortas, e as diferentes temporalidades que engendram, em um contexto contemporâneo de apreço à ruína, de objetos e matérias que jamais se degradam, e de um impulso de contemplação de imagens de morte.

Bibliografia

    BRYSON, Norman. “Looking at the Overlooked – Four Essays on Still Life Painting”. London, 2012.
    DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas: Papirus, 1993
    ____. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2013 (e-book)
    DELEUZE, Gilles. A Imagem-Movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985
    ____. A Imagem-tempo. São Paulo, Brasiliense, 2005
    ____. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 2012
    FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea – Entre o cinema, o vídeo e as novas mídias
    FONT-RÉAULX, Dominque de. “Painting and Photography – 1839-1914”. Paris, Flammarion,
    LISSOVSKY, Maurício. A máquina de esperar – Origem e estética da fotografia moderna. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.
    PETRY, Michael. Nature Morte – Contemporary artists reinvigorate the Still-Life tradition. Nova York: Tahmes & Hudson, 2013.
    Obras:
    TAYLOR-JOHNSON, Still Life (2001)
    TAYLOR-JOHNSON, A Little Death (2002)
    EKSTROM, SAARA, Domestic Nature Morte (2004)
    WESELY, Michael, Stilleben (2001-2007)